Legislativo Judiciário Executivo

Qual a força dos candidatos à Prefeitura de Fortaleza no exército de vereadores dos partidos em 2024

Nove partidos apresentaram candidatos ao Executivo municipal neste ano

Escrito por Bruno Leite , bruno.leite@svm.com.br
Fachada da Câmara Municipal de Fortaleza
Legenda: Bancadas na Câmara podem ser ferramentas de penetração e ampliação de estrutura de campanha, apontam especialistas.
Foto: Fabiane de Paula

Com o término do prazo de realização das convenções partidárias no último 5 de agosto, estão definidas as chapas que vão disputar a Prefeitura de Fortaleza nas eleições de 2024. Ao todo, nove sigla lançaram nomes. São eles, por ordem alfabética, o deputado federal André Fernandes (PL), o ex-deputado federal Capitão Wagner (União), o advogado Chico Malta (PCB), o senador Eduardo Girão (Novo), o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PT); o ex-deputado estadual George Lima (SD), o atual prefeito, José Sarto (PDT), candidato à reeleição; o produtor cultural Técio Nunes (Psol) e o sindicalista Zé Batista (PSTU).

O cenário, que deve perdurar até o primeiro turno do pleito — já que num possível segundo turno as alianças podem passar por modificações e definir novos contornos —, reverbera na definição de apoios na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), onde os debates eleitorais devem assumir o protagonismo da pauta neste segundo período legislativo.

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Com as candidaturas, também são definidos os apoios partidários. Na tentativa de reeleição, o prefeito Sarto terá ao seu lado nove agremiações, aliadas ou coligadas. Estão nessa lista a Federação PSDB-Cidadania, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o Podemos (PODE), o Agir, o Partido da Mulher Brasileira (PMB), o Partido Renovação Democrática (PRD), o Mobiliza, o Avante e o Democracia Cristã (DC).

Evandro terá cinco partidos e uma federação: o Partido Social Democrático (PSD), o Partido Socialista Brasileiro (PSB), o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), a Federação Brasil da Esperança (PT-PCdoB-PV) e o Progressistas (PP).

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Técio contará com a Federação Psol-Rede e o Unidade Popular (UP), que retirou sua candidatura para o Palácio do Bispo a fim de apoiar a candidatura socialista.

Chico Malta, George Lima, Zé Batista, André Fernandes, Capitão Wagner e Eduardo Girão optaram por lançar chapas-puras, que não se coligaram a nenhuma outra legenda. 

Levantamento do Diário do Nordeste a partir das bancadas partidárias de vereadores na Câmara Municipal, mostra o exército de aliados que essas chapas podem ter na disputa. Considerando os filiados aos partidos conforme as alianças, as chapas de Sarto e de Evandro apresentam maior volume de apoiadores no Parlamento.

Legislativo com espaço de confrontos

Para o cientista político e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Emanuel Freitas, o espaço da Casa Legislativa é “conflituoso” neste período eleitoral. “Ali é um espaço, por exemplo, de defesa do prefeito, mas também de ataques. E, se por um lado, essa defesa é feita pela sua base, em especial partidária, os ataques são feitos por vários partidos”, salientou.

O apoio dos vereadores é ferramenta importante para o embate, não somente pelo teor das falas no Plenário Fausto Arruda, mas também pela mobilização de campanha e pela possibilidade de transferência de votos nas urnas. 

No entendimento de Freitas, "a presença dos partidos na Câmara Municipal revela certa força que esses partidos têm para negociar na hora das coligações, porque são eles, por meio dos vereadores, que vão canalizando verbas, orçamento, visibilidade aos candidatos a prefeito nas bases eleitorais". 

A interpretação é semelhante à da socióloga e cientista política Paula Vieira, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Os partidos que têm representação, quanto maior o número de vereadores, mais a gente tem a inserção dele na dinâmica eleitoral”, explicou a estudiosa.

Segundo ela, “durante a legislatura, os partidos, vão se movimentando, basicamente, de acordo com situação e oposição”. “Esses posicionamentos são articulações para que as suas políticas, as suas proposições tenham a possibilidade de entrar em negociação, serem colocadas para frente, em discussão. E isso está vinculado diretamente com a sua possibilidade de reeleição”, detalhou. 

Veja a distribuição das bancadas pelos candidatos

De acordo com um levantamento feito pelo Diário do Nordeste, o gestor da Capital cearense, que irá buscar a reeleição, tem o maior número de aliados no Parlamento, com 24 vereadores em sua bancada:

  • Adail (PDT)
  • Ana Aracapé (Avante)
  • Carlos Mesquita (PDT)
  • Cláudia Gomes (PSDB)
  • Didi Mangueira (PDT)
  • Emanuel Acrízio (Avante)
  • Gardel Rolim (PDT)
  • Germano He-Man (Mobiliza)
  • Heitor Holanda (Avante)
  • Iraguassú Filho (PDT)
  • José Pinheiro (PSDB)
  • José Freire (PDT)
  • Kátia Rodrigues (PDT)
  • Luciano Girão (PDT)
  • Lúcio Bruno (PDT)
  • Marcelo Lemos (Avante)
  • Michel Lins (PRD)
  • Paulo Martins (PDT)
  • Pedro Matos (Avante)
  • PP Cell (PDT)
  • Professor Enilson (Cidadania)
  • Raimundo Filho (PDT)
  • Wagner Lobo (Mobiliza) 
  • Wellington Saboia (Podemos)

