Há 46 dias, taxa de contágio da Covid em Fortaleza segue abaixo de 1
O índice indica quantas pessoas em média são infectadas por alguém que já está contaminado pelo coronavírus. O ideal é que essa taxa, de fato, seja menor que 1, pois essa condição demonstra possível estabilização da pandemia
A taxa de transmissão da Covid-19 em Fortaleza vem recuando de forma sistemática há 46 dias. Atualmente, o chamado número de reprodução, que indica quantas pessoas em média são infectadas por alguém que já está contaminado pelo coronavírus, é de 0,88 na Capital. O ideal é que o número esteja abaixo de 1 para estabilizar a pandemia. Com esse índice, a projeção é que cada grupo de 10 pessoas contaminadas consiga infectar outros 8 indivíduos. No Ceará, enquanto Fortaleza tem a menor taxa de contágio, o município de Altaneira, no Cariri, é o que tem, no momento, índice de reprodução mais alto, de 2,87.
Mas, qual o efeito do recuo dessa taxa? Esse índice é usado por epidemiologistas para saber o rumo da pandemia. A taxa de reprodução de um vírus, também conhecida como RT, é estimada a partir de cálculo matemático que leva em consideração dados diários sobre o tamanho da população, casos confirmados da Covid, número de mortes, de infectados e recuperados.
No Ceará, a plataforma IntegraSUS da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) disponibiliza as informações diárias sobre a Taxa de Reprodução. Fortaleza alcançou o índice de reprodução 1, no dia 21 de maio e, desde então, esse número recua. Conforme o IntegraSUS, o registro acima de 1 indica que o município tem alta transmissão do vírus. Entre 1 e 0,5 a transmissão é considerada média. De 0,5 a 0 é baixa.
Reabertura
Na semana passada, o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste havia alertado, em seu 9º boletim, que possivelmente Fortaleza era única capital da Região que obteve uma "documentação clara e inequívoca do controle efetivo da propagação do coronavírus por um período de tempo considerado seguro (pelo menos 2-3 semanas)" para implementar planos de relaxamento do isolamento social e garantir a reabertura sequencial de alguns setores da economia.
Um dos coordenadores do Comitê e ex-ministro de Ciência e Tecnologia, professor Sérgio Machado Rezende, explica que "o Ceará está lá na frente nessa corrida macabra, o número de casos e mortes. Tem cerca de 120 mil casos, mais de 6 mil mortes. É um número muito grande. Agora, felizmente, o que está acontecendo é que nas últimas semanas o ritmo de crescimento diminuiu. Ainda está crescendo, mas o ritmo diminuiu. Enquanto isso, alguns estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste que estavam em situação muito confortável já não estão numa situação tão confortável. Então, felizmente a situação do Ceará está desacelerando".
Para avaliar o cenário epidemiológico de cada território, relata Sérgio, o grupo de pesquisadores tem no RT um parâmetro importante. Ele reitera que a situação ideal é que essa taxa de contágio esteja menor que 1. "Quando o RT é menor do que 1 durante 14 dias, as medidas podem ser flexibilizadas. Essa, por exemplo, é a situação de Fortaleza". No Estado, relata ele, a taxa de contágio tem oscilado. "Podemos dizer que a situação no Estado já não está tão desconfortável como era há um mês, mas ela não está confortável", pondera.
Interiorização
Conforme o IntegraSUS, a taxa de contágio no Ceará, no momento, é de 0,68. É o menor índice desde o começo da pandemia. No entanto, o pesquisador - assim como os demais especialistas alertam e os dados demonstram - chama atenção para a interiorização da doença. "É muito importante controlar o número de casos e óbitos no interior, tendo um sistema de saúde que atenda a todos evitando que as pessoas do interior venham para a Capital. A situação não está tão crítica como esteve no passado. Então, é importante controlar a doença no interior porque nas capitais ela está basicamente controlada", diz.