Bodegas diminuem vendas

Escrito por Redação ,
Em razão da existência dos supermercados, os antigos espaços de compras estão desaparecendo

Juazeiro do Norte A vinda de grandes redes de supermercados para o Cariri poderá deixar no passado um dos saudosistas espaços de compra. O local dos secos e molhados, que se convencionou chamar bodega, ou mercearias, para os espaços mais organizados, sofreu o impacto dos produtos vendidos no atacado e a preços mais em conta. Mas, a existência das velhas cadernetas ou bloquinhos de anotações das contas, a confiança nos fregueses antigos, ou simplesmente a compra de pequenas quantidades de produtos em papel de embrulho, ainda sobrevive em alguns desses lugares onde há um pouquinho de tudo.

O dono do estabelecimento, em algumas localidades, é quase uma pessoa de casa. É lá onde as crianças e adultos vão comprar e pedem apenas o produto, sem falar do dia do pagamento. A confiança do cliente e do vendedor são mútuas. O freguês pede a quantidade e o dono da bodega anota. No fim do mês junta tudo para a conta final e o ressarcimento dos produtos com o salário. Para o comerciante Jariosmar Maia Feitosa, conhecido por Pituxa, o tempo não fez mudar muita coisa para ele. São clientes de mais de 30 anos, no comércio no Centro da cidade do Crato, onde se vende um pouquinho de tudo em seu estabelecimento. Com as inaugurações das grandes redes de vendas em atacado, há mais de dois anos na região, ele afirma que sofreu o impacto inicial, mas as vendas se reequilibraram.

A maior parte da comercialização acontece mesmo nos fins de semana. A velha tradição da feira do Crato, na segunda-feira, já não é mais como antigamente. Normalmente as pessoas preferem fazer as compras do mês nos grandes supermercados, mas ele destaca que tem se mantido uma clientela antiga e até mesmo o velho bloquinho de anotações, em que cerca de 20 clientes são fidedignos.

Há também aqueles pequenos espaços que se tornam referenciais. São as bodegas mais estilizadas. Agnaldo Rodrigues Petrole uniu no seu espaço de comercialização o que mais gostava. Objetos que colecionava, que vão desde a camisa do time predileto, cabaças, lampiões, cestos, aros de bicicleta, rádios antigos, chinelos de couro e até mesmo carcaças de sons automotivos. Uma infinidade de materiais que viraram penduricalhos e o atrativo de quem entra no estabelecimento. Naldim, como se tornou conhecido, diz que tudo faz parte de sua coleção, mas os tempos para manter o espaço mudaram muito. Em mais de 20 anos de bodegueiro, ele afirma que hoje a realidade é outra. "Hoje passo praticamente o dia todo e as pessoas vêm comprar apenas no fim da tarde". Ele já pensa até em se desfazer da velha bodega, que já beneficiou tanto os moradores, com as vendas em pequenas quantidades, pois hoje não compensa em virtude do lucro ínfimo na modalidade de comercialização. Segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Crato (CDL), Francisco Parente, a vinda das grandes redes realmente possibilitou uma transformação no comércio. Segundo ele, os comerciantes mais atingidos foram justamente os que não buscaram uma modernização dos seus espaços. "As mercearias de bairro estão tendo que se adaptar à nova realidade". Mas reconhece, que o espaço para competir com esses grandes supermercados ficou realmente muito difícil.

Mais informações:

Mercearia Central, (88) 9201.2800
O Pituxa, (88) 3521.2058

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER