Dia do Médico: profissionais compartilham aprendizados e superações durante a pandemia

Longas jornadas de trabalho, desejo de salvar vidas e medo da contaminação estão entre as vivências compartilhadas por médicas cearenses no combate da Covid-19

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Apesar de estar nos primeiros meses da gravidez e temer os impactos da Covid-19, a Dra. Anny Gabrielly atuou no combate da pandemia realizando atendimentos em domicílio para pacientes em estágios iniciais da doença
Foto: Arquivo pessoal

Quando a pandemia do novo coronavírus surgiu, pouco se sabia sobre o vírus SARS-CoV-2. Foi tateando no escuro, buscando abrir caminhos e soluções em meio às incertezas, que os médicos batalharam na linha de frente a fim de salvar vidas. Se jogaram rumo ao desconhecido e realizaram o melhor trabalho que conseguiam em meio a um número crescente de casos confirmados da doença.

“Tudo o que a gente acabou passando nesse período, com certeza vamos levar para o resto da vida”, compartilha a recém-formada médica Herlany Bezerra, 25 anos.

Longas jornadas de trabalho, alta procura pelos serviços nas redes de saúde pública e privada do Ceará e pouco tempo de descanso foram elementos constantes no cotidiano da médica. No entanto, apesar desse cenário, o desejo de ajudar a salvar o máximo de pacientes possíveis, sempre foi força motivadora para ela. 

Na metade de março, pouco depois da chegada dos casos no Ceará, a então estudante de medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), se juntou aos colegas de turma para tentar adiantar a data da formatura. Restando apenas algumas poucas semanas de prática para finalizar o curso, conseguiram mudar a formatura do dia 3 de junho para 7 de maio.

Herlany iniciou os trabalhos três dias depois, sendo responsabilizada principalmente plantões de emergência. “A quantidade de pacientes era muito grande. Aprendi bastante. E aprendi com o mais difícil, com o mais grave”, aponta. 

Passando por situações extremamente delicadas, como a necessidade de escolher o paciente para levar ao tubo de oxigênio, ou lidar com o luto de parentes que perderam amigos, filhos e avós para a Covid-19, configurou o período como um dos mais difíceis de sua vida. 

Impactos

“Eu tive sonhos muito fortes. O estresse físico e mental acabou com a qualidade do sono. Uma vez, chegando em casa após um plantão, eu dormi de 10h da manhã, até às 6h do outro dia”, relata a recém-formada. 

Hoje, segue atuando em hospitais da rede público e privada, com foco em outros pacientes, mas atendendo casos de Covid-19 caso necessário. Para ela, um dos grandes aprendizados da pandemia foi fazê-la compreender os limites existentes da medicina, do sistema de saúde e até mesmo do próprio corpo.

“É muito difícil saber como ajudar e não conseguir. Alguns pacientes não respondiam mais ao tratamento. Como era tudo novo, tem coisas dentro da Covid-19 que não sabíamos como tratar”, aponta. A única certeza que leva, após todas as vivências, é de ter realizado sempre o melhor que podia para salvar as vidas que chegavam nas emergências. 

Legenda: Após adiantar a formatura, a médica Herlany Bezerra atuou em hospitais da rede pública e privada no combate da pandemia, vivenciando o que aponta como longas e exaustivas jornadas de trabalho
Foto: Arquivo pessoal

Doação

“Quanto mais cedo diagnosticar e tratar, menor as chances de complicar”. Foi com esse lema que a médica Anny Gabrielly Pontes Rocha, 32 anos passou a realizar o atendimento em domicílio para pacientes diagnosticados com a Covid-19 nos primeiros estágios da doença. “Eu me sentia bastante incomodada quando eu via a situação dos pacientes em só ir para a emergência quando estavam com falta de ar”, explica. 

Durante três meses e meio, atuou de forma individual, embasada em pesquisas que estavam sendo realizados em diversas partes do mundo, para tentar reduzir os impactos do coronavírus nas pessoas que atendia. 

“A pandemia veio sem estudo, então a gente teve que abrir mão disso e tentar fazer o que estava em nossas mãos, com os conhecimentos que iam chegando para tentar acompanhar aquele paciente”, aponta. 

Desafio

Em meio ao cenário de mortes e contaminação crescente, o medo da contaminação foi constante, assim como o receio de que a sua atuação de alguma forma prejudica o bebê. “Eu me doei, arrisquei a minha vida e não me arrependo de nada, faria tudo de novo”, declara.

Tendo atendido mais de 100 pacientes, em que muitos não precisaram de internação, declara que essa foi uma das experiências mais importantes de sua vida, “um desafio imenso”. O estar perto, acompanhar com carinho e atenção, realizando a “medicina humanizada”, foi essencial no combate da doença, segundo a médica.

“Aprendi mais ainda que a medicina não é feita só por medicações, mas também por cuidados humanos. Só em estar perto, acompanhar, dar um ombro amigo, um conselho, dizer que a gente está junto, já estamos praticando medicina”, finaliza. 

Casos

No Ceará, 1.439 médicos foram contaminados pela Covid-19 e 6 óbitos foram registrados, desses, 905 casos confirmados da doença estão concentrados em Fortaleza, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), divulgados no sábado (17). 

Ao todo, o Estado registra 16.848 casos confirmados de profissionais com atuação em unidades de saúde, incluindo recepcionistas, enfermeiros, médicos e outros agentes com atuação em unidades de saúde. Além disso, desde o início da pandemia, também foram registrados 16.632 recuperações neste grupo. 

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