Governador eleito de Sergipe, Fábio Mitidieri quer priorizar ampliação de benefícios sociais em 2023
Após anunciar neutralidade no 2º turno da disputa presidencial, o novo gestor garante que 'não cabe ideologia' na relação com governo federal
Um dos estados do Nordeste a ter 2° turno na disputa pelo Governo do Estado, Sergipe elegeu, no último dia 30 de outubro, o deputado federal Fábio Mitidieri (PSD) para o cargo de governador em uma disputa acirrada. Concorrendo com o senador Rogério Carvalho, do PT, Mitidieri teve 51,7% dos votos.
Superada a eleição, o governador eleito de Sergipe já está focado na transição governamental. Hoje, a gestão estadual está sob o comando de Belivaldo Chagas (PSD), aliado de Mitidieri.
Apesar de admitir que fazer parte da base de apoio do atual governante facilita a mudança de governo, Mitidieri destaca a importância de conhecer melhor o orçamento disponível como forma de organizar as medidas que serão implementadas de imediato quando tomar posse, em janeiro de 2023, e o que deve ter aplicação gradual.
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"(Quero) Ser o governador do emprego, da geração de emprego e renda", afirma o governador eleito de Sergipe, aproveitando para destacar que esta é a maior demanda no pós-pandemia. Em entrevista ao Diário do Nordeste, ele destacou que irá encontrar o Estado "saneado" pelo antecessor, o que irá facilitar a atração de investimentos e o desenvolvimento econômico.
"A fome não espera", pondera Mitidieri. Por conta disso, as políticas para geração de emprego devem correr em paralelo com a criação e ampliação de benefícios sociais. "A hora que você gera emprego, dá dignidade e gera renda, você combate a fome e a miséria. Agora, até fazer isso, tem que fazer os programas de renda funcionarem de imediato", ressalta.
Quanto à relação com o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, ele acrescenta que em gestão "não cabe ideologia". Mitidieri chegou a declarar voto em Lula no 1º turno, mas na segunda fase da campanha, optou pela neutralidade.
"Não dá para um estado pequeno como Sergipe,um estado pobre, que é bem administrado, mas que não é rico, estar fazendo ideologia, colocando estado na oposição porque o presidente não é o que eu queria", garante.
Confira a entrevista completa com o governador eleito de Sergipe, Fábio Mitidieri.
Qual deve ser o primeiro foco do seu governo? O que o senhor pretende já colocar em funcionamento nas primeiras semanas?
Durante toda a nossa campanha, tínhamos um mantra: ser o governador do emprego, da geração de emprego e renda, por conta que essa é a maior demanda que temos no pós-pandemia. E a gente tem deixado isso muito claro, em propostas que fizemos durante a nossa campanha.
Nós tivemos (durante a campanha) três vertentes: a geração de emprego e renda, uma preocupação também com a transferência de renda, porque a miséria também aumentou durante a pandemia, e a questão do cuidado com a saúde, que é um tema sempre relevante. Claro que os outros temas têm sua importância, mas esses três foram um mantra. (...)
A gente já tem, por ser alinhado e ser da base (do atual governador Belivaldo Chagas), uma ideia clara de como está o governo hoje. Mas ir para dentro da secretaria, pegar números, pegar efetivamente o que tem de contrato, de convênio, de obra em andamento, de projeto já licitado, enfim, para que a gente possa pegar, em cada pasta, esse diagnóstico que é o trabalho da transição.
E a partir daí podermos efetivar as políticas públicas que nos comprometemos de fazer durante a nossa campanha. Eu tenho conversado com a nossa equipe e algumas medidas eu quero implementar de imediato. Outras, a gente vai ter que criar um cronograma baseado justamente nessa realidade que a gente vai encontrar. Já temos a noção pelos números que o governo já vem apresentando, mas precisamos pegar efetivamente algumas informações mais específicas dentro da transição.
O crescimento da miséria é um problema generalizado. Aqui no Ceará também sofremos com esse aumento não só da miséria, mas também da insegurança alimentar. Em Sergipe, essa questão também é determinante? Como que isso está sendo visto agora?
No primeiro momento, a fome não espera. Então, nós precisamos atender essa demanda, ampliando os programas de transferência de renda. Inclusive, temos um que eu me comprometi a fazer de imediato, que é o Cartão CMais, que é um cartão que atende hoje a 20 mil sergipanos com até R$ 200 por mês. (Vamos) Ampliar esse valor para R$ 600 para as mães solos. Então, nós nos comprometemos que aquelas que tivessem (a partir de) dois filhos, teriam ampliado (o valor do benefício), de imediato, de R$ 200 para R$ 600.
