Escolas no interior do Estado suspendem aulas devido às chuvas
Os fortes volumes pluviométricos expõem um crônico problema das estradas. Mal conservadas, as vias impossibilitam o fluxo de veículos em dias chuvosos, prejudicando alunos que utilizam ônibus escolares
O cenário do início de abril se apresenta semelhante ao que fora desenhado durante todo o mês passado. Março se encerrou com volumes pluviométricos acima da média histórica. E, com as fortes chuvas, veio também muita destruição. Pontes arrastadas e estradas danificadas impactam negativamente no sistema educacional das cidades do interior. Em, pelo menos, cinco municípios do Estado, as aulas foram prejudicadas.
Em Baturité, a cheia de um rio trouxe perigo a estudantes de três localidades, na manhã de ontem (2). A cheia cobriu a passagem molhada da comunidade do Beira Rio e isolou as localidades de Jordão, Flores e Veneza. Para atravessar o Rio Jordão, as crianças utilizaram uma corda, e outras ficaram agarradas às costas dos pais. A solução encontrada, já que o ônibus escolar não consegue passar pela estrada inundada, foi registrada em vídeo por uma moradora.
O agricultor Marco Antônio afirma que a situação oferece perigo para todos. "É um perigo muito grande pra nós, que somos pais, e pros alunos. Atravessamos os nossos filhos e até as crianças das outras pessoas", revela. Ainda segundo ele, em alguns casos os pais pagam para que outras pessoas atravessem seus filhos. "Quando a mãe não pode, pois tem medo de cair no rio, paga uma pessoa pra poder passar. Tem gente que não passa e tem outras que quase iam se afogando", comenta, se referindo a um estudante de nove anos. "A água estava alta e a correnteza forte, fiquei com muito medo", descreveu o jovem que atravessou agarrado nas costas do pai.
Sem solução
O prefeito do Município, Francisco Assis Arruda (PDT), reconhece a gravidade do problema, mas diz que a situação é "pontual", e que os alunos são liberados das aulas quando não há condições de travessia. "Os professores estão orientados quanto a isso", ressalta. Com este cenário de fortes chuvas, é provável que as crianças fiquem sem aula em outros momentos. Isso porque, ainda conforme o gestor, não há projeto de ponte ou obra que solucione o problema na região. "É uma situação eventual. A Prefeitura, no momento, não tem projeto de solução para aquele área. Se houver recurso a gente faz a ponte, mas é uma coisa muito pontual, um investimento muito grande pra uma situação eventual. No momento temos outras prioridades", justificou.
Paralisação
Em Ocara, também na região Norte do Estado, a suspensão das aulas em duas das 17 escolas municipais segue até a próxima sexta-feira. As atividades foram paralisadas na semana passada após uma cratera se abrir no caminho que liga as comunidades rurais às escolas de ensino fundamental Pedro da Costa Gomes, no distrito de Foveira, e Raimundo Lopes Braveza, em 6 Carnaúba. Ontem, um ônibus escolar tentou fazer a passagem pela via danificada, mas acabou atolado. As aulas, segundo a secretária de Educação do Município, Raquel Lopes, serão repostas.
"Devido a essa instabilidade das estradas, que está gerando insegurança nas mães, nós precisamos zelar pela segurança dessas crianças. Visando a tudo isso, fizemos uma reunião com todos os professores e suspendemos as aulas durante uma semana. Já foi estruturado um plano de recuperação das aulas, que serão repostas aos sábados", explica.
Sobre o conserto das estradas, Márcio Moreira, secretário de Infraestrutura de Ocara, ressaltou que "não há condições de fazer a manutenção da estrada por causa das chuvas". Ele garantiu, no entanto, que após o período de chuvas, "será feito um trabalho efetivo de reparo".
Assim como ocorre em Baturité, as crianças que estudam em Capistrano estão com o calendário escolar prejudicado. "Quando chove, não tem aula", criticou a vendedora Francisca Eline Freitas. Seu filho perdeu os dois últimos dias de aula. "Quando chove, a localidade de Boqueirão fica praticamente ilhada. Ninguém consegue passar. Nem mesmo os ônibus escolares se arriscam. A comunidade fica a 15 minutos da sede do Município.
Nas cidades de Meruoca e Itapajé, as chuvas também modificaram a rotina dos estudantes. Em Meruoca, a chuva torrencial, registrada no fim de semana, deixou a Escola Estadual Monsenhor Furtado completamente alagada.
Segundo testemunhas, a chuva que durou cerca de uma hora foi suficiente para destruir objetos como impressora, cadeiras, caixa de som e geladeira. Alunos e funcionários da unidade educacional fizeram um mutirão para a limpeza da escola. Com o alagamento, as aulas foram canceladas. As atividades foram retomadas ontem. Já em Itapajé, parte do muro da Escola Municipal Bastos Filho desabou. Segundo a Secretaria de Educação do Município, as chuvas contribuíram para a queda da estrutura. Foi feito um trabalho emergencial, e as aulas nesta semana foram normalizadas.
O presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Franscisco Nilson Alves Diniz, explicou que a entidade mediará o diálogo entre Governo do Estado e os municípios atingidos em busca de recursos e soluções para "sanar quanto antes esta problemática" que afeta centenas de estudantes. Nilson antecipou que está agendado, para hoje, uma audiência com o Governo estadual e os órgãos que gerem as estradas. "Vamos cobrar maior celeridade às obras realizadas pelo Departamento Estadual de Rodovias (DER)". Ainda conforme Diniz, "a Aprece ficará atenta para que toda a carga horária perdida seja recompensada".
A Secretaria da Educação (Seduc), por sua vez, disse que garantirá o cumprimento dos 200 dias letivos, conforme orienta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). "A Seduc acompanha a situação, por meio das 20 Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (Credes). Dessa forma, as regionais estão em contato com os municípios atingidos pelas chuvas".