Na segunda colocação, no quantitativo de parlamentares da CMFor que irão apoiar os candidatos, está Evandro Leitão, com 13 membros do Legislativo municipal:

  • Ana Paula (sem partido)*
  • Bruno Mesquita (PSD)
  • Cônsul do Povo (PSD)
  • Danilo Lopes (PSD)
  • Dr. Vicente (PT)
  • Estrela Barros (PSD)
  • Eudes Bringel (PSD)
  • Júlio Brizzi (PT)
  • Léo Couto (PSB)
  • Ronaldo Martins (Rep)
  • Ronivaldo Maia (PSD)
  • Tia Francisca (PSD)
  • Adriana Almeida (PT)

* A parlamentar indicou que, apesar de não tentar reeleição e de optar por não participar da campanha de Leitão, irá atuar em prol da eleição de Márcio Cruz (PCdoB), seu companheiro e integrante da Federação Brasil da Esperança, a qual é composta também pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Já o deputado André Fernandes terá uma bancada formada por três parlamentares na Câmara Municipal de Fortaleza:

  • Inspetor Alberto (PL)
  • Julierme Sena (PL)
  • Priscila Costa (PL)

Técio Nunes, por sua vez, terá dois correligionários no Plenário:

  • Adriana Nossa Cara (Psol)
  • Gabriel Aguiar (Psol)

O ex-deputado federal Capitão Wagner terá apenas um representante no Parlamento municipal:

  • Márcio Martins (União)

O Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Novo, o Solidariedade e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), que também colocaram seus nomes à disposição do eleitorado, não contam com filiados ou representantes de partidos aliados na Câmara Municipal de Fortaleza. 

Coligações que importam

Para Emanuel Freitas, a formação de coligações é, em tese, a possibilidade de um candidato a prefeito contar com “a força e com a capilaridade-político eleitoral” desses partidos no qual estabelecem um vínculo. 

Negociações para escolhas de vices consideram esses requisitos. Além disso, a dimensão de cada um deles — também nacionalmente — é um atributo relevante no processo. 

Isso ficou muito claro agora, por exemplo, na queda de braços na chapa do Evandro Leitão, em que o Luiz Gastão, presidente do PSD, no movimento de escolha da vice, ele chega a dizer que o partido dele tinha mais voto que o PSB, da Luisa Cela (secretária da Cultura do Estado, que chegou a ser cotada para vice de Evandro), e que por isso deveria ter a vice.
Emanuel Freitas
Cientista Político e professor da UECE

Escolher um partido com uma bancada maior no Congresso Nacional é o mesmo que contar, dentre outros aspectos, com uma estrutura partidária e um tempo de tela expressivo na propaganda eleitoral. São essas agremiações que têm direito a uma fatia maior do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral.

Paula Vieira esclarece que, no que diz respeito ao tempo de televisão, tudo depende das alianças entre os partidos para aumentar a duração das peças de propaganda veiculadas. Na sua visão, as circunstâncias dos outros anos de mandato são distintas do que o cenário visto agora.

No decorrer da legislatura, esses partidos sinalizam para onde vão. Mas, agora, que a gente já terminou as convenções, que já se sabe quem está aliado com quem, é que conseguimos visualizar melhor essa divisão, tanto de tempo de TV como de Fundo Partidário.
Paula Vieira
Socióloga, cientista política e pesquisadora da UFC

Divergências internas nos bastidores

Apesar de estarem sob o mesmo guarda-chuva por força das coligações e de arrumações partidárias, não há uma garantia de harmonia entre políticos, que costumam concorrer internamente por visibilidade e recursos dos partidos para tornarem suas eleições viáveis. 

“As siglas partidárias não têm unanimidade. A gente vai com o PT rachado para a eleição. Com o PL, em certa medida, não em Fortaleza, mas no Ceará, rachado. O PDT (também rachado no Estado). Isso, porque o partido também é constituído por vários partidos dentro dele e isso implica, obviamente, em assimetrias, mais recursos para um do que para outro, mais exposição de um do que de outro”, ressalta Emanuel Freitas. 

Vieira acredita que isso também se deve ao modo como o sistema está estruturado no País. “A gente tem que ir para o desenho institucional do nosso sistema político, que é a lista aberta. Ela é a lista dos candidatos em que os mais votados, de acordo com o quociente partidário, entram e conseguem cadeiras no Legislativo”, iniciou. 

“Existe, exatamente, essa competição entre os pares, por terem que conseguir votos individuais e votos para as legendas”, continuou, apontando que essas diferenças se refletem ainda na divisão de recursos financeiros.