Projeto desenvolvido no Parque do Cocó visa reduzir poluição de ambientes aquáticos

A iniciativa consiste em renovar os nutrientes da água e estimular a alimentação dos animais nativos

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
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Legenda: As bolinhas têm validade de seis meses
Foto: José Leomar

Um jovem despeja pequenas bolas marrons em um reservatório de água. A iniciativa, estranha à primeira vista, refere-se a um procedimento para renovar os nutrientes do local e estimular a alimentação de animais nativos. O projeto é elaborado no Parque do Cocó desde novembro de 2020, para auxiliar a limpeza de rios, lagos e tanques de criação de peixes, por exemplo.

O estudante de geologia da Universidade Federal do Ceará, Lucas Magalhães (24), apresentou a técnica durante o seu estágio obrigatório no Parque do Cocó. O projeto é inspirado em tradições asiáticas que já atuam com esse tipo de procedimento para reconstituir rios. Japão, Malásia e Filipinas fazem parte do grupo de países que já desenvolveram esse trabalho. As pequenas bolas são compostas por lactobacilos e leveduras em estado de dormência, tratados com farelo de trigo fermentado.

O processo de fabricação das bolinhas compreende várias etapas. Primeiro é feita a colheita dos microrganismos. “A gente inicia usando o arroz como uma isca para a captura dos microrganismos locais que são adaptados da nossa região. A gente cozinha o arroz de maneira que fique durinho, e a gente leva para a natureza nativa. Procuramos pela serapilheira, que tem fungos visíveis, e deixamos uma caixinha de arroz mal cozido em locais diversos. Com três dias a gente volta e colhe esses microrganismos”, explica Lucas.  

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Legenda: O processo de fabricação das bolinhas compreende várias etapas. Primeiro é feita a colheita dos microrganismos
Foto: José Leomar

Depois, os lactobacilos e leveduras são postos em estado de dormência, com auxílio de açúcar mascavo ou demerara, que exerce pressão osmótica e retira a água. A partir disso, é feito um procedimento chamado bokashi, uma espécie de farelo que será fermentado. “Pegamos nossa coleção e diluímos em outras soluções, como água do mar ou vinagre. A gente hidrata o farelo até um certo ponto e põe ele em um lugar fechado para que fermente sem a presença de oxigênio. Cerca de dez dias depois o farelo já vai estar fermentado”, conta o estudante. Uma mistura com o farelo fermentado e argila é feita e separada em partes iguais. A argila serve para formar as bolinhas em uma estrutura sólida. 

Transformação

Quando finalizadas, as bolinhas são postas no fundo do ambiente aquático para que a transformação seja realizada. “Cada bolinha vem com uma diversidade e com um grande número de microrganismos e quando eles são inoculados em um ecossistema, eles começam a expandir e crescer. Eles usam diversas coisas que existem nesse ecossistema como alimento, como por exemplo a lama do fundo de qualquer corpo d’água. Dessa lama, eles vão se alimentar, vão se alimentar de folhas, galhos, resto de matéria orgânica e vão fermentando”, informa.

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Legenda: O estudante de geologia da Universidade Federal do Ceará, Lucas Magalhães (24), apresentou a técnica durante o seu estágio obrigatório no Parque do Cocó
Foto: José Leomar
  

O estímulo a alimentação dos microrganismos transforma o excesso de matéria orgânica em alimento para fitoplâncton e zooplâncton, que acabam se diversificando. Dessa forma, uma cadeia alimentar é reconstituída e peixes e camarões podem sobreviver do que o local oferece. É devolvido o equilíbrio ao ecossistema. As bolinhas têm validade de seis meses. 

Lucas explica ainda que é possível reestruturar qualquer ambiente aquático, independentemente da extensão. Porém, é necessário um estudo em relação a quantidade de bolinhas a serem depositadas no local. “Pode se aplicar em qualquer escala, cada bolinha inoculada com farelo pode ser aplicada em 1m² de água, tudo depende de quantas forem feitas”, argumenta. 

Como o trabalho exige extrema dedicação braçal e manual, até o momento, foram feitas cerca de 50 bolinhas, que foram aplicadas primeiramente na Lagoa das Ninfeias, no Parque do Cocó. Segundo o estudante, a presença desses organismos por si só, indica que o ambiente está com certos problemas.  

Nesta terça-feira (5), um tanque de criação de peixes no Parque Adahil Barreto recebeu as bolinhas. O local registrou uma mortandade de peixes inesperadamente. De acordo com a gestora desse trecho do parque, Viviane Carneiro, a aplicação da técnica em ambientes menores permite uma melhor observação dos resultados. “Facilita a nossa visibilidade, a questão de estar acompanhando diariamente o processo de como eles vão reagir”, esclarece. 

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Legenda: Viviane Carneiro explica que a aplicação da técnica em ambientes menores permite uma melhor observação dos resultados
Foto: José Leomar

Apoio

Para que o projeto tenha continuidade, os funcionários do Parque precisam de doações de alguns itens. Os interessados podem deixar a contribuição na sede do cocó ou entrar em contato via mensagem no Instagram @lucasmaga32.  

“A nossa intenção é levar esse trabalho a grande escala e colocar no Rio Cocó, para que a gente tenha esse trabalho fantástico colocado em prática. A ideia principal é que a gente possa replicar isso para outros parceiros também e que o meio ambiente venha a ganhar com esse projeto”, conclui Viviane. 

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