Regulamentação dos trabalhadores de aplicativos: o que deve mudar com nova lei?
Proposta do Governo Federal deve chegar ao Congresso nos próximos dias, com provável mudança no vínculo empregatício
Um grupo de trabalho (GT) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) vem se debruçando, há cinco meses, em elaborar um projeto de lei para regulamentar a situação de trabalhadores por aplicativos.
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Segundo informações do portal g1, os profissionais deverão ter o contrato de trabalho seguindo quatro eixos principais: remuneração mínima, seguridade social, segurança no trabalho e transparência nos pagamentos e critérios dos algoritmos.
A proposta deve ser finalizada nos próximos dias e está no epicentro do acordo entre o presidente Lula (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Os dois chefes de Estado se reuniram na viagem do brasileiro aos EUA para participar da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), e lançaram iniciativa para proteger direitos trabalhistas, especialmente daqueles que atuam por aplicativos.
O projeto já deveria ter sido finalizado, mas devido a impasses no texto entre trabalhadores, empresas e o próprio Governo, ainda não foi concluído. A expectativa é de que isso ocorra até a próxima sexta-feira (29), último dia útil de setembro.
GT dos aplicativos
Ao todo, o grupo que realiza a proposta de regulamentação tem 45 integrantes, sendo igualmente representados pelas empresas de aplicativos, trabalhadores (o que inclui entregadores e motoristas) e Governo Federal, com 15 para cada um.
Quem coordena as reuniões do GT é Gilberto Carvalho, secretário nacional de Economia Solidária do MTE. Tanto as empresas quanto os trabalhadores reconhecem a importância da atenção governamental ao tema.
Apesar disso, eles consideram que poucos avanços ocorrem. Do lado das empresas, há reivindicações como definição do GT de que a natureza jurídica delas é de intermediação do serviço, e não de transporte.
O segundo tópico das empresas diz que os profissionais não têm vínculo trabalhista com as plataformas. Assim como a intermediação, os trabalhadores de aplicativos oferecem resistência às exigências.
Representantes dos profissionais das plataformas alegam que cabe ao Poder Judiciário ou do Congresso Nacional decidir sobre o vínculo trabalhista, argumento compartilhado por representantes do MTE.
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Previdência e Remuneração
As contribuições fixas estão em pauta no texto que vem sendo discutido. No caso da contribuição ao INSS, a alíquota proposta pelo governo é de 27,5% sobre base de cálculo de 50% da remuneração bruta (isto é, na carteira de trabalho) para os entregadores, e de 25% para os motoristas de aplicativo.
As empresas passariam a arcar com 20% de contribuição e os trabalhadores com 7,5%. Por parte dos trabalhadores, há a defesa de redução da alíquota a ser paga.
Os vencimentos a serem recebidos estão com propostas de entregadores e motoristas de aplicativo, duas das principais categorias representadas no GT.
A proposta dos entregadores é de piso de remuneração de R$ 35,63 para motociclistas e de R$ 29,63 para ciclistas por cada hora em que o profissional fique logado, isto é, esteja conectado à plataforma à disposição para efetuar as entregas.
A contrapartida das empresas foi de piso de R$ 12 para motociclistas e de R$ 7 para ciclistas por hora rodada. Na proposição das plataformas, o trabalhador não ganha enquanto estiver parado. A alegação é de que os entregadores entram em vários aplicativos ao mesmo tempo, o que gera sobreposição que inviabiliza o pagamento.
Os profissionais, por sua vez, argumentam que a demanda das entregas é de responsabilidade do aplicativo e não deles, então acham injusto que só recebam por hora rodada.
No meio-termo aparece a proposta do Governo. O piso estabelecido pelo MTE é de R$ 17 por hora rodada; as negociações, contudo, mantém os valores em aberto.
Já os motoristas pedem um piso de R$ 71 por hora rodada, enquanto as empresas oferecem R$ 25. A expectativa é de que a proposta do Governo seja de R$ 35. Deve ser levado ainda em consideração discussão sobre a quilometragem percorrida na definição do piso salarial.
Especialistas ouvidos acreditam que um dos principais desafios é contemplar a diversidade de trabalhadores por aplicativo dentro da proposta a ser encaminhada ao Congresso.
Caso não haja consenso no GT, o próprio Governo deve elaborar uma proposta e encaminhar para apreciação dos parlamentares.
Segurança e transparência
Há ainda a discussão sobre segurança do trabalho e obrigações das plataformas em deixar claro a remuneração recebida pelos profissionais.
Será obrigatório que as empresas disponibilizem ou exijam itens de segurança aos entregadores, assim como a realização de treinamentos preparatórios com os trabalhadores logo após o de contrato de adesão.
Ao fim de cada mês, as plataformas terão ainda que entregar uma espécie de contracheque aos profissionais, com o detalhamento sobre o valor pago, os critérios do algoritmo, além de justificar eventuais punições e desligamentos.