Câncer e desigualdade social
Outubro é um mês que nos faz refletir sobre o câncer, com campanhas importantes voltadas para a conscientização do câncer de mama e do colo de útero. No entanto, é fundamental que essa discussão se amplie, para que possamos considerar todos os tipos de câncer e os desafios que eles representam para a saúde pública no Brasil.
O câncer é uma das principais causas de morte no país, e a luta contra essa doença vai muito além da prevenção e do diagnóstico precoce. A realidade é que muitas pessoas, especialmente as mais vulneráveis, ainda encontram barreiras no acesso ao tratamento e aos cuidados adequados. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a maioria dos países, inclusive o Brasil, não financia adequadamente os serviços prioritários de tratamento do câncer e os cuidados paliativos, o que compromete o atendimento a quem mais precisa. Isso reflete a urgência de fortalecer nosso Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir que ninguém fique sem o suporte necessário, independentemente de onde mora ou da sua condição social.
Quando falamos em diagnóstico precoce, sabemos que ele pode salvar vidas. Em países com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), as chances de um diagnóstico precoce aumentam em 50%, e isso faz uma enorme diferença nas taxas de sobrevivência. No entanto, essa realidade ainda está longe para muitos brasileiros. A desigualdade no acesso aos serviços de saúde e a falta de planejamento efetivo em várias regiões do país dificultam o tratamento eficaz do câncer.
Em estudo publicado em 2024 na Revista Brasileira de Cancerologia do INCA mostrou que apenas 63% dos estados brasileiros têm operacionalizados seus Planos Estaduais de Atenção Oncológica, e a maioria desses não seguem as diretrizes estabelecidas. Ou seja, estamos falhando em garantir um atendimento coordenado e de qualidade.
O câncer é uma doença que assusta e que, muitas vezes, traz consigo um impacto emocional devastador para as famílias. Portanto, ao pensarmos sobre o tema neste mês de outubro, devemos lembrar que fortalecer o SUS e garantir acesso igualitário ao tratamento do câncer é mais do que uma questão de saúde, é uma questão de justiça social. A luta contra essa e outras doenças não pode ser limitada por fronteiras econômicas ou sociais. Cada diagnóstico representa uma vida, uma história, e cabe a nós, como sociedade, garantir que todos tenham a chance de lutar de forma justa.
O futuro da saúde pública no Brasil depende de ações corajosas, que enfrentem as desigualdades e priorizem o ser humano acima de tudo.
Álvaro Madeira Neto é médico sanitarista e gestor em saúde