Pesca: sustento e lazer nas águas de Fortaleza

Lagoas, rios e mar, em distintas condições de balneabilidade, são ocupados por pescadores urbanos

Escrito por Thatiany Nascimento - Repórter ,
Legenda: No espigão da Beira-Mar, a captura de peixes tem sido uma prática constante
Foto: Fotos: Fernanda Siebra

O destino não é o alto mar. É no meio da cidade que o produto de desejo se encontra e está nas águas. É de lá que se extrai o alimento, o sustento, o que pode virar renda ou o prêmio pela paciência. Jogar a rede ou aguardar com a vara. Por prazer ou necessidade, é preciso preparar e espreitar, pois, de repente, o pescado vem. Em meio ao cenário urbano de Fortaleza, a pesca é atrativo. As águas das lagoas, rios e do mar são, em distintas condições de qualidade e balneabilidade, ocupadas dia após dia por quem faz da pesca uma prática de lazer ou de subsistência.

>Poluição põe em risco consumo de peixes

Quanto tempo é preciso dedicar até que o peixe seja fisgado? Há quem passe horas dentro das lagoas, balneáveis ou não da Capital, arremessando redes. Há quem fique fora delas, e de lá jogue a tarrafa para colher dezenas de pescado. Na orla, a serenidade é ferramenta, para, com a vara, na pesca recreativa, esperar o momento certo da captura das variadas espécies.

Da qualidade das águas das lagoas, dos rios e até do mar se sabe pouco na Capital. Ao percorrer alguns destes reservatórios e recursos hídricos que servem para a prática da pesca, a equipe do Diário do Nordeste, ao longo da semana, colheu depoimentos de pescadores urbanos. Nenhum deles demonstrou evidente preocupação com a poluição, em alguns casos visível, dos locais.

Nas lagoas dos bairros Parangaba, Maraponga e Messejana, o ritmo assemelha-se. Há quem chegue cedo e fique até de tarde. Outros pescadores, de vara ou tarrafa, começam no fim da tarde e permanecem até escurecer. "Faço trabalho de pedreiro, mas quando a coisa está fraca, vou atrás de pescar. Passamos em duas lagoas antes daqui, mas estavam barrentas e não conseguimos", explicou o pedreiro Cristiano Silva, 27, ao sair das águas da Maraponga e parar a pesca na tarde da última terça-feira (5).

É a venda da corda (palha de coqueiro) com 10 peixes - de cerca de 20cm - a R$ 10,00, que garante o sustento "em tempos de pouco trabalho", conta o pedreiro-pescador. Os vizinhos são os fregueses certos. Retirados da lagoa e tratados ali mesmo, na beira do reservatório, os peixes seguem para consumo. A prática é a mesma na Parangaba e em Messejana. Neste último bairro, há quatro anos, é das águas da principal lagoa, que o pescador de água doce, Ricardo de Lima, 23, tira a renda. A corda com oito tilápias custa R$ 5,00.

Nesse emprego, Ricardo não tem horário fixo, mas tenta chegar às 10h e ficar até às 16h. Com parte do corpo dentro da água, ele pesca montado em uma câmara de ar. Uma espécie de sacola onde são jogados os peixes o acompanha. Outros companheiros de pesca o auxiliam na retirada do pescado e na condução à margem da Lagoa. A tarrafa é jogada várias vezes durante o dia, até retirar, em média, 200 peixes ao fim da jornada.

Costume

"Tem muita gente pescando nessa lagoa todos os dias. É costume do povo mesmo", assegura o motorista Jailton Lopes da Silva, 30. Natural do Rio Grande do Norte, Jailton, mora em Fortaleza há dois meses. Nesse tempo, tem feito da Lagoa de Messejana seu espaço de refúgio, lazer e de teste das habilidades pesqueiras. Filho de pescador de alto mar, o motorista, que nas folgas é pescador urbano, conta empolgado como aproveita as horas livres "tarrafeando". Em Natal, também pescava. Na capital cearense, manteve a prática.

A vocação para as águas é tanta, que o pai de Jailton, seu João Lopes da Silva, ao visitar Fortaleza, na semana passada, ocupou-se também no ofício. Tarrafa nas mãos, o pescador João Lopes, 65, seguia para a lagoa em busca de tucunarés para seu lazer e alimentação da pequena família. No local, contam os experientes pescadores urbanos, os peixes pequenos ficam na beira. Já os maiores, que podem chegar a um quilo, estão no centro do reservatório, onde o som da cidade pouco chega.

Rio e mar

É também o movimento urbano que afasta os peixes no Rio Cocó, mas de cima da Ponte da Av. Sebastião de Abreu, o pedreiro Neto Ferreira de Sousa, morador do bairro Vicente Pinzón, já sabe qual a melhor técnica. A pesca protagonizada por ele não tem tarrafa nem vara, é feita com linha, que no seu entendimento é "mais fácil de usar".

A linha tem cerca de cem metros e iscas espalhadas por toda a extensão. Arremessada dentro do Rio e somada a paciência e a atenção do pescador, é o instrumento que podem garantir êxito na jornada realizada uma vez por semana. As tardes de pescaria já lhe renderam peixes de até quatro quilos. "Mas tem peixe até de sete quilos no Rio. É preciso ter sorte para pegar", explica.

Se os peixes grandes são motivos de ostentação nas pescarias urbanas ou em alto mar, na Beira-Mar, para o casal paulista, o aposentado José Sebastião dos Santos 65 e a professora Ana Fernandes, 42, o grande atrativo é "apenas pescar. Não importa o tamanho". Passeando por Fortaleza pela primeira vez, os dois, semana passada, juntaram-se a dezenas de pescadores urbanos que ocupam de forma intensa o Espigão da João Cordeiro.

No local, assim como na Praia de Iracema, homens e mulheres de diversas idades empunham varas e empenham-se na tarefa de captar os peixes. "Nós pescamos e devolvemos para o mar. Sempre fazemos isso em todas as cidades que visitamos".

O espigão é também ponto certo para os pescadores urbanos "que querem virar a noite". "Sempre pesquei com meu pai, desde criança eu pesco e gosto. Fico até às 2 horas e não tem problema", conta o técnico em informática Robson dos Santos, 28, que na última quarta-feira, dia 6 de julho, por volta das 18 horas, preparava o anzol para passar horas na terra capturando peixes e observando embarcações no alto mar.

Tipos de peixe

Açudes

Pescada, curimatã, tucunaré e tilápia.

Rios

Camurim, saúna, agulha, sardinha

Praia

Pescada, saúna, serra e camarão marinho

Peixamento de lagoas

Projeto desenvolvido pela Secretaria da Agricultura, Pesca e Aquicultura (Seapa) que distribui de forma gratuita peixes para o repovoamento dos reservatórios públicos, comunitários e de áreas de assentamento no Ceará

Espécies

Nos peixamentos são colocadas espécies já presentes nos reservatórios, adaptadas às condições ambientais. As lagoas de Fortaleza e da Região Metropolitana recebem tilápias

Distribuição em 2015

Lagoa de Messejana: 50 mil

Lagoa do Opaia: 50 mil

Lagoa da Paupina: 30 mil

Lagoa do Coité: 30 mil

Lagoa do Mondubim: 50 mil

Lagoa da Maraponga: 50 mil

Lagoa da Parangaba: 50 mil

Lagoa do São Cristóvão: 40 mil

Lagoa do Tabapuá: 50 mil

Total = 400 mil alevinos de tilápia

SD

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