Atos criminosos podem inviabilizar administração

Documentos queimados ou jogados em rampas de lixo. Não são papéis comuns, pois em muitos desses são visíveis o vínculo com a Prefeitura de Uruburetama, localizado a 110 quilômetros de Fortaleza. Também não são irrelevantes, pois já vêm sendo reclamados pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) como material importante para o arquivo do banco de dados do Município. Essa situação ilustra o desmonte encontrado pelos novos administradores, tal como reclama o atual prefeito municipal José Gilvan Nunes, 52 anos, (PPS). Para ele, o extravio complica o pagamento de empenhos e de contratos de serviços. A denúncia, no entanto, é negada pela prefeita que deixou o cargo, Maria das Graças Cordeiro, 55 anos (PSDB). Ela afirma tratar-se de uma campanha difamatória.
Criminoso ou não, ou, ainda, se foi ou não da responsabilidade da prefeita que deixou o cargo, o fato é que existiu a fogueira com os documentos da Prefeitura de Uruburetama. A queima apressada de escritos deixou um rescaldo confuso de papéis semidestruídos como notas de pagamentos, talões de cheques e até arquivos do departamento pessoal. Em meio à rampa, jaz uma placa de bronze da Prefeitura.
O prefeito José Gilvan afirma tratar-se de uma ação criminosa, a ponto de ter requerido, ontem, uma perícia da Polícia. Para ele, o caos encontrado na administração foi muito mais do que o escamoteamento das contas a pagar. Conforme salienta, trata-se do próprio histórico da máquina administrativa de décadas.
O rosário de queixas de José Gilvan vai mais além. Conta que os salários dos servidores atrasados somam-se três meses e mais o pagamento do 13º mês. Além disso, as dívidas com a Cagece representam um total de R$ 136,7 mil, mais R$ 31,3 de conta de telefone, afora as do FGTS, INSS, dentre outras.
Contudo, é a fogueira formada que mais chama a atenção entre todo o material remanescente da sede da administração municipal, localizada na Praça Soares Bulcão, uma homenagem ao pai da filha ilustre da terra, a atriz Florinda Bulcão.
Desde o arquivo do departamento pessoal até o quintal, onde os papéis foram destruídos, a papelada é a mais diversa e já serviu para deixar em alertar os técnicos do IBGE.
“Acredito que levarei, pelo menos, seis meses, para fazer um levantamento do que realmente foi destruído”, afirma Gilvan, que pensa em declarar estado de calamidade pública.
A iniciativa conta com o apoio da vereadora Maria Stela Gomes (PPS). Ela afirma que as condições encontradas pelo atual prefeito inviabiliza a administração do Município.
“Em todas as repartições públicas, encontramos lixo, sujeira e, o que é pior, a falta de equipamentos, que acreditamos que foram roubados”, afirma a vereadora.
Esse quadro, conforme ela, atingiu até as unidades de ensino. De aparelhos de televisão até lâmpadas foram suprimidos, embora não faça acusações diretas de quem praticou o crime.
A falta de pagamento de pessoal prejudicou o funcionamento do Programa Saúde da Família (PSF), que ficou desativado em dezembro. Agora, funciona com duas equipes, mas insuficientes para atender à demanda local. Uruburetama detém uma das mais altas taxas de mortalidade infantil do Estado, com uma proporção de 25 óbitos para cada 1000 nascidos.
Entre as pessoas do Município, a queixa do descaso da administração nos últimos meses é também reconhecida pelo técnico de laboratório João Balbino Ferreira. No Hospital Antônio Nere Filho, onde trabalha, conta que nenhum paciente podia ser atendido durante o mês de dezembro.
“Todo o hospital encontrava-se sujo. Não havia condição de se receber nenhum doente”, explica, salientando que aos poucos a normalidade vai retornando àquela unidade de saúde.
Com uma receita média de R$ 500 mil, a Prefeitura conta com um total de 1.200 servidores, sendo que cerca de 200 eram regidos por contratos temporários.
Marcus Peixoto
enviado a Uruburetama