Hospitais da rede estadual registram alta de 298% no fluxo de pacientes na retomada de atendimentos
Os acolhimentos de pacientes sem diagnóstico de Covid-19 saltaram de 5.324 em abril, pico da pandemia, para 21.229 no mês passado.
Depois de ter sido alterado por conta da Covid-19, ainda em curso, mas com um cenário epidemiológico de estabilização, o fluxo de atendimentos ambulatoriais locais está sendo retomado. Em sete hospitais públicos, sendo seis geridos pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) e outro ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC), o número de pacientes assistidos aumentou 298,74% em agosto se comparado ao balanço de abril, pico da pandemia. Os dados, atualizados no último dia 1º de setembro, são da plataforma IntegraSUS.
O boletim semanal da Secretaria da Saúde de Fortaleza (SMS), divulgado em junho, atestou que o pico de casos do novo coronavírus ocorreu a partir do dia 19 de abril. Exatamente nesse período, a procura por serviços ambulatoriais caiu nas unidades de referência da Capital. Naquele mês, por exemplo, apenas 5.324 pacientes sem diagnóstico do SARS-CoV-2 receberam assistência médica.
Já no mês passado, quando as autoridades sanitárias destacavam a queda na média móvel de contaminações, a quantidade de pacientes atendidos chegou a 21.229, quatro vezes mais que o registrado anteriormente.
No Hospital Geral de Fortaleza (HGF), que teve a maior variação percentual (492,64%), o número de acolhimentos passou de 2.092 em abril para 12.398 em agosto. Atrás aparece o Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), que subiu de 151 para 662 pacientes (338,41%).
O Hospital Geral César Cals (HGCC) ocupa o terceiro lugar da lista com alta de 249,14%, uma vez que em agosto foram 4.455 pacientes contra 1.276 de abril. Na sequência, estão: Hospital São José (151,36%), Hospital Geral Walter Cantídio (87,01%), Hospital Regional Norte, (51,30%) e Hospital Regional do Sertão Central (24,57%).
O Hospital Geral de Fortaleza acolheu 2.092 pacientes em abril. Já no mês de agosto, o número chegou a 12.398, o que corresponde a um acréscimo de 492,64%.
O cronograma de funcionamento dos hospitais cearenses foi ajustado ainda em março, após a confirmação dos primeiros casos positivos de Covid-19 e a publicação de decreto assinado pelo governador Camilo Santana. O texto publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) determinava a reclusão domiciliar para evitar a transmissão do vírus, assim como a restrição das atividades econômicas e não essenciais.
Cronograma
Nesse cenário, a Sesa impôs a suspensão de cirurgias eletivas plásticas, bariátricas, tireoidectomias não neoplásicas, fundoplicatura gástrica, "reconstrução de trânsito", hemorroidectomias, ortopédicas, hiperplasia benigna da próstata, cálculos renais não obstrutivos, entre outras. Além disso, atendimentos sem caráter de urgência e emergência nos hospitais públicos e nas policlínicas também foram temporariamente cancelados.
Para a coordenadora do ambulatório do HGCC, Lucíola Campos Lavor, o atual estágio da pandemia no Ceará está fazendo com que haja uma demanda espontânea de pacientes. Se antes eles tinham receio de procurar a unidade tendo em vista o "medo da contaminação", agora, com a flexibilização dos serviços e a redução de óbitos por Covid-19, eles mesmos vão em busca da consulta.
"Alguns que a gente não manteve contato, porque podiam aguardar essa retomada, realmente não vieram por medo. Mas, a partir de julho e agosto, a procura espontânea voltou. A sensação da maioria das pessoas é que a pandemia acabou, então, elas voltaram a procurar o ambulatório", explica, citando também o retorno de procedimentos eletivos que contribuiu para o aumento de atendimentos. "No auge da doença, nós não tínhamos cirurgia bariátrica, porque o nosso hospital ficou com pacientes internados por Covid-19. Voltamos a fazê-la de forma gradual, apenas uma por semana".
Ao mesmo tempo, a unidade executa a busca ativa de pacientes. Aqueles que tiveram cirurgias canceladas durante o período atípico estão sendo chamados novamente para fazer o pré-operatório. Até agora, 11.600 ligações telefônicas foram feitas. A prioridade são os da ala oncológica. Segundo a coordenadora, o hospital está captando os pacientes com diagnóstico de câncer nos últimos três meses. "Nós tivemos 40 biópsias positivas para câncer", diz.
Triagem
Em Sobral, o Hospital Regional Norte manteve os ambulatórios cirúrgicos, mas com demanda reduzida. Ao chegar uma nova solicitação de leito, a equipe fazia uma triagem com base em critérios clínicos. Os pacientes de cirurgia vascular ou torácica retornavam no primeiro pós-operatório ou em caso de complicação cirúrgica. Os da neurocirurgia, por sua vez, tinham os retornos imediatos agendados, assim como os de tumores cerebrais.
"Sempre quando a gente ligava, perguntava se ele tinha alguma infecção de sítio cirúrgico. Se ele estivesse bem, não retornaria nesse primeiro momento; se tivesse alguma queixa, já seria agendado. Só vinham os pacientes que se encaixavam nesses critérios", informa a enfermeira coordenadora de ambulatório do HRN, Juliana Veras.
Na última segunda-feira (31), a unidade retomou os atendimentos nos ambulatórios de "follow-up" para o acompanhamento de recém-nascidos até os dois anos de idade, no de reumatologia, cirurgia-geral e clínica médica. Nesta última, os acolhimentos haviam sido suspensos para evitar aglomerações. "Nós tivemos uma realocação de profissionais que precisaram ser direcionados para assistência por conta da abertura de setores e até do adoecimento de alguns colegas", enfatiza.