Ilhas de umidade no sertão nordestino

A Mata Atlântica, uma das 25 prioridades mundiais para a conservação da biodiversidade, inclui esses brejos de altitude do Semiárido

Escrito por Redação ,
Legenda: Na Serra da Pacavira, em Pacoti, há uma área preservada com três mil árvores Foto: Cid Barbosa

O Brasil é um país de muitas paisagens e de paisagens dentro de paisagens; de riquezas desconhecidas, ameaçadas e que precisam ser preservadas para garantir os serviços ambientais essenciais à própria existência humana em seu território.

Semiárido brasileiro, por exemplo, envolve uma área aproximada de 788.064Km², equivalentes a 48% do Nordeste e a 9,3% do Brasil. Situado na sua quase totalidade no Nordeste, abrange, exceto o Maranhão, todos os outros Estados da região e, ainda, o norte de Minas Gerais. Apresenta médias anuais elevadas de temperatura (28ºC) e evaporação (2.000 mm) e chuvas de total anual moderado (250-800 mm).

No contexto geoecológico do Semiárido, no entanto, há ocorrência de ambientes de exceção, verdadeiras "ilhas verdes" no domínio do bioma Caatinga, cujo ecossistema, mais heterogêneo e mais rico em biodiversidade do que se imagina, recobre toda a depressão sertaneja.

A Mata Atlântica, uma das 25 prioridades mundiais para a conservação da biodiversidade, abrigando cerca de 20 mil espécies de plantas, sendo oito mil endêmicas, inclui esses brejos de altitude do Semiárido nordestino.

> Aconchego da natureza nas nuvens da Ibiapaba 

O termo Brejo de Altitude foi cunhado pelo engenheiro agrônomo e ecólogo João de Vasconcelos Sobrinho, um dos fundadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), criador da disciplina "Ecologia Conservacionista", a primeira do gênero ministrada no Brasil.

Confira vídeo

A existência destas "ilhas de floresta" está associada à ocorrência de planaltos e chapadas entre 500 e 100 m de altitude, onde as chuvas orográficas ou de relevo (que ocorre quando uma massa de ar carregada de umidade sobe ao encontrar uma elevação do relevo, como uma montanha). O ar mais quente e leve e, geralmente, mais úmido, é empurrado para cima. A condensação do vapor provoca chuva. Quando a massa é forçada a ascender, precipita a barlavento, em muitos casos não precipita do outro lado, a sotavento, garantindo precipitações superiores a 1200 mm/ano.

> Água depende da floresta preservada

A literatura refere-se à existência de 43 brejos de altitude, distribuídos nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, cobrindo uma área original de aproximadamente 18.500 km2. Somente Pernambuco e Paraíba possuem 31 brejos, distribuídos em 28 municípios do agreste e do sertão.

Isto equivale a dizer que pelo menos 1/4 da área de distribuição original da Floresta Atlântica nordestina é representada pelos brejos de altitude. Apesar de importantes do ponto de vista da conservação da biodiversidade, o atual ritmo de degradação pode levar essas "ilhas" ao completo desaparecimento.

> Periquito cara-suja e a luta pela preservação da biodiversidade 

A reportagem especial "O verde do sertão" apresenta aos leitores um pouco da realidade dessas regiões, nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, naquilo que elas têm de mais importante: armazenam e fornecem água para a grande depressão sertaneja e até mesmo para cidades litorâneas do Nordeste.

Incluímos no nosso roteiro de viagem as áreas ainda conservadas nesse Ecossistema: no Ceará, o Maciço de Baturité (Pacoti, Guaramiranga e Mulungu); Chapadas da Ibiapaba (Ubajara, São Benedito e Guaraciaba do Norte) e do Araripe (Crato); visitamos também áreas do Planalto da Borborema, no Rio Grande do Norte (Martins), Paraíba (Areia) e Pernambuco (Serra Negra e Triunfo).