Aluno ingressa na UFC ainda cursando o ensino médio

Escrito por Redação ,
Legenda: Carlos Henrique diz que não se deve perder o foco para o futuro pessoal
Foto: PATRÍCIA RAPOSO
Estudante de 16 anos obtém nota máxima na redação da UFC e garante vaga em universidade pública

Fortaleza. Aos 16 anos, o estudante Carlos Henrique de Sousa Moura conseguiu feitos incomuns, tanto para o seu Município, Maranguape, quanto para o Ceará. Na última prova do Enem, obteve a melhor nota na redação, com 1000 pontos, ficando entre aqueles que atingiram a mais alta nota do País e seu desempenho geral no concurso sobressaiu-se entre os três melhores do Ceará.

Além disso, obteve o avanço de seus estudos, de modo que já vai ingressar na Universidade Federal do Ceará (UFC), no curso de Economia, sem que ainda tenha concluído o ensino médio.

O feito maior não é porque o adolescente estude numa escola pública, no caso o Caic Senador Carlos Jereissati, localizado no Centro de Maranguape e ainda porque mobilizou professores e coordenadores da unidade de ensino onde estuda para avançar nos estudos. O que mais chama a atenção é que todas essas conquistas não significaram na privação da vida normal do jovem, que namora, gosta de festas e de jogos eletrônicos.

Carlos Henrique disse que estudar nunca foi uma obsessão. No entanto, mantém hábitos que são muitas vezes negligenciados por garotos da sua idade, como o hábito da leitura. Por mês, lê, pelo menos, três livros.

Além disso, é um devorador de informações na internet. Conta que os jornais, revistas e assuntos da atualidades são aqueles que mais acessa quando está em casa. Já na Escola, é conhecido pelo uso da Biblioteca, onde fica detido boa parte do tempo fora da classe para aprender mais.

Foi por conta de seu interesse pela web que influenciou, dentre outros itens, pela qualidade da redação. Com o tema, "A internet no século XXI, limite entre o público e o privado", defendeu um status de informação que cada vez mais se torne democrático e possa impulsionar o desenvolvimento das pessoas de baixa renda, o que até então não havia sido possível pelos instrumentos convencionais.

Xodó da escola

Carlos Henrique não defende a pirataria de ideias ou informações. Pelo contrário. Ao tratar do tema em questão, disse que é somente prejudicial ao aluno "copiar" e "colar", o que se apresentam em enciclopédias e dicionários eletrônicos. "Acho que copiar e colar é algo que somente prejudica o desenvolvimento intelectual de quem está aprendendo. Sou favorável que se apreenda esses conteúdos para se imprimir interpretação e fazer comparações, conforme o entendimento pessoal", afirma.

Muito antes de ter a projeção no teste nacional de aprendizagem e na nota da redação que o consagrou, Carlos Henrique já era o xodó dos professores. A secretária pedagógica do Caic Senador Carlos Jereissati, Neide Barros, diz que o estudante não é um fenômeno, mas é carismático e determinado, e isso fez com que não apenas se sobressaísse nos estudos, como motivou que a escola procurasse a melhor forma de enquadrá-lo no desenvolvimento escolar.

"É um jovem carismático, estudioso e focado naquilo que quer. Isso foi suficiente par que eu procurasse a melhor maneira de que toda essa energia tivesse melhor aproveitamento", disse Neide. Lembra que sempre o percebia como "uma pessoa antenada, bem informada e, principalmente, ciosa pelo aprendizado", ressalta a pedagoga. Com isso, a secretária consultou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e constatou que o artigo 24 estabelece o avanço do estudo no ensino básico.

O passo seguinte foi dado em 16 de janeiro passado, quando o estudante foi submetido a um "provão", com conteúdos do ensino médio, obtendo aprovação. Em seguida, o pedido para que pudesse ingressar na universidade foi submetido ao Conselho Estadual de Educação, tendo como relator, o professor Edgar Linhares. Com isso, o encaminhamento foi deferido e garantida a vaga no curso de Economia da UFC. "O mérito é do aluno, mas a escola foi sensível em perceber essa possibilidade, que implica no desenvolvimento pessoal", afirma o professor Henrique Almeida.

Filho caçula

Se a popularidade de Carlos Henrique o ajudou a galgar passos importantes para se tornar apto a ingressar no curso superior, também é muito querido em sua família.

Proveniente de uma família em que o pai é um aposentado do serviço público federal e de uma dona de casa, ele é o mais novo entre os quatro filhos, sendo três mulheres. A mais velha é professora, uma outra é terapeuta ocupacional e a mais nova entre elas também está buscando ingressar na universidade.

"Aqui nunca tivemos mimo. Sempre conseguimos tudo com muito esforço e determinação", afirma o estudante. Ele diz que nunca almejou estudar em escola particular, porque sempre teve o entendimento que dependeria muito mais de si para conseguir o que queria do que da escola. No entanto, ele elogia a equipe de professores e o acervo da Biblioteca, que muito o ajudaram a ir adiante nos seus planos para o futuro.

Carlos Henrique não esconde sua alegria por ter obtido o acesso à UFC, entanto ainda pensa em fazer o curso de Direito, que é sua próxima aspiração. Para ele, todos esses projetos não implicarão em sacrifícios. "Namorar e ir a festa não prejudica. O que não podemos perder é o foco sobre o que queremos e como nos esforçarmos para alcançar nossos objetivos", diz o adolescente.

Máximo

1000 pontos foram conquistados na redação do jovem, que obteve a nota máxima em todo o País no concurso do Enem

MARCUS PEIXOTO
REPÓRTER