'Que Nem Tu': Machismo, teatro na política, articulações e os desafios de Augusta Brito no Senado
A senadora cearense falou sobre sua trajetória na política e relatou as violências de gênero que enfrenta no legislativo
Ser mulher na política nem sempre é fácil. Um campo ainda dominado pelo machismo e violência política de gênero não só afasta como também expulsa aquelas que se atrevem a ocupar espaços de protagonismo. Para a senadora cearense Augusta Brito, no entanto, "quanto maior a violência, mais força a mulher tem para lutar contra". E foi ficando pé e desbravando espaços que ela chegou a ocupar os cargos de prefeita do município de Graça, deputada estadual em dois mandatos, secretária de educação municipal e, agora, senadora pelo Ceará.
Augusta Brito é a 33ª entrevistada do "Que Nem Tu", podcast do Diário do Nordeste que recebe nordestinos de destaque nas mais diversas áreas. Com duas bandeiras prioritárias de seu mandato - defesa da mulher e educação em tempo integral -, ela falou sobre sua trajetória política e reforçou como esses dois temas perpassam sua história de vida.
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A política cearense falou sobre o início de sua trajetória, quando assumiu a prefeitura de Graça, em 2005, herdando capital político de seu pai Augusto Brito. Ela reconhece que na primeira gestão a presença do pai fez sombra a sua atuação, mas no segundo mandato conseguiu imprimir sua identidade e realizar feitos que foram marcantes para a região. No executivo, ela aponta como grande feito seu transformar toda a rede municipal de educação em tempo integral.
Na Assembleia Legislativa do Ceará, atuou como vice-líder e primeira mulher líder do governo estadual, na gestão de Camilo Santana. Ela também comandou a Procuradoria Especial da Mulher e presidiu o Comitê de Estudos de Divisas e Limites Territoriais do Ceará. O início do legislativo, ela lembra, foi de questionamento sobre os espaços que poderia ocupar.
"Desconstruo o machismo dentro de mim. Quando eu entrei na Assembleia eu mesma já me policiava. Não vou falar isso para não chamar atenção, para não me destacar tanto, para não vir uma retaliação sobre o que vou falar. Não vou participar tanto porque esse espaço só vai homem. Eu também me questionei no começo. Ainda bem que foi no começo do mandato. Eu fui me questionando e fui vendo que, muito pelo contrário e exatamente, por ter só minha presença feminina em muitos ambientes da política, eu fiquei entendendo que era muito importante a gente não estar só na foto. Que mais importante do que estar na foto é estar nos bastidores, discutindo e decidindo junto o que vai ser apresentado e debatido no mundo político", destacou.
Augusta relata que muitas vezes precisou subir o tom de voz para se fazer ouvida. Mas apostou em trabalhar com outras mulheres e no empoderamento político delas para conseguir chegar mais longe. Nem sempre foi fácil. "Lógico que tem dias mais pesados e você fica sem aguentar. Ao mesmo tempo que cria força para ir. Acho que mulher quanto mais violência tem força pra lutar contra".
No senado, ela falou sobre a rotina agitada e sobre as relações que fez em Brasília. Ela confessa que se surpreendeu com algumas figuras, como a senadora Damares Alves (DF). A cearense acreditava que, por defenderem bandeiras muito diferentes, haveria mais conflito político. No entanto, ela aponta que há respeito.
"Vai percebendo que muitas pessoas que a gente cria preconceito e cria uma imagem não são pessoas ruins e que você pode conviver sem ódio de ninguém. Estou me reconstruindo em alguns pensamentos que eu tive. A gente pode se respeitar", pontua.
A senadora integra a CPMI de 8 de janeiro. Ela falou sobre sua expectativa em relação ao trabalho que investiga os atos antidemocráticos e reforçou que o objetivo maior é chegar aos nomes dos financiadores. Ela ainda falou sobre a relação com o governo federal e a articulação com o governo do Estado.