88 das 184 cidades do Ceará têm menos de 50% dos adolescentes cadastrados vacinados com 2 doses
A Anvisa autorizou a entrada de um novo público no processo de imunização contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos
O Ceará superou na última sexta-feira (17) a marca dos 80% de cobertura vacinal contra a Covid-19 para o público acima dos 12 anos, conforme dados da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado. No entanto, quando observado alguns recortes específicos, como entre jovens de 12 a 17 anos, o processo de imunização ainda carece de maior celeridade.
Nessa faixa etária, por exemplo, 88 das 184 cidades vacinaram com as dose 2 meno de 50% dos adolescentes cadastrados. A média geral do Estado, para este público, é de 49,08% da D2 aplicada. Para o médico infectologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ivo Castelo Branco, o índice acende um alerta.
Já para a secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde do Estado, Ricristhi Gonçalves, quando observado o processo imunizatório geral, os resultados, em sua avaliação, estão dentro do planejado. Para ampliar o índice em grupos específicos, como este, ela alerta ser preciso que as pessoas se cadastrem no Saúde Digital, assim, a Sesa pode fazer a destinação correta das doses aos municípios.
"Todos os grupos são importantes. No começo da pandemia, vimos que os idosos eram os mais vulneráveis. Mas, já na segunda onda, a doença atingiu jovens, adultos, todos. Por isso, para vencermos a pandemia, é preciso imunizar uma grande parcela da população, de todas faixas etárias", alertou o médico.
A presidente do Conselho das Secretárias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE), Sayonara Moura Cidade, concorda com o apelo do infectologista e acrescenta que a recomendação do órgão é "avançar e intensificar" o processo de imunização desse grupo de 12 a 17 anos antes de expandir o leque.
Certamente é mais prudente avaliar o que já temos hoje liberado e avançar na vacinação nessas faixas etárias já iniciadas a que temos vacinas destinadas.
Essa expansão a que se refere Sayonara diz respeito à autorização por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em liberar a vacina contra a Covid-19 da fabricante Pfizer para crianças de 5 a 11 anos. O sinal verde para avançar no processo de imunização contra o vírus SARS-Cov-2 foi dado nesta quinta-feira (16).
Imunização ao grupo pediátrico
Para Ivo Castelo Branco, quando as vacinas modificadas - para atender exclusivamente o público de 5 a 11 anos - da Pfizer estiverem disponíveis aos municípios, deverá existir um esforço para que ambos os públicos sejam imunizados mutuamente.
"Este é o mundo ideal. E já mostramos ter capacidade para tal. É importante sempre lembrar: as pessoas que estão morrendo ou estão se infectando são aquelas que, na grande maioria, não se imunizaram".
A representante do Conselho ressalta, contudo, que a liberação da vacinação por parte da Anvisa não significa dizer que o Ministério da Saúde já pode adquirir esses imunizantes. "Falta ainda o MS informar quando será feita a compra para que a gente possa ter acesso a essa vacina para darmos início a aplicação nesse grupo a que estamos nos referindo".
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A secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde do Estado, Ricristhi Gonçalves, projeta, entretanto, o início da vacinação nas crianças "de janeiro em diante". "[A liberação] era muito aguardada por todos, agora vamos aguardar outras orientações do Ministério e tão logo essa vacina esteja disponível, vamos aplicá-la".
Sayonara também classifica a autorização como "extremamente importante", mas corrobora com Ricristhi ao destacar que os "municípios ainda não sabem quando receberão o imunizante". Ao todo, o Ministério da Saúde deve adquirir 40 milhões de doses à Pfizer destinadas à este grupo pediátrico.
Por ser uma vacina modificada, especialmente para o público de 5 a 11 anos, a secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde considera que a imunização não atrapalhará outros grupos. "Temos totais condições de fazer [a aplicação] de forma concomitante", assegurou.
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"As pessoas não devem ter medo da vacina, mas sim do vírus. Em países cuja vacinação está baixa, os casos seguem sendo controle e, como agravante, surgem novas variantes. O Brasil deve seguir avançando e, aqui no Ceará, não pode existir bolhas, em que determinadas localidades ficam atrás no processo. É perigoso. Precisamos avançar rápido, mas de forma uniforme, tanto nas cidades, como nos grupos [faixa etárias]", conclui o docente da UFC e infectologista, Ivo Castelo Branco.
Cadastro
Tão logo a imunização ao grupo pediátrico foi autorizada, a Sesa liberou a plataforma de cadastro para essa faixa etária. Conforme explica Ricristhi Gonçalves, o cadastro deste público será "importante para termos dimensionarmos o tamanho desta população".
Somente com o cadastro, acrescenta a secretária executiva, a Sesa conseguirá traçar a logística de distribuição aos municípios atendendo a demanda específica para cada localidade.
"Para ter acesso a dose, é preciso se cadastrar no Saúde Digital, o que pode ser feito com CPF ou cartão de vacinação, para aquelas crianças que não tenham CPF", detalha Ricristhi.
Próximos passos e recomendações
A análise para liberação contou com corpo técnico da Agência, representantes de sociedades brasileiras de Infectologia (SBI), de Imunologia (SBI), de Pediatria (SBP), de Imunizações (SBIm) e de Pneumologia e Tisiologia.
Agora, após a autorização da Anvisa, a bula do imunobiológico será alterado para incluir a população pediátrica. Outra mudança, além da bula, será a dosagem. A Pfizer ilustrou que a dose para as crianças entre 5 e 11 anos de idade é de 1/3 em relação à formulação já aprovada no Brasil. Segundo a empresa, os frascos serão diferenciados pela cor.
Outra orientação para a aplicação do imunobiológico é de que se a criança completar 12 anos, entre a primeira e a segunda dose, ela deve fazer a manutenção da dose pediátrica. A autorização preconiza , portanto, que a vacina para crianças será aplicada em duas doses de 0,2 mL (equivalente a 10 microgramas). O intervalo entre as doses será de pelo menos 21 dias.
Em outros países a vacina da Pfizer já está liberada para as crianças. Nos Estados Unidos desde o dia 2 de novembro. Lá, o imunizante é aplicado em duas doses com três semanas de intervalo. Já a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) realizou a aprovação no dia 25 de novembro.
Pedido negado
Um dia antes da liberação por parte da Anvisa ao imunizante da Pfizer, o Butantan, no dia 15 deste mês, fez novo pedido à Agência para autorização da vacina da fabricante CoronoVac, para o público de 3 a 17 anos. Em 18 de agosto deste ano, a Anvisa já havia negado a autorização.
A decisão apontava que os dados apresentados pelo Instituto Butantan não eram suficientes para comprovar a segurança da vacina no grupo pediátrico. Agora, a Anvisa tem prazo de até 30 para avaliar o novo pedido.