Jovens arriscam a vida ao praticar 'surfe ferroviário'

Diariamente, trens cargueiros cruzam Fortaleza para transportar combustíveis, alimentos e materiais de construção até o porto marítimo do Mucuripe. Porém, quem para e observa a passagem deles nota uma brincadeira antiga e perigosa: o "surfe ferroviário". Na manhã da última quinta-feira (28), a reportagem do Diário do Nordeste flagrou quase dez crianças e adolescentes se equilibrando de forma arriscada sobre vagões.

>Atividade é forma de lazer em bairros

Em outro trecho, uma menina fez o trajeto sobre o trem desde a região do bairro Parangaba e chegou a gritar, para a reportagem, que "desceria" no Mucuripe. Ao chegar próximo a uma das estações em construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), ao lado do Terminal do Papicu, crianças e adolescentes escalaram as escadas laterais dos vagões e também subiram no teto do trem. Um deles ainda estava vestido com a farda de uma escola municipal.

De acordo com Roberto Filho, agente da Ferrovia Transnordestina Logística (FTL), empresa responsável pela gestão da malha ferroviária na qual circulam os trens de carga no Ceará, os chamados "surfistas de trem" costumam subir nos vagões em movimento quando a composição percorre o interior dos bairros que margeiam a via.

Combate

Em nota, a FTL afirmou que adota uma "rigorosa política de combate ao surfe ferroviário". Conforme a assessoria, a empresa realiza treinamentos para maquinistas e condutores e monitora a via férrea. A FTL faz campanhas de conscientização em escolas e nas proximidades das passagens de nível.

Já a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor) revelou que, hoje, não há registro de surfe ferroviário em linhas operadas por ela. A prática, que é ilegal, já acontece há bastante tempo e é denunciada pelo Diário do Nordeste desde 1992. À época, as pessoas danificavam os veículos atirando pedras e chegavam a desengatar os vagões. Porém, o surfe ferroviário não se resume a ficar de pé sobre o veículo. Os adolescentes acompanhados pela reportagem se arriscavam ainda mais saltando de um vagão para outro, com o trem em movimento.

Segundo o agente da FTL, Roberto Filho, até os profissionais de vigilância da empresa têm dificuldade em se manterem estáveis quando estão viajando.

Como diz o Código Penal, andar sobre vagões de trens em movimento é crime por colocar a vida de outras pessoas em risco e ser capaz de perturbar o serviço de estrada de ferro. No primeiro, a pena varia de três meses a um ano de detenção; no segundo, é imputada reclusão de dois a cinco anos assim como a aplicação de multa. (Colaboraram Nicolas Paulino e Fernanda Façanha)

Óbitos

Maio de 2001: Alberdan Gomes,16, e outro adolescente, conhecido como Jonas, 13, morreram ao tentar pular de um vagão para outro na Vila Peri

Dezembro de 2001: O estudante Erasmo de Freitas Mendonça,18, viajava pendurado na porta do trem quando foi atingido por uma placa de sinalização. Ele morreu após cair e ser arrastado por cerca de 50 metros

Março de 2012: Um garoto de 13 anos pulava entre vagões quando se desequilibrou e morreu atropelado, na linha férrea da Av. Borges de Melo

Agosto de 2012: Luciano Alves,21, praticava surfe ferroviário quando bateu a cabeça em um fio, caiu e teve o corpo cortado pelas rodas do trem

Outubro de 2013: Luiz Felipe Pinto Lima, 22, foi dilacerado após cair do trem na linha da Via Expressa

Julho de 2014: Thiago dos Santos,14, escorregou do teto do trem e foi atropelado pela locomotiva