A polarização irá definir as eleições municipais?

Escrito por Pedro Barbosa ,
Pedro Barbosa é cientista político e diretor técnico do Instituto Opnus de Pesquisa
Legenda: Pedro Barbosa é cientista político e diretor técnico do Instituto Opnus de Pesquisa

A polarização política na qual o Brasil mergulhou nos anos recentes ficou ainda mais latente ao final da apuração do 2º turno da eleição de 2022, a mais acirrada da história: Lula com 50,9% dos votos válidos e Bolsonaro com 49,1%, resultado que nos indica um cenário com duas forças políticas de tamanhos quase equivalente. Na crônica política, a atenção de jornalistas, analistas e atores políticos volta-se, agora, para tentar prever se as eleições municipais deste ano serão pautadas pela polarização ou se as questões locais continuarão no centro do debate.

Responder a essa questão é fundamental para a estratégia dos candidatos, pois permitirá definir conceitos e narrativas que serão apresentadas durante as campanhas. Um olhar menos cuidadoso talvez nos fizesse pensar que o resultado da eleição presidencial assegura competitividade a qualquer candidatura petista ou bolsonarista nos pleitos municipais deste ano, prenunciando uma repetição do embate de 2022, agora a nível municipal. Contudo, quando nos debruçamos um pouco mais sobre os dados, vemos que a realidade da maioria dos municípios brasileiros não foi de uma eleição acirrada.

O que temos, na verdade, é uma maioria de cidades onde um ou outro saiu vitorioso com vantagem razoável sobre o adversário. Para ilustrar melhor, tomemos os municípios com votação mais acirrada, onde o primeiro colocado naquela cidade, seja ele Lula ou Bolsonaro, obteve até 10 pontos percentuais a mais do que o segundo. Esse cenário só aconteceu em 18% dos municípios brasileiros, o que significa dizer que, em 82% dos municípios, a diferença entre primeiro e segundo colocados foi maior que 10 pontos. Mesmo se fizermos um recorte mais amplo, observaremos que em dois terços dos municípios brasileiros, a vantagem do primeiro colocado para o segundo foi maior do que 20 pontos.

Certamente não podemos afirmar que há equivalência de forças em um município onde o vencedor teve pelo menos 60% dos votos e o derrotado 40% ou menos. Como exemplo, no Ceará, onde Lula venceu em todos os municípios, em apenas 4 sua vitória foi por menos de 20 pontos. Nos outros 180 municípios, sua vantagem foi maior, chegando ao máximo de 91% dos votos válidos em Araripe, na região do Cariri.

Assim, é difícil imaginar que, em um município onde Lula venceu com 60% dos votos, uma candidatura que se defina como bolsonarista tenha chances reais de vitória e o mesmo pode ser entendido de uma candidatura fortemente petista em um município onde Bolsonaro venceu com folga. Se assim ocorrer, podemos supor que as disputas na maioria dos municípios se darão entre candidatos de um mesmo campo ideológico ou, pelo menos, entre candidatos que não se definem ou não se apresentam abertamente como sendo do campo ideológico que perdeu a eleição naquele município. Isso reforça a tese de que, para a maioria dos casos, o debate municipal deve prevalecer sobre a disputa ideológica ou partidária. Mas, calma, não joguemos a polarização fora da análise. Ela veio para ficar e certamente terá seu lugar nas disputas deste ano. Para mim, só não parece que será tão central.

Pedro Barbosa é cientista político e diretor técnico do Instituto Opnus de Pesquisas

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