Temos aqui o Mão Amiga, que é um programa de transferência de renda que ajuda (os produtores) a citricultura, bacia leiteira e o milho. Nós vamos ampliar também para a rizicultura, para na entressafra poder ajudar a agricultura familiar, e o pessoal da pesca, que também, na época do defeso, poder receber esse auxílio.
Esses programas, nós pretendemos implementar de imediato. Estamos agora estudando números para ver qual o quantitativo que podemos abarcar no primeiro momento, porque, como eu falei, a fome não espera.
Agora, o melhor instrumento de transformação social é o emprego. Por isso, estamos tão focados em gerar emprego. A partir do momento que eu dou emprego, eu gero dignidade e ajudo a combater todos esses problemas.
Nós vamos fazer as duas coisas em paralelo. As políticas públicas de geração de emprego, tudo aquilo que a gente vem se comprometendo, obras de infraestrutura que geram emprego, atração turística (com o) fortalecimento do turismo sergipano, mas também por meio dos serviços gerando mais emprego. Tudo focado no emprego, porque na hora que você gera emprego, dá dignidade, gera renda, você combate a fome e a miséria. Agora, até fazer isso, tem que fazer os programas de renda funcionarem de imediato.
O senhor é aliado do atual governador de Sergipe, Belivaldo Chagas. O quê dessa gestão o senhor pretende dar continuidade e o que o senhor acha que precisa ter mais ênfase no seu governo?
Temos dito que é uma gestão de avanço mais do que de continuidade. O governador Belivaldo encontrou o Estado em uma situação financeira e orçamentária caótica. O Estado tinha salários atrasados, fornecedores com seis, sete meses de pagamento atrasado, o 13º salário era parcelado em seis meses, não tinha crédito e estava em uma situação com as rodovias todas acabadas.
Nesses anos, isso foi saneado. O servidor recebe em dia, o fornecedor recebe em dia, o 13º é pago antecipado, recuperamos 50% da malha viária do estado, mais de mil quilômetros de malha viária foram recuperados em Sergipe. Nosso Capag (Capacidade de Pagamento) passou para a letra B+, uma das melhores do Brasil, só temos 23% da receita corrente líquida comprometida.
Então, o estado de Sergipe hoje é um estado saneado, pronto para o que eu chamo aqui de avanço. Para gerar emprego, desenvolvimento econômico, atrair novos investimentos. Porque o empresário, o investidor não quer vir para um estado que está empepinado, que não tem uma boa capacidade de pagamento. Quando encontra um cenário ruim, isso afasta o investidor. O estado de Sergipe hoje é atrativo, porque além de ter muitas riquezas, de ser um estado que tem potencial, do ponto de vista de gestão, está organizado.
Isso vai me possibilitar fazer um governo... Eu brinco até com meu governador Belivaldo. ‘Eu tenho a chance de ser melhor do que você foi, porque estou encontrando o governo já saneado’. Ele ainda teve que preparar a casa, fazer todo esse trabalho de gestão que não é fácil. É muito difícil fazer o que foi feito em Sergipe, sair de uma situação de quase falência para um estado organizado.
Como vocês pretendem equacionar essas demandas que são reais com alguns dilemas, como a redução da arrecadação do ICMS, que impactam nesses programas sociais nos estados. Essa questão dos benefícios, como vocês vão equacionar financeiramente? Como fechar essa conta?
A transição é importante por conta disso. Pegar os números atualizados, entender a realidade orçamentária. Porque o orçamento é uma questão de escolha: quando eu opto por fazer mais para um lado, eu estou tirando de outro, porque não tem como fazer um novo orçamento, é aquilo que você tem de previsão orçamentária. É questão de opções. Quando eu tenho uma expectativa de frustração de receita por um lado, eu tenho que ver se há uma expectativa crescente por outro, para ver qual é a previsão orçamentária para o ano que vem e dar minha prioridade.
Transferência de renda é uma prioridade? É. Qual o tamanho do programa que eu posso criar? Eu posso abarcar 5 mil mães solos nesse momento? Eu posso abarcar 1 mil? Posso abarcar 10 mil? Tudo vai depender dessa discussão e dessa análise que vai ser feita durante essa transição para que a gente veja realmente qual a nossa força orçamentária.
Para que possamos fazer uma peça, enviar para a Assembleia Legislativa ainda esse ano, pela parceria que temos com o atual Governo, as alterações ao orçamento que a gente entender que são importantes para que a gente possa contemplar os programas de transferência de renda.
