Legislativo Judiciário Executivo

Vereadora de Potiretama acusa presidente da Casa de violência política de gênero

Cleverlandio, que fez ponderações até sobre as roupas da vereadora, nega as acusações

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Presidente da Câmara atacou vereadora na sessão da última sexta-feira (29)
Legenda: Presidente da Câmara atacou vereadora na sessão da última sexta-feira (29)
Foto: Reprodução/Facebook Câmara de Potiretama

A vereadora Bárbara Porto Cavalcante (PT), única mulher com mandato na Câmara Municipal de Potiretama, denunciou o presidente da Casa, o vereador Cleverlandio Pereira Bezerra, eleito pelo PP, por violência política de gênero durante sessão realizada no último dia 29. 

A petista, que integra a oposição ao prefeito Luan Dantas, criticou a gestão da Saúde do município. Na sessão, Cleverlandio saiu em defesa do Executivo municipal, criticou a colega de parlamento e fez ponderações até sobre as roupas da vereadora. O mandatário nega as acusações.

O caso ocorreu na noite do último dia 29, durante sessão ordinária da Casa. No fim da reunião, o presidente se dirigiu à vereadora e questionou se “ela vive em outro mundo”. Cleverlandio se disse decepcionado e envergonhado com uma entrevista concedida pela vereadora a uma emissora local três dias antes.

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“Se for falar besteira, se esconda, saia por fora, é melhor que passar vexame”, aconselhou. O político ainda questionou se Bárbara tem “distúrbio mental” ou “problema de esquecimento”. Em seguida, o político fez uma série de perguntas sobre dados técnicos da saúde municipal e seguiu nas acusações contra a colega.

“Não é ficar na oposição sem ter o que falar, sem ter o que mostrar, que não faz nada para ninguém. Vai para Fortaleza e fica desfilando com seus vestidos e com suas saias bonitas, para cima e para baixo, não vejo você dentro de um carro fazendo um favor a ninguém”
Cleverlandio Pereira Bezerra
Presidente da Câmara de Potiretama

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Bárbara Porto Cavalcante disse que viu nas falas do vereador uma violência política explícita. 

“Ele quis realmente me diminuir e me reprimir perante a população, convocou toda população e os funcionários da secretaria da saúde para se fazer presente (na Câmara). Ele começou me acusando de ter dito que há um mau atendimento, mas na entrevista fica claro que falei da gestão municipal. Ele quis me colocar contra os funcionários, contra o atendimento humano, mas não é isso.”
Bárbara Porto Cavalcante (PT)
Vereadora

Ela disse ainda que a prática é recorrente. “Em junho ele já tinha feito algo parecido, sendo menos agressivo. Na época, ele só tentou me diminuir me chamando de ‘laranja’”, acrescentou.

Segundo a vereadora, denúncias contra Cleverlandio foram protocoladas no Ministério Público Federal (MPF). Ela ainda acionou a Procuradoria da Mulher e a Frente Parlamentar de Combate à Violência Política de Gênero da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece).

Em nota pública, a Procuradoria da Mulher da Alece repudiou a conduta do vereador. “A vereadora foi atacada (...) com acusações de cunho discriminatório e sexista, atentando à sua liberdade de expressão, bem como desrespeitando a sua honra por meio de injúria e difamação”, aponta a nota assinada pela procuradora, a deputada estadual Lia Gomes (PDT).

“O discurso do vereador Cleverlandio é de conteúdo agressivo, com o objetivo claro de constranger, humilhar e discriminar a parlamentar no exercício de suas funções. Tal conduta se enquadra na Lei nº 14.192, de 04 de agosto de 2021, que tipifica a violência política contra a mulher”, acrescenta.

Presidente da  Frente Parlamentar de Combate à Violência Política de Gênero da Alece, a deputada estadual Larissa Gaspar (PT) também repudiou os atos contra a vereadora. 

“Cobrarei providências para que os responsáveis por práticas e falas machistas e misóginas contra Bárbara respondam por seus atos. Não aceitaremos que nenhuma mulher tenha sua fala e sua atuação como parlamentar desqualificadas e desrespeitadas no exercício de seu mandato”, escreveu a petista.

Vereador se defende

Nas redes sociais, o presidente da Câmara de Potiretama se defendeu das acusações e disse não ter cometido violência política de gênero, nem agido de forma machista. “Isso me entristece, ver pessoas que não conhecem a nossa realidade apontando os dedos, me julgando e condenando sem conhecer minha história de luta pelo meu povo potiretamense. Todos os potiretamenses me conhecem e sabem que calúnias e acusações infundadas não me farão baixar a cabeça, seguirei de cabeça erguida lutando pelo nosso povo”, argumenta o político.

Como argumento de defesa, ele falou sobre sua orientação sexual. “Sou homossexual e nunca escondi em nenhuma repartição pública a minha orientação sexual, tenho muito orgulho da capacidade que desenvolvi de aceitar minha sexualidade. Admiro as mulheres e as respeito sempre, as mesmas sempre foram e continuam sendo minha inspiração em todas as áreas de minha vida”, disse o político.

Ele ainda ponderou que, apesar de “ser do sexo masculino”, tem uma “alma que se difere dele”. O mandatário disse ainda que respeita a diversidade de crença, raça, religião e “principalmente de gênero”. 

“Agredir qualquer tipo de pessoa por sua condição, seja de qualquer uma dessas diversidades, não faz parte de minha índole, nunca fez e nunca fará parte de minha conduta. Na minha vida política, sempre fui privilegiado por ter, junto ao meu eleitorado, uma grande maioria de eleitoras mulheres e me orgulho de ter sempre defendido e trabalhado pelas causas femininas”, seguiu o vereador.

“O erro que ora me é imputado, esse eu não cometi, mas entrego tudo a Deus, pois só Ele sabe de tudo e de todos”, finalizou o parlamentar.

O vereador foi procurado pela reportagem, mas não houve retorno.

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