Orós sangra após 15 anos

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Foto: Honório Barbosa

Depois de 15 anos de espera, o açude Orós, o segundo maior do Ceará, começou a transbordar. Eram 10h20min de ontem, quando uma lâmina fina de quatro centímetros lavou a parede do sangradouro. A sangria atraiu de imediato, centenas de moradores e foi comemorada com gritos de “viva” e queima de fogos. Para o próximo final de semana, a expectativa é que milhares de pessoas da região visitem o reservatório.

Até a construção do Castanhão, o Orós era o maior reservatório do Ceará com capacidade de acumular 2 bilhões de metros cúbicos. Os funcionários do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) acompanharam a todo instante a subida do nível das águas. A primeira leitura, realizada às 7 horas da manhã de ontem mostrou que faltavam apenas nove centímetros para ocorrer a sangria tão esperada. “Ficamos monitorando a cada minuto”, disse o servidor Domingos de Castro. “A expectativa era grande”. As pessoas não paravam de ligar para o escritório do Dnocs, localizado no sangradouro. Radialistas e curiosos queriam saber o nível das águas a cada hora. A linha ficou congestionada. A notícia da sangria espalhou-se rapidamente pelas emissoras de rádio da região. O escritório regional da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), colocou um funcionário ao lado do sangradouro, no mirante, para informar a cada cinco minutos o comportamento das águas. Pessoas simples, empresários, políticos, moradores de Orós e de outras cidades foram assistir ao momento de transbordamento das águas. “Há muito tempo que a gente esperava por esse momento”, disse o empresário José Alves de Oliveira, dono da rede de lojas Zenir, de eletrodomésticos. O vereador Aderilo Alcântara, ao lado do filho, Tales de 8 anos, também saiu de Iguatu e foi ver a sangria do açude. Tales observou: “É um mar de água sem ondas”. Era a primeira vez que visitava o açude.

A sangria do açude Orós foi festejada em toda a região. Por toda a tarde de ontem centenas de pessoas permaneceram na parede e no mirante assistindo ao espetáculo da sangria. Houve necessidade de controle do tráfego de veículos. Hoje, a previsão é que o açude transborde com uma lâmina de 30 centímetros e a tendência é aumentar nos próximos dias já que o rio Jaguaribe voltou a registrar uma elevação em seu nível. O vai-e-vem de pessoas representaram ganho extra para os mototaxistas e até para o proprietário de Kombi que transformou o veículo em uma condução.

Construção é da década de 60

O sangradouro do açude Orós tem uma largura de 150 metros e são 14 vãos de sangria. Iniciado em 1963, foi concluído em 1965. Nas cheias de 1974 e 1985 chegou a transbordar com uma lâmina superior a cinco metros. No final da tarde de ontem estava sangrando com 15 centímetros. A última vez que o Orós sangrou foi num período também atípico, dezembro de 1989. Essa é a primeira vez que o reservatório transborda no mês de fevereiro, quando regularmente as chuvas estão começando.

A construção do açude foi iniciada em 1958, pelo então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Na época, era ministro de Viação e Obras Públicas, Lúcio Martins Meira, e diretor geral do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), José Cândido Pessoa. Em 1960, ocorreu uma grande cheia. O Rio Jaguaribe transbordou e provocou o arrombamento do reservatório. O presidente Juscelino Kubitschek determinou o reinício da obra e o açude foi inaugurado em janeiro de 1961. A construção do então maior reservatório do Nordeste foi fruto de uma luta da região. O jornalista e escritor Demócrito Rocha escreveu um poema sobre o rio Jaguaribe para justificar a construção da barragem. “O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta por onde escorre e se perde o sangue do Ceará”, diz os versos iniciais. A idéia na época era que o açude iria minimizar os efeitos da seca. O presidente comprou a idéia e construiu a obra que tem capacidade de acumular dois bilhões de metros cúbicos.

Honório Barbosa
Sucursal Iguatu