E não apenas programas de transferência de renda, tem políticas públicas que nós prometemos que adotaríamos dentro do governo, como a criação da Secretaria da Mulher. É um compromisso nosso criar a Secretaria da Mulher e a Secretaria de Esporte. São duas pastas que a gente vai criar e quando se fala em criar a pasta, se fala em criar orçamento, criar uma estrutura e isso também tem que ser discutido, tem que ser analisado.
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Essa fase de transição agora é muito importante para que se possa entender o tamanho do seu potencial para poder atender as demandas de políticas públicas. O que posso atender de imediato, qual tamanho posso atender e o que vou ter que atender de forma gradativamente.
O senhor é um dos governadores do Nordeste que não fez campanha direta para o ex-presidente Lula, apesar de ter declarado voto nele no primeiro turno. Como deve ocorrer a sua relação com o governo federal?
Eu sempre disse aqui que o meu palanque era plural. Eu tinha um senador (Laércio, do PP) que apoiava o (presidente Jair) Bolsonaro e que se elegeu. Eu tenho um vice (Zezinho Sobral) do PDT apoiando Ciro Gomes e eu, no primeiro turno, apoiando Lula. E nós nos unimos e eu dizia ‘a cola que nos une é Sergipe’. E, pensando maior, pensando no Estado, a gente respeitava as posições diferentes no cenário nacional e unimos forças e fomos para o segundo turno dessa forma.
No primeiro turno, nós passamos por algumas situações meio surreais. O PT entrou com ação contra a gente para que eu não pudesse pedir voto para Lula. Eu pagava multa de R$ 30 mil toda vez que pedisse voto para Lula publicamente. E eu recebi uma busca e apreensão da Polícia Federal atrás de santinho de Lula. Então, eu dizia ‘se o PT não quer meu apoio, não quer meu voto, então’...
No segundo turno eu declarei neutralidade e fui muito abraçado pelo eleitor bolsonarista aqui em Sergipe, que se somou ao eleitor de Lula, de Simone Tebet, de Ciro que também já tinham simpatia por nós. E no segundo turno esse eleitor fez uma diferença grande na nossa campanha. (...)
Agora, eu dizia que 'na gestão, não cabe ideologia'. Quando acaba a eleição, a gente tem que administrar com quem o povo escolheu. Se o povo escolheu, se o povo teve a sabedoria de me escolher e teve a sabedoria de escolher Lula, é com Lula que vou trabalhar. Se tivesse feito a opção por Bolsonaro, eu iria bater na porta dele do mesmo jeito.
No primeiro dia, porque acho que a gente tem que trabalhar em uma parceria dos estados com a União. Não dá para um estado pequeno como Sergipe, um estado pobre, que é bem administrado, mas que não é rico, estar fazendo ideologia, colocando estado na oposição porque o presidente não é o que eu queria. Isso não tem a menor condição.
Nós vamos ter o alinhamento, nós vamos pedir investimentos para Sergipe, vamos cobrar investimentos para Sergipe. O PSD, o presidente (Gilberto) Kassab, já deixou muito claro que para apoiar o Governo Lula, para ir para a base, precisa que uma das condicionantes seja também investimentos e apoio para o Governo de Sergipe. Mostrando a afinidade que temos dentro do partido.
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Quando o senhor estiver encerrando o mandato, em 2026, qual o senhor quer que seja a marca da gestão?
Duas coisas me movem. Primeiro, eu quero ser o governador que traga o desenvolvimento econômico para o meu estado. Esse desenvolvimento econômico vai gerar melhoria na qualidade de vida do nosso povo, vai gerar emprego para o nosso povo e vai gerar renda para o nosso povo.
E eu quero fazer do meu governo, um governo próximo das pessoas. Eu tenho uma marca como político, como homem público, como deputado, de ser um próximo do meu eleitorado. Está sempre ali nos bairros, nas comunidades, nos municípios, nos povoados. E eu quero levar o governo para perto das pessoas, para que ele possa entender melhor a realidade das pessoas.
Eu já criarei, de imediato, um governo itinerante. A partir de janeiro, a cada 15 dias, eu levarei a estrutura do governo para despachar de dentro de um município, para poder ouvir os munícipes, ouvir as demandas. É um gesto de agradecimento à população, mas também uma forma de deixar o governo cada vez mais perto das pessoas, sem perder esse contato.
Então, eu quero ser o governador que manteve uma relação próxima com o eleitorado e que trouxe o desenvolvimento econômico para o estado. Se eu conseguir isso, e vamos trabalhar muito para conseguir, a gente marca a nossa história.