Em fevereiro, Fortaleza concentra 4 a cada 10 novos casos de Covid no Ceará
Desde outubro, período no qual a Prefeitura de Fortaleza considera ter começado a segunda onda da pandemia, cresce a participação dos pacientes da Capital no total de contaminados no Estado
No decorrer da pandemia de Covid, houve um processo interiorização da contaminações no Ceará, e isto gerou alerta e impactos. Agora, na atual dinâmica, embora as infecções pelo novo coronavírus sigam em aumento gradual, a cada mês, nas cidades do Estado, nos últimos períodos, a Capital - que detém 29,2% da população cearense -, assim como no início da crise sanitária, concentra as maiores proporções de novos casos da doença.
Esse mês, 45% do total de novas infecções no Estado foram de pessoas da Capital. Conforme dados do Integrasus, em fevereiro, até o dia 18, das 19.525 novas confirmações, 8.789 foram em Fortaleza. Os dados do sistema identificam que, juntos, os outros 183 municípios cearenses tiveram 54,14% dos casos. Dos novos registros, até o dia 18 deste mês, em 0,86% não consta a cidade do paciente.
A Capital tem a maior população do Estado, com 2,6 milhões dos 9,1 milhões de cearenses, e o percentual de concentração da doença tem variado na cidade ao longo da pandemia. No começo da crise sanitária, em abril e maio, Fortaleza teve, respectivamente, 55,8% e 28,7% do novos casos da Covid.
Com a dissipação da Covid pelas cidades do interior, a Capital manteve, nos meses seguintes, até setembro, menos 15% das novas contaminações. Naquele momento, a atenção se voltou, de forma mais intensa, para a ampliação da garantia da assistência nos municípios do interior do Estado, tendo em vista as evidentes necessidades.
Desde outubro, quando a Prefeitura de Fortaleza considera ter começado a segunda onda da pandemia na Capital, a participação dos pacientes de Fortaleza no total de contaminados no Estado cresce. Se em setembro, a cada 100 novos pacientes com Covid 11 eram de Fortaleza. Em janeiro, a cada 100 infectados, 39 eram da Capital. Hoje, a cada 100 novas contaminações contabilizadas no Estado, 45 são de moradores de Fortaleza.
As confirmações crescem de forma expressiva na Capital. Em outubro foram 5,4 mil novos casos da doença. E nos meses seguintes: 10,5 mil (novembro), 12,2 mil (dezembro), 15,2 mil (janeiro) e 8,7 mil, até o momento, em fevereiro.
Fatores que influenciam essa dinâmica
O médico infectologista, Keny Colares, e consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE), vinculada à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) para entender essa distribuição é preciso considerar a existência de alguns fatores, mas dois eles especificamente, avalia Keny, podem favorecer a ocorrência elevada de casos em um território.
“As epidemias por vírus que causam doenças agudas se beneficiam de aglomeração de pessoas. Então, eles têm uma tendência de se difundir mais facilmente nas cidades grandes. Em populações muito dispersas, como é o caso de algumas comunidades do interior, esses vírus têm dificuldades maiores de se transmitirem. Se o contato é menos regular, há uma dificuldade maior de disseminação"
Outra condição, relata Keny, é a conexão entre as diferentes regiões. "Presença de viajantes. Locais onde há circulação maior de pessoas de fora faz com que essas doenças sejam introduzidas várias vezes”, detalha o médico.
Na avaliação do infectologista, “a lógica é que tenhamos nesse novo momento a doença primeiro na Capital e, se nada for feito, que ela se espalhe pelo interior. No ano passado, primeiro ocorreu nos bairros mais nobres da Capital, depois se expandiu para a periferia e depois para o interior”.
Ele explica que medidas como os bloqueios e o isolamento mais rígido podem quebrar essa onda, contudo, acrescenta “se nada for feito, pode acontecer uma repetição de 2020”.
No decorrer desta semana, o titular da Sesa, Dr. Cabeto anunciou ampliação das medidas de assistência na rede hospitalar do Estado e fez apelos à população, diante da circulação de novas variantes do coronavírus no território cearense.
“Estamos procurando dar ao cearense confiança, capacidade de resposta na crise e solidariedade. O momento epidemiológico é diferente, existem muitas dúvidas sobre mutações, a capacidade de contágio, a gravidade. E é possível que elas influenciem na resposta das vacinas. Por isso, é preciso isolamento. Porque quanto menos o vírus se transmitir, menos mutação tem", afirma Cabeto.