Psiquiatra orienta sobre como proceder em caso de sequelas neurológicas e psiquiátricas da Covid-19

Evidências sobre efeitos neuropsiquiátricos ainda são prematuras. Mas no Hospital de Saúde Mental, em Messejana, observações indicam algumas dessas alterações

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
hospital de saúde mental
Legenda: Pacientes com quadros graves podem buscar o Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), em Messejana
Foto: Natinho Rodrigues

A pandemia de Covid-19 já perdura por mais de um ano, mas os dados sobre os efeitos da doença ainda são muito prematuros. No campo da saúde mental, médicos relatam e estudos registram evidências de sequelas neurológicas e psiquiátricas em pacientes afetados pela Covid-19. No Ceará, o diretor clínico do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), em Messejana, Helder Gomes, explica que tal situações têm sido observadas na unidade e orienta os pacientes a buscarem ajuda especializada.    

De modo geral, as doenças neurológicas são aquelas que afetam o cérebro, a medula espinhal e os nervos, enquanto o rol de doenças psiquiátricas incluem uma variedade de condições que afetam o humor e o comportamento. 

A Covid foi diagnosticada no Brasil, pela primeira vez, há pouco mais de um ano. Para ciência é um tempo muito curto. É necessário a realização de estudos para a gente poder consolidar dados, mas já há algumas evidências, relatos. O que a gente vê é que há uma alta taxa de descompensação, de transtornos psiquiátricos em pacientes que estão acometidos pela Covid", afirma.
Helder Gomes
Diretor clínico do Hospital de Saúde Mental

O hospital não tem ainda sistematizado o volume de pacientes que evidenciam esses quadros, mas, de acordo com o médico, na prática, o que se percebe é que, diante da contaminação por Covid, há também a acentuação de sintomas relacionados, principalmente, aos transtornos de ansiedade, depressivos, bem como aqueles ligados aos quadros de dependência química. 

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"Acaba que as pessoas têm uma preocupação enorme de como vai ser o quadro delas, como elas vão ficar. Além disso, há um medo, receio de infectar um outro familiar e também há necessidade de se seguir as medidas de isolamento, que faz com que haja um alto taxa de depressão, de ansiedade, de insônia nesse paciente", completa. 

O quadro mais comum, segundo Helder, é de acometimento de pacientes que já apresentavam sintomas psiquiátricos antes da pandemia, mas, reforça, há também aqueles que durante esse período manifestam pela primeira vez algum transtorno psiquiátrico. 

Sequelas neurológicas

"Estamos falando muito sobre essa questão mais comportamental, mas a gente sabe que é uma questão orgânica também. Já foi evidenciada infecção no sistema nervoso central, onde da mesma forma que a Covid pode afetar pulmão, rins, fígado, ela poderia afetar também o tecido cerebral. Isso faria o desencadeamento de alguns tipos de quadro, no caso quadro de psicose, com alucinações, que seria, no caso, escutar vozes, ou delírios, situações que não existem, com alteração de comportamento, agitação e agressividade", completa. 

Conforme o psiquiatra, tais ocorrências estão sendo relatadas na literatura científica, e é preciso destacar que se tratam de casos mais graves e mais raros. "Alguns estudos apontam a liberação de alguns neurotransmissores específicos nesse período, que faz com que esse quadro aconteça", acrescenta.

Ele diz ainda que há problemas psiquiátricos, mas também relatos de manifestações neurológicas. "Alguns conhecidos, por exemplo, permanecer após um quadro de Covid com a perda do paladar, com a perda do olfato, permanecer com dificuldade de raciocínio, dificuldade de atenção, de processamento, de permanência de dores crônicas, com formigamentos". 

Quando buscar o hospital

Conforme o médico, os pacientes que tiveram Covid e agora sentem a persistência dessas possíveis sequelas, primeiro devem buscar orientação e apoio familiar. Em paralelo, devem procurar um serviço de atenção à saúde mental disponível em cada município, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) para acompanhamento com psicólogos e psiquiatras.  

"Caso graves, em que há tentativa de suicídio, pensamento de suicídio, alterações comportamentais, devem ser encaminhado para o CAPS, onde será avaliado e acompanhado. Caso haja um novo agravamento, com a necessidade de procura de um serviço emergência ou de uma internação hospitalar, o paciente estará referenciado, será atendido pelo Hospital de Saúde Mental", orienta. 

 

 

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