Entenda como e por que ocorre redução da proteção das vacinas contra a Covid-19
As vacinas, muitas vezes, necessitam de atualizações ao longo do tempo para renovar a memória das células de defesa do corpo
Apesar das vacinas serem formas efetivas de proteção coletiva contra diversas doenças na sociedade, algumas delas necessitam de reforços. No caso dos imunizantes contra a Covid-19, o Ministério da Saúde anunciou, nesta quarta-feira (25), que o Brasil vai disponibilizar uma dose de reforço a públicos-alvo específicos a partir de setembro. Entenda como e por que há redução da defesa vacinal nos organismos depois de determinado período.
De acordo com o estudo britânico ZOE Covid, a proteção das vacinas Pfizer/BioNTech e Oxford/AstraZeneca, por exemplo, começa a diminuir em seis meses. Na análise feita após um mês da aplicação da segunda dose, a Pfizer contava com uma eficácia de 88%, que foi para 74% cinco a seis meses depois. Já a AstraZeneca foi de 77% para 67% em quatro ou cinco meses.
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Segundo o imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira, especialmente em pessoas imunocomprometidas ou com mais idade, a sobrevida das células de memória pode não ser muito extensa no corpo. “Por isso, é necessário fazer doses de reforço para que os níveis de células de anticorpos se mantenham nesses indivíduos”.
Além disso, o professor reitera que a redução pode acontecer por vários motivos. “Nós estamos assistindo à mutação se acumulando na Sars-Cov-2 e isso pode fazer com que o vírus mude a ponto de que aqueles anticorpos e aquelas células produzidas pela vacina não sejam capazes de neutralizá-lo mais”.
Funcionamento viral
Conforme Tiago Sampaio, farmacêutico e professor do departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da UFC, o vírus é um microrganismo muito primitivo que tem a capacidade de se multiplicar e de sofrer mutações. “Enquanto os seres humanos ou outros animais demoram milhões de anos para sofrer uma mutação, o vírus pode sofrer uma em questão de dias e isso vai gerando variantes”.
Neste contexto, as vacinas atuam através da ativação do sistema imunológico, isto é, “você expõe o indivíduo a uma forma branda daquela infecção e, muitas vezes, você precisa aplicar novas doses para que esse tenha um reforço dessa memória, assim como já acontece com a vacina da gripe, da hepatite e do tétano”.
A memória é gerada a partir das células de defesa do corpo humano que, ao serem expostas a partículas do vírus por meio dos imunizantes, vão reconhecer e neutralizar aquele agente infeccioso, caso entrem em contato com ele novamente no futuro.
Celeiros de variantes
O imunologista Edson Teixeira destaca, neste sentido, que os países que não têm uma alta cobertura vacinal contra o coronavírus podem se transformar em “celeiros de novas variantes”, as quais tendem a se disseminar, inclusive em outros locais com elevadas taxas de imunização, por conta de um possível escape imunológico.
Assim, embora as vacinas contra a Covid-19 sejam eficazes contra todas as variantes até agora, inclusive contra a Delta, a comunidade científica tem o receio de que ocorra o surgimento, no futuro, de novas mutações que inibam a atuação dos anticorpos proporcionados pelas vacinas disponíveis, fazendo com que elas não sejam mais capazes de neutralizar a infecção.
Nesta conjuntura, Teixeira relata que a pandemia da Sars-Cov-2 só chegará ao fim quando 80% a 90% da população estiver imunizada de forma rápida. “Isso faz com que o vírus passe a não ter por onde circular, e aí a pandemia realmente tende a ir embora, mas isso só será possível quando a gente vacinar rápido a ponto de evitar o aparecimento de novas variantes”.
É necessário ainda que as pessoas continuem seguindo os cuidados de prevenção, como o distanciamento social, o uso de máscaras de proteção adequadas e a higienização das mãos e dos objetos com álcool 70%.
Campanha de Vacinação
Até esta quarta-feira (25), o Ceará aplicou 7.272.923 doses das vacinas contra a Covid-19. Destas, 5.036.108 destinaram-se à primeira dose, 2.081.363 à segunda e 155.512 à dose única. As informações são da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Já Fortaleza aplicou, até mesma data, 1.719.097 doses de imunizantes contra o coronavírus na D1, 751.759 doses na D1 e 27.012 na dose única, segundo atualização da Prefeitura Municipal. Neste sábado (28), a capital iniciará a Campanha em adolescentes via agendamento.