Síndromes gripais: com vendas até 10 vezes maiores, farmácias do Ceará zeram estoque de medicamentos

Busca por remédios cresce em meio ao aumento de casos de influenza no Estado após retorno de reuniões no fim de ano.

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Principal antiviral recomendado para o tratamento da influenza está em falta na maioria das farmácias do Estado.
Foto: Shutterstock

Com a epidemia de influenza mesclada ao crescimento recente de casos de Covid-19, a procura por medicamentos antigripais nas farmácias do Ceará dispararam desde o início de dezembro. Uma rede de farmácias de Fortaleza registrou vendas até 10 vezes maiores, e outras redes temem desabastecimento. 

Nas maiores demandas, estão antitérmicos, antialérgicos, vitaminas e outros produtos contra coriza, febre e dor de cabeça. A alta coincide com o surgimento de relatos de pacientes sobre dificuldades para encontrar os remédios em algumas farmácias. 

Esse foi o caso da servidora pública Michelle Cabral, que na última semana de dezembro buscou atendimento com a filha em quadro gripal. Diante da fila com mais de quatro horas de espera na rede particular, ela resolveu se antecipar e procurar o Tamiflu, principal antiviral contra a influenza.

Contudo, ela se frustrou logo no início.

“Liguei para algumas redes e não tem, nem na loja nem na rede toda. Fui em algumas farmácias, mas possivelmente não vou achar. Conversando com familiares, vi que está difícil de encontrar”, relata.

A reportagem entrou em contato com cinco farmácias de Fortaleza, Caucaia, Maracanaú, Iguatu e Sobral, tanto de grandes quanto pequenas redes. Em todas, o Tamiflu está em falta, e não há nem previsão de quando o estoque será reposto.

Outro paciente, que preferiu não se identificar, conta que também demorou a encontrar o Koide-D, medicamento em forma de xarope utilizado no tratamento de alergias do aparelho respiratório. Após ligar para várias drogarias, ele só conseguiu o genérico em uma rede.

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Conjuntura diferente baixou estoques

Na rede de farmácias Santa Branca, com unidades em Fortaleza, Região Metropolitana e interior do Ceará, a demanda atual pelos medicamentos é totalmente atípica, conforme dados da presidência:

  • Genérico do Tamiflu (oseltamivir) - 30 vezes mais que a saída normal 
  • Vitaminas e minerais - 6 vezes a venda normal dos meses anteriores 
  • Antigripais/anti-histamínicos - 10 vezes a venda da média de vendas de meses anteriores 
  • Vitamina C efervescente - 8 vezes a média de venda de meses anteriores

Representante do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Ceará (Sincofarma-CE), Fábio Timbó aponta preocupação do varejo farmacêutico brasileiro porque não havia expectativa, nesse momento, de haver uma epidemia da influenza.

“Isso pode redundar numa procura excessiva por antivirais, e em casos mais graves, do Tamiflu. Não há um estoque efetivo desse tipo de medicamento porque a procura por ele, durante a pandemia, foi mínima”, explica.

Soma-se ao baixo estoque o recesso que a indústria farmacêutica promove no fim de cada ano, com o fechamento de laboratórios, dificultando a reposição rápida dos fármacos.

“Se perdurar essa procura, em um curto espaço de tempo, pode faltar”, percebe Timbó.

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A Roche Farma Brasil, que produz o Tamiflu no país, afirmou em comunicado que a operação logística em relação ao medicamento, considerando abastecimento e distribuição, “segue normalizada em todo o território nacional”.

Além disso, alega que “a empresa permanece atendendo os pedidos recebidos em sua totalidade, sem atrasos no que se refere ao prazo de entrega pré-estabelecido com clientes”.

O que dizem as farmácias

A Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) forneceu um levantamento sobre a procura por testes no Ceará, mas disse que não dispõe de dados sobre a busca por medicamentos antigripais.

Diante da falta dos medicamentos, o Diário do Nordeste procurou diversas redes de farmácias e drogarias que funcionam em Fortaleza para verificar a situação dos estoques.

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Na loja matriz das Farmácias Aldesul, foi informado que houve aumento na venda de antibióticos e antigripais nas últimas semanas, “mas não está faltando ainda”.

Maurício Filizola, presidente das Farmácias Santa Branca, concorda que “os distribuidores não estavam preparados” porque, em 2021, houve baixa demanda por antivirais.

“Estamos preocupados porque o abastecimento está quase finalizando, mesmo tendo nos antecipado e comprado a mais. As chuvas estão antecipadas, e a gente esperava que essa procura começasse um pouco depois”, afirma. 

O empresário garante que ainda há Tamiflu no estoque, mas orienta que o cliente “procure o medicamento para utilizar e não para guardar” e dê preferência à indicação médica. 

Em nota, a rede Drogasil declarou que, desde o início de dezembro, a demanda por produtos de combate aos sintomas de gripe “cresceu muito”, em todo o Brasil. “A rede está atuando na reposição dos estoques para o abastecimento de suas lojas para os próximos dias”, completa.

A Pague Menos informou apenas que “registra um aumento relevante nas vendas de produtos antigripais em suas unidades de todo o país nas últimas semanas”, comparadas com o mesmo período de dezembro de 2020 e janeiro de 2021.

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