Focos de queimadas nos cinco primeiros meses de 2020 é o menor dos últimos nove anos

De janeiro a maio, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), registrou 107. EM 2011, em igual período, foram 65.

Escrito por Honório Barbosa , regiao@svm.com.br
Legenda: Os últimos meses do ano concentram o maior número de queimadas no Ceará.
Foto: Honório Barbosa

O Ceará registrou, nos cinco primeiros meses deste ano, 107 focos de queimada, segundo dados do  Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que acompanha a evolução mensal por Estado desde 1998, por meio de imagens de satélites. Este foi o menor número de queimadas desde 2011 que, em igual período, teve 52.

O monitoramento revela que janeiro passado foi o período que registrou um número elevado de queimadas (94). Em fevereiro, foram apenas oito, março caiu para dois, em abril não há registro e em maio, três.

A ocorrência de elevado número em janeiro coincide com o período de preparo de solo para o plantio agrícola de sequeiro. Muitos agricultores ainda mantêm uma prática antiga de fazer roço, juntar os tratos culturais secos (galhos, folhas e tronco) e queimar. Popularmente, esse método de limpeza da roça é conhecido por broca.

“Quem percorre o sertão nos meses de novembro, dezembro e janeiro avista colunas de fumaça que é o sinal das queimadas, das brocas”, observou o agrônomo da Ematerce, Antônio Pereira. “No passado, já foi maior o número de queimadas”, acrescenta.

Evolução

O Programa de Queimadas do Inpe aponta crescimento dos focos a partir de setembro de cada ano, que também coincide com o período em que a mata fica mais seca e favorece a ocorrência de incêndios, a maioria deles criminosos, conforme já registrou o comandante do Corpo de Bombeiros de Iguatu, coronel Nijair Araújo.

O ambientalista e presidente do Instituto Rio Jaguaribe, Paulo Maciel, observa que a queimada para fins de preparo de solo é antiga, vinda com os colonizadores portugueses. “Os índios também faziam para limpar os arbustos com espinhos, o excesso”, explicou o agrônomo. “Depois houve ao longo do tempo uma corrupção desse sistema, em que se colocava fogo em toda a mata, prejudicando os nutrientes do solo e o meio ambiente”.

Para Paulo Maciel, a prática de queimadas para preparo de solo de pequenas áreas da agricultura familiar está muito reduzida. “As áreas já estão limpas”, pontuou. Como alternativa, Maciel sugeriu “deixar os restos culturais em fileiras entre a plantação, para se incorporar ao solo". Mas, ele reconhece "que muitos não fazem por ser um trabalho pesado, e não haver mecanização apropriada para este fim”.

Paulo Maciel ressalta ainda que nos últimos anos houve um avanço das áreas de pastagem para a criação de bovinos de forma extensiva. “A mata nativa foi devastada para surgimento de área de pastagem para o gado”, disse. “Depois planta-se capim de origem africana que rebrota após o fogo, e por isso muitos criadores fazem queima na capineira, mas sem controle o fogo atinge a mata nativa ainda existente no entorno e se espalha”.

Mudança

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva, também observou que nos últimos anos houve uma redução de queimadas para fins de limpeza do solo na região Centro-Sul. “Depois de muitas campanhas, reuniões e advertência de que queimada é crime, já diminuiu muito”, frisou. “No passado, era demais, em todas as propriedades”.

O agrônomo Antônio Pereira, da Ematerce, observa também que no primeiro momento a queimada parece ser favorável por limpar o solo de maneira rápida, com reduzido custo, mas com o passar dos anos ocorrem consequências negativas. “Provoca degradação do solo, destruindo os nutrientes e traz prejuízos ao meio ambiente”, reforçou. “Há técnicas de substituição dessa tradição errônea de manejo”.

Especiliastas alertam que o hábito cultural, herdado dos pais e avós, e o empobrecimento do pequeno agricultor, aliado ao desconhecimento técnico, favoreceram a prática da queimada.

“Devemos incorporar o material vegetal ao solo, manter em sua superfície para regular temperatura, evitar erosão e evaporação da água”, observa o produtor rural conservacionista, Francisco Nogueira Neto, da localidade de Brum, zona rural de Jaguaribe, que mantém um projeto de recuperação e conservação da caatinga.

O secretário de Agricultura de Iguatu, Edmilson Rodrigues, lembrou que no passado havia uma ideia de que a queimada aumentaria a fertilidade do solo. “Isso foi um grande engano”, pontuou. “O solo fica desgastado e com maior risco de sofrer erosão”.

O produtor rural Francisco Vieira, durante muitos anos fez queimadas, na região do Baú, zona rural de Iguatu, para preparar a roça para o plantio de grãos de sequeiro – milho e feijão. Entretanto, desde 2010, ele abandonou o manejo antigo. “Nasci na roça, via meu avô, pai fazer e também fazia o mesmo. Mas, depois com a visita de técnicos da Ematerce e vendo reportagens, aprendi que era errado e que também é crime fazer queimada, por isso abandonei essa prática”.

Focos de janeiro a maio:

2010 – 495
2011 -  65
2012 – 507
2013 – 230
2014 – 139
2015 – 240
2016 – 139
2017 – 114
2018 – 183
2019 – 213
2020 - 107

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