Síndrome pós-Covid:10% dos infectados relatam sequelas que vão da queda de cabelo à perda de memória

No Brasil, a estimativa é que as sequelas deixadas pelo Sars-CoV-2 já atingem 1,4 milhão de pessoas. No Ceará, seriam pelo menos 67 mil cearenses

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Mulher com máscara e face shield olha pela janela
Legenda: A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que um em cada dez pacientes acometido pelo vírus relata casos de síndromes pós-infecção
Foto: Shutterstock

Imagine você sentar à mesa para tomar um café e não sentir o mesmo sabor dos alimentos. Ou fazer uma refeição sem que os alimentos tenham "cheiro agradável". Imagine ainda não saber distinguir os aromas dos perfumes ou identificar o perigo através do oltafo. Para dentista Debora Marques, 33 anos, essas suposições se fizeram presentes logo após ela se recuperar da Covid-19

Débora, no entanto, não está sozinha. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que um em cada dez pacientes acometido pelo vírus relata casos de síndromes pós-infecção. No Brasil,  a estimativa é que as sequelas deixadas pelo Sars-CoV-2 já atingem 1,4 milhão de pessoas. No Ceará, seriam pelo menos  67 mil cearenses. Essas síndromes são variadas e vão bem mais além da perda do olfato ou paladar. 

O médico cardiologista Rafael Macêdo, enumera que dentre os quadros identificados em alguns pacientes pós-Covid, estão o infarto, arritmia, depressão, perda de memória, falta de ar, dificuldade de raciocínio, fadiga e dores intensas, diarreia crônica, perda de cabelo e distúrbios de pele. "Podem se prolongar por meses", alerta o especialista.

Tive queda de cabelo bastante significativa, diminuiu 30% do volume normal. Além disso meu olfato nunca mais foi o mesmo. Os cheiros não são como antes, as comidas não têm o mesmo cheiro agradável e os perfumes parecem todos iguais. Alguns alimentos perderam o sabor agradável, o café não tem o mesmo gosto e aroma de antes.
Debora Marques

Debora teve Covid-19 em maio do ano passado, durante o pico da primeira onda. Após se recuperar da doença, teve um  quadro "de fraqueza", que durou cerca de dois meses, e neste período começou a identificar as sequelas. Além da perda do olfato e paladar, quase um ano após ter contraído a infecção, Debora ainda se queixa "do esquecimento frequente no dia a dia". "Não procurei um médico. Achava que era coisa da minha cabeça", revela.

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Essa postura da dentista sugere que o número de afetados por sequelas pós-Covid seja ainda maior, diante do contingente de pessoas que não procuram profissionais da saúde. A procrastinação na ida ao médico, além de gerar uma subnotificação, pode fazer com que esses danos sejam irreversíveis.

"Costumo dizer que o primeiro ano depois do quadro grave de infecção é o período de ouro. A forma com que o paciente lida com as sequelas vai ser fundamental para sua evolução e cura. Os primeiros três meses são os mais importantes, onde conseguimos maior e melhor recuperação daquele paciente", detalha Rafael.

Passado este ínterim, as chances de plena recuperação já entram em outra rotação. "De três a seis meses, a marcha já é um pouco mais lenta. Até um ano, fica ainda mais lenta. Após este período, os danos ficam bem mais complicados de serem curados e pode existir sequelas irreversíveis", acrescenta o médico. 

1,4 milhão
Estima-se que 1 em cada 10 pessoas tenham sequelas pós-covid por mais de 12 semanas. Entre quatro e 12 semanas após a infecção, estima-se um número ainda maior: 1 em cada 4 pessoas

Danos reversíveis 

A assistente social Liduina Elizabeth Angelim, 63 anos, ficou sete dias internada em setembro do ano passado. Três meses após se recuperar da doença, 63, ela teve início a uma série de percepções até então inéditas em sua vida. "Meu cabelo começou a cair bastante. Também me senti cansada, algo novo para mim. Sempre fui muita ativa, mas no início deste ano comecei a sentir-me fadigada, sem disposição", relata.

Liduina se encaixa no perfil citado pelo cardiologista Rafael Macêdo. Ela buscou ajuda médica e, neste mês de abril, identificou singular melhora na queda de cabelo."Quase não cai mais". O cansaço e os episódios de lapsos de memória, porém, ainda seguem presentes. 

Rafael explica que quanto maior for a gravidade da Covid-19, maiores e mais prolongados podem ser as sequelas. Liduina teve  50% do pulmão comprometido. Além disso, é hipertensa. "Pessoas cardiopatas, hipertensas, diabéticas, dentre outras comorbidades, tendem a ser mais propensas a terem algum tipo de sequela", pontua o médico.

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Síndromes pós-Covid

Mas, afinal, o que explica essa gama de sequelas em pacientes das mais diversas faixa etárias? Estudos em todo o mundo estão em andamento para elucidar e identificar as causas dessas síndromes. Uma dessas pequisas, realizada pelo neuropsiquiatra Flávio Kapczinski, diretor do Centro para Neurociência Clínica da Universidade McMaster, no Canadá, sugere que o vírus tenha impacto neurológico.

 

"Apesar de ser uma doença respiratória, a Covid acomete muito o sistema vascular. Como o cérebro é rico em vasos, ele acaba sofrendo pequenos danos, que chamamos de microinfartos", explica o cardiologista. Por ser bastante sensível, cérebro se torna vulnerável e, a recuperação dessas inflamações causadas pelo novo coronavírus  pode levar algum tempo. 

Problemas neurológicos, como lentidão de raciocínio e dificuldade de concentração, ambos relatados por Liudina Angelim e Debora Marques, não são as únicas sequelas. Infecções agudas nos vasos sanguíneos podem levar a AVC na pós-Covid. 

Tipos de sequelas o pós-covid:

  • Perda de cabelo;
  • Ansiedade;
  • Encefalite;
  • Depressão;
  • Dificuldade de atenção;
  • Perda de memória;
  • Menor visão;
  • Trombose retiniana;
  • Zumbido;
  • Perda de olfato;
  • Perda de paladar;
  • Palpitação;
  • Náusea;
  • Diarreia;
  • Insuficiência renal;
  • Hepatite;
  • Redução da capacidade pulmonar

 

 

 

 

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