‘É como se fosse acabar tudo’, diz cearense sobre enchentes na Alemanha
Vivendo há seis anos no País, a enfermeira Emanoella Martins-Fuhrmann relata o medo que sentiu após a chegada do temporal histórico que já matou mais de 120 pessoas na Europa
"A gente ouvia a madrugada toda as sirenes dos bombeiros. Era como se fosse acabar tudo, pessoas gritando. Foi impossível dormir porque a gente não sabia se iria acordar no dia seguinte", relembra a cearense Emanoella Martins-Fuhrmann, 26, sobre as enchentes que provocaram inundações e deslizamentos de terra na Europa.
A enfermeira geriátrica é natural de Fortaleza, mas mora há quase seis anos na Alemanha, país mais atingido pelo temporal histórico. De acordo com a Agence France-Presse (AFP), os últimos balanços oficiais registravam a morte de mais de 120 pessoas na Europa, sendo 103 confirmações na Alemanha.
A Bélgica também foi significativamente atingida pela catástrofe, que deixou pelo menos 20 mortos e 20 desaparecidos. Holanda, França e Luxemburgo foram impactadas, mas em menor intensidade.
Emanoella mora em um apartamento na cidade de Solingen, mas trabalha em Langenfeld, cidade localizada em uma das áreas mais afetadas pelas fortes chuvas. Ambas ficam localizadas no estado alemão de Renânia do Norte-Vestfália.
"Eu estava trabalhando na cidade vizinha quando tudo começou. Estava chovendo bastante quando saí de casa, mas não imaginava que estava causando tanto estrago. Quando saí do trabalho vi que algumas ruas estavam interditadas e escutei a todo instante as sirenes", relata, situando que as fortes chuvas começaram a cair ainda na quarta-feira (14).
Serviços suspensos
As inundações transformaram as ruas dos países europeus atingidos. Com a força das águas, carros e árvores foram arrastados, casas ficaram alagadas e montes de escombros se formaram a céu aberto. Vários serviços também foram interrompidos.
“Na cidade onde estava não tinha condução para voltar para casa. Os ônibus não estavam vindo e nem os trens. Os trilhos estavam inundados, por isso nada estava funcionando. Pedi um Uber pra voltar pra casa, mas tivemos que rodear a cidade toda porque estava tudo interditado”.
Algumas pessoas, conta Emanoella, estão impossibilitadas até mesmo de comprar mantimentos, pois há lugares que não aceitam cartão de crédito. Como os bancos estão interditados, não é possível sacar dinheiro em espécie.
Cenário de guerra
Por nunca ter vivido algo semelhante, a enfermeira confessa ter ficado “apavorada” com o acontecimento e como iria trabalhar no dia seguinte.
"Não consegui dormir. Eu fiquei com bastante medo pelos meus amigos, familiares e meus pacientes no trabalho. Como [a catástrofe] estava acontecendo na região toda, a gente não sabia se estava em zona de risco ou não”.
Devido à interrupção dos serviços e quedas de energia, a instituição onde a enfermeira trabalha passou a receber pacientes de outras unidades. No local, chegaram a colocar toalhas nas portas para evitar a entrada da água.
Veja também
“Os velhinhos desse asilo não tiveram comida hoje porque não tem como chegar lá; estou desesperada. As cidades estão em um caos. Estão falando agora no jornal que é como se fosse uma guerra”.
Por enquanto, os moradores da cidade onde a cearense vive não receberam nenhuma orientação oficial para que deixassem suas casas. O único alerta é para que a água da torneira seja fervida por três minutos antes do uso, devido às enchentes.