IA e Medicina: aliada ou vilã?
A inteligência artificial (IA) vem ganhando destaque ao longo dos últimos anos, participando ativamente em vários processos na área de educação, saúde e segurança. Recentemente, uma plataforma de diálogo virtual, capaz de produzir textos criativos, poesias, contos, códigos de programação e receitas aqueceu o debate sobre os limites da inteligência artificial. O mais impressionante é que as obras realizadas, a partir de conteúdo disponível na internet, se assemelham às de autoria de “humanos reais”.
Na medicina, a inteligência artificial já é uma realidade em diferentes especialidades, como radiologia, anatomia patológica, cirurgia, cardiologia, nefrologia, psiquiatria e medicina reprodutiva. As plataformas de inteligência artificial possuem algoritmos, criados a partir de arquivos médicos, capazes de diagnosticar e propor tratamentos para diferentes condições de saúde.
No cenário da medicina reprodutiva o uso já é cada vez mais presente, mas é cercado de muita polêmica. A busca de algoritmos associados a técnicas de edição genética capazes de gerar o embrião “perfeito”, com potencial de implantação e isento de patologias, é cercado de debates éticos. O potencial eugenismo e o acesso limitado dessas técnicas inovadoras nos remetem a um cenário real de ficção científica.
A princípio, essas ferramentas podem contribuir para um acesso rápido e mais assertivo para agravos da saúde, melhorando a qualidade da assistência médica. Entretanto, os efeitos colaterais dessa nova realidade podem trazer prejuízos incalculáveis, a começar pela quebra do sigilo médico e a perda do calor humano e acolhimento da relação médico-paciente.
Imaginem as operadoras de planos de saúde, empresas de seguro de vida e os departamentos de Recursos Humanos utilizando algoritmos de inteligência artificial capazes de mapear o risco de doenças de cada um de seus candidatos. Certamente, muitos, daqueles rastreados pela inteligência artificial, ficariam sem assistência médica, teriam suas apólices de seguro negadas ou estariam desempregados. Dessa forma, a inteligência artificial precisa desenvolver um algoritmo que identifique seus próprios riscos.
Marcelo Cavalcante é médico especialista em reprodução humana