"Deus havia confirmado que essa viagem não me traria paz", diz esposa de desaparecido em lancha
Desaparecimento de cinco homens durante viagem marítima do Rio de Janeiro para o Ceará já dura quatro dias; Marinha continua buscas
A professora Eurides Vieira, companheira do mecânico automotivo Cláudio Vieira, um dos cinco desaparecidos na lancha que saiu do Rio de Janeiro com destino ao Ceará, afirmou que a "intuição de mulher" já havia sinalizado que a viagem marítima poderia ter um desfecho conturbado.
"A mulher tem sexto sentido e Deus havia confirmado no meu coração que essa viagem não me traria paz e não me trouxe paz", disse emocionada, em entrevista ao Sistema Verdes Mares (SVM), na manhã desta terça-feira (2).
Segundo Eurides, o homem já possuía "vasta" experiência no conserto de embarcações, mas foi a primeira vez que ele viajou para outro estado com o intuito de pegar uma lancha. A tarefa de Cláudio era operar a máquina durante o retorno ao Ceará.
"Confesso a você que fiquei muito apreensiva no momento que ele disse que iria. Não concordei com a situação, mas era o trabalho dele, era o que ele tinha vontade de exercer", ponderou. O último contato com Cláudio ocorreu na sexta-feira (29). A filha enviou mensagem questionando onde ele estava ao que ele respondeu: "Filha, estou tentando parar o barco".
Entenda o caso
O mecânico e outros quatro homens desapareceram em alto mar exatamente no dia 29 de janeiro, três dias depois de saírem da Marinha do Brasil, no Rio, com destino à Vitória, no Espírito Santo, onde seria um outro ponto de abastecimento. Contudo, no dia 28 de janeiro, o motor da lancha já havia apresentado problema técnico, o que obrigou o grupo a parar na Urca, Zona Sul do Rio, e consertar a falha.
Segundo a cabelereira Cláudia Moura do Nascimento, esposa de Guilherme Ambrósio, um dos comandantes da lancha, o companheiro já costumava fazer o trecho. "O Guilherme já viajava de Fortaleza para o Rio de Janeiro, e do Rio para Fortaleza de barco, muitos anos nessa profissão, e nunca deu esse problema", diz.
O último contato estabelecido ocorreu no dia 29, momento em que ele relatou que iria parar a embarcação por causa das condições do tempo. "Ele dizendo que ia parar porque estava tendo muito vento e o mar um pouco agitado. No outro dia, eles iam continuar a viagem para a segurança dele e dos outros. Depois disso, a gente não teve mais contato com eles", lembra.
Reivindicação
As esposas do grupo estiveram na manhã desta terça-feira (2) na sede Marinha do Brasil, em Fortaleza, reivindicando por informações. Tatiana Cruz, esposa do empresário Ricardo Kirts, proprietário do barco, denunciou que há falta de retorno por parte da companhia.
"A gente busca informações, e elas estão muito vagas. Nos colocaram em um grupo e é uma coisa muito mecânica. Eu pergunto o que está acontecendo e eles dizem que não podem falar nada, só às 18h", afirmou.
Por meio de nota enviada ao Diário do Nordeste na manhã desta terça-feira (2), a Marinha do Brasil informou que nas buscas realizadas até as 19h dessa segunda-feira (1º) "não foram encontrados indícios que pudessem contribuir para a localização da embarcação e de seus ocupantes".
O Comando do 1º Distrito Naval também ressaltou que as buscas permanecem pelo segundo dia consecutivo com emprego do Navio-Patrulha "Macaé", uma aeronave Sea Hawk (SH-16) e uma aeronave P-95 da Força Aérea Brasileira (FAB), além de embarcações civis e aeronaves que trafegam na área.