Rachel de Queiroz: 4 trechos serão requalificados até o fim de 2020

Aréas do Parque municipal, que sofrem com abandono e poluição nos bairros Monte Castelo e São Gerardo, serão recuperadas. As intervenções incluem novas estruturas cicloviárias e sistema sustentável de drenagem urbana

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br
Legenda: Riachos e lagoas ao longo do parque municipal receberão limpeza e drenagem
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

Bem diferente do cenário cinzento descrito na seca de O Quinze, marco literário da cearense Rachel de Queiroz, o Parque que leva o nome da autora na Capital é a segunda maior área verde da cidade. O equipamento, que abrange direta e indiretamente 14 bairros de Fortaleza, terá quatro de seus 19 trechos requalificados. Um edital de licitação para o empreendimento já foi lançado e deve ser concluído em novembro. A previsão de conclusão é no fim de 2020.

Até o momento, apenas os trechos 3 e 4 do Parque, regulamentado em 2014, passaram por melhorias. O Bosque do Bem, no bairro São Gerardo, e o Polo de Lazer da Sargento Hermínio, no bairro Presidente Kennedy, foram entregues em 2015 e 2016, respectivamente. Os espaços receberam quadras, playgrounds, academia ao ar livre, novos mobiliários e iluminação.

Segundo a licitação, de modo geral, o Parque foi concebido "como um sistema de praças interconectadas por caminhos arborizados". Ou linear, como salienta Águeda Muniz, titular da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma). "Ele tem continuidade. A pessoa vai sair de qualquer ponto e poder visitar os mais de 200 hectares. Ele vai beneficiar diretamente mais de 300 mil pessoas", explica.

A licitação mais recente engloba duas áreas próximas à Av. Sargento Hermínio, no Monte Castelo, e mais duas perto do North Shopping, no São Gerardo. Os critérios para as escolhas, diz Águeda, foram a não necessidade de reassentamentos e a possibilidade de utilização mais rápida pelas pessoas do entorno.

Interligação

O trecho 1, conhecido como Praça do Açude João Lopes, "de uso já consolidado pela população", deve receber passagens elevadas, percursos cicláveis e pequenas reformas. O trecho 2 compreende a Rua Catarina Laboure e conectará a Praça do Açude ao Polo de Lazer por meio de uma ciclorrota e faixa de pedestres.

Já o trecho 5, do Riacho Alagadiço, envolve o entorno da Praça Jonas Gomes de Freitas, mantida pelo North Shopping. Por lá, está proposta a criação de um passeio compartilhado e o prolongamento das áreas de estar. No entanto, a maior área livre disponível para o projeto é o quadrilátero verde ao lado desta Praça, o trecho 6, em frente à Avenida Parsifal Barroso.

Hoje, a enorme área é utilizada em parte como depósito de lixo e entulhos. A não ser pelas paradas de ônibus no entorno, há pouco uso do local por parte de pedestres. "A gente fica até com medo porque o mato daqui é alto. Alguém pode se esconder por trás, né? Fico rezando para o ônibus chegar logo", relata uma estudante, que não quis se identificar.

O projeto considera que a região é naturalmente alagada; por isso, deve receber uma das principais soluções na tentativa de recuperação ambiental: as lagoas de amortecimento, ou "wetlands". A tecnologia utiliza plantas aquáticas para evitar o transporte de lixo ao longo do curso hídrico, se propondo a amenizar em parte a contaminação das águas. "A própria vegetação faz a drenagem e a limpeza de todo o alagado. É um sistema natural", destaca Águeda Muniz, afirmando que o local deve receber recuperação de ecossistema e criação de microclima.

Saneamento

Para o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, o sistema mais eficaz para diminuir a poluição dos cursos d'água é o saneamento, com a retirada de todas as ligações clandestinas e de escoamentos de esgoto a céu aberto. "O que é necessário ali, de fato, é a reestruturação do canal do riacho porque ele está todo tomado por lixo, que é acumulado nas margens e por restos de materiais de construção", lamenta o especialista, ao considerar um "setor abandonado".

O especialista defende ainda o reflorestamento de mata arbórea que se perdeu com a urbanização - que também soterrou pequenos canais da região. "As áreas verdes são essenciais para a saúde coletiva porque capturam dióxido de carbono, proporcionam microclimas e maiores níveis de umidade. São dados quantificados, cientificamente, correlacionados entre ecossistemas urbanos e a qualidade de vida das pessoas", garante.

O Parque Rachel de Queiroz também deve receber equipamentos esportivos e de lazer para o público infantil e adultos. Além disso, estão propostos espaços de leitura, uma iniciativa para incentivar a doação e aquisição de livros entre os usuários do Parque, "fomentando a ideia da homenagem a Rachel de Queiroz e à cultura local".

O projeto está organizado em duas fases de intervenção. A primeira contempla os trechos de 1 a 10 e se subdivide em três. Na primeira etapa, serão contemplados os trechos 1, 2, 5 e 6. Na segunda, 8A e 9, que devem ser entregues até março de 2021. A última, abrangendo as áreas 7, 8B e 10, ficam para o fim de 2021, segundo Águeda Muniz. "Mais de 60% do parque vão ser implantados até 2020. Vão ficar faltando pouquíssimos trechos", ressalta a secretária municipal.