Passeio relembra visita de Orson Welles à Capital

Setenta e cinco anos depois, rotas do trajeto realizado pelo cineasta são reconstituídas por fortalezenses

Escrito por João Lima Neto - Repórter ,
Legenda: Os participantes passaram pelo Centro da Cidade e seguiram ouvindo histórias pela Praia de Iracema e Mucuripe
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

Por mais conhecida que seja pelos seus moradores, a capital cearense ainda tem muita história a revelar aos seus residentes. Uma narrativa conhecida de muitos é a visita do cineasta americano Orson Welles. Ele esteve em Fortaleza, por ocasião das filmagens de "It's all True" (É tudo verdade), documentário que narra a saga de quatro jangadeiros para denunciar suas precárias condições de trabalho ao Governo Federal. Setenta e cinco anos depois, parte do percurso realizado pelo produtor de cinema é reconstituído por fortalezenses no programa "Percursos Urbanos", promovido pelo Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB).

No último sábado (18), os participantes foram guiados pelo professor e roteirista Nílbio Thé, que contou mais sobre a obra do cineasta e os casos pitorescos acontecidos com Orson em Fortaleza. O passeio, que tem seu início no Centro Cultural, recebe moradores e turistas a cada fim de semana. A técnica de enfermagem Gorete Mareiro, 56, percorreu a cidade com o grupo. "O projeto cultural é bom para quem não tem muito tempo no dia a dia de passear. Conheci muitas histórias da cidade pelo projeto. Algo que está ao nosso alcance, mas que é pouco divulgado", declara.

Saindo do Centro de Fortaleza, o grupo seguiu até a Praia de Iracema. Dentro do ônibus, Nílbio contou os enfrentamentos dos pescadores durante a captação de imagens da produção cinematográfica. O percurso seguiu até a área de jangadas, ao lado do Mercado dos Peixes. Os participantes tiveram a oportunidade de comparar as diferenças de embarcações da época da gravação do filme até os barcos mais modernos.

Modernidade

O pescador Francisco das Chagas, 42, recebeu os visitantes. "As jangadas hoje estão bem modernas, além disso os pescadores são mais assistidos, apesar de ainda sofrerem com a falta de atenção do poder público".

O ponto final foi a residência da família do pescador Manuel Olímpio Meira, conhecido por "Jacaré". Ele ficou famoso por desbravar o mar até Rio de Janeiro, onde chegou após 46 dias de viagem, enfrentando as maiores adversidades, para expor ao Presidente Getúlio Vargas as precárias condições de vida da classe. Ao voltar para Fortaleza com sua tripulação, a história já havia alcançado dimensão internacional, despertando o interesse de Orson Welles. Jacaré morreu durante filmagens na Barra da Tijuca, acidente que jamais foi explicado. O que se sabe é que ele faleceu tragado pelas ondas do mar no dia 19 de maio de 1942. São desencontradas até hoje as versões do caso, que nem mesmo seus companheiros conseguiram explicar.

A família do pescador ainda mora perto do mar, na Praia de Iracema. Netos, cunhados e irmãos vivem da venda de água de Cocó, tapioca e café. A neta Cristina Tabosa, 35, guarda retratos e quadros desgastados, ainda da época das gravações.

O articulador do projeto do CCNBN, Júlio Lira, acredita que a cidade ainda tem muito a falar sobre seu passado. "A rotina atribulada das grandes capitais faz com as pessoas vão se distanciando da sua realidade e origens. O projeto tenta resgatar parte desse acervo cultural existente em cada pedaço da cidade", conta.

Vida

Orson Welles foi diretor de filmes consagrados como Cidadão Kane e A Marca da Maldade. "Cidadão Kane", de 1941, colocou o diretor entre os mais famosos. Aos 25 anos, Orson Welles revolucionou as técnicas de filmagem com recursos até então inexploradas como profundidade de campo, ação entrecortada num mesmo ambiente, planos longos, movimentos de câmera e edição rápida.

Mais informações

No próximo sábado (25), o Projeto visita uma comunidade pesqueira e mostra a técnica chinesa milenar de criar esculturas com o papel machê.

www.Bnb.Gov.Br/percursos-urbanos

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