Saúde Mental: desafio invisível que custa caro
A saúde mental, segundo a OMS, é um estado de bem-estar no qual os indivíduos reconhecem suas habilidades, enfrentam desafios cotidianos e contribuem para suas comunidades. No entanto, a realidade contemporânea mostra que garantir esse equilíbrio tornou-se um dos maiores desafios globais.
No Brasil, a questão assume contornos alarmantes. Com o avanço da precarização do trabalho, o aumento da pressão por produtividade e o enfraquecimento de redes de suporte, o país enfrenta uma escalada preocupante nos índices de transtornos mentais. Em 2024, dados do Ministério da Previdência Social indicaram que mais de 472 mil trabalhadores foram afastados por questões psiquiátricas, um aumento de 400% desde o início da pandemia.
O impacto econômico desse fenômeno é colossal. Cada afastamento tem, em média, duração de três meses, e o custo mensal por trabalhador gira em torno de R$ 1,9 mil. No acumulado, a Previdência Social arca com uma despesa superior a R$ 3 bilhões ao ano, refletindo não apenas a fragilidade do sistema de suporte aos trabalhadores, mas também a negligência estrutural com o bem-estar mental no ambiente corporativo.
Entre os principais gatilhos estão condições laborais adversas, como metas inatingíveis, jornadas exaustivas, assédio moral, conflitos interpessoais e ausência de autonomia nas decisões. Tais fatores escancaram um modelo produtivo que, sob o pretexto da eficiência, esgota a força de trabalho e compromete a sustentabilidade econômica e social do país.
Diante desse cenário, o Ministério do Trabalho anunciou uma atualização na Norma Regulamentadora nº 1. A nova regulamentação estabelece regras rígidas para a fiscalização da saúde mental nas empresas, prevendo sanções para organizações que falharem na prevenção desses riscos. O reconhecimento da relação entre saúde mental e produtividade representa um avanço, mas sua aplicação exige uma mudança cultural profunda.
Mesmo com avanços regulatórios, o obstáculo do estigma persiste. Diferente de outras condições médicas,quadros de adoecimento mental são frequentemente invisibilizados ou tratados com desconfiança. O trabalhador que adoece mentalmente é, muitas vezes, visto como "fraco" ou "incapaz", e essa percepção impede a busca por ajuda e retarda o tratamento.
Empresas que reconhecem a importância de ambientes saudáveis não apenas reduzem custos com absenteísmo, mas também promovem inovação e engajamento. A promoção da saúde mental deve ser encarada como um pilar estratégico de desenvolvimento econômico e social. A negligência nesse campo impõe custos financeiros expressivos e, mais do que isso, compromete a dignidade humana.
Cabe ao poder público, às empresas e à sociedade construir um futuro em que a saúde mental não seja um privilégio, mas um direito garantido e protegido. Só assimconseguiremos superar esse desafio e criar um Brasil mais justo e humano.
Álvaro Madeira Neto é médico sanitarista