Covid-19: ocupação de leitos de UTI em Fortaleza cresce 81% em um mês

Número de pacientes internados nas unidades avançadas públicas e privadas aumentou de 70 para 127 entre 19 de outubro e 19 de novembro. Gestores hospitalares analisam possíveis cenários para decidir sobre ampliação das estruturas de atendimento

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
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Legenda: Pacientes com doenças pré-existentes possuem maior risco de agravamento da Covid-19
Foto: Helene Santos

Não se pode relaxar as medidas de distanciamento social e o uso de máscaras contra a Covid-19. Contudo, as recomendações dadas por especialistas em saúde pública após a flexibilização das atividades econômicas no Ceará parecem não estar sendo seguidas. As internações em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) de Fortaleza cresceram 81,4% entre outubro e novembro, de acordo com dados da plataforma IntegraSUS, alimentada pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), colhidos na manhã dessa sexta-feira (20).

No dia 19 de outubro, a Capital tinha 70 pacientes internados nas unidades de suporte avançado à vida, somando hospitais públicos e particulares. Um mês depois, em 19 de novembro, o número cresceu para 127. No mesmo intervalo, também houve reorganização dos serviços: o número de UTIs ativas para atender à doença cresceu de 111 para 179, um aumento de 61%. Na manhã de sexta-feira, a ocupação nestes leitos era de 70,9%.

"Apesar de a gente estar diminuindo os casos, o vírus continua circulando. Tivemos aumento na ocupação de leitos, principalmente nos hospitais privados, e aumento na positividade dos testes. Isso mostra que não podemos prescindir, nesse momento, de continuar executando as medidas de distanciamento e etiqueta respiratória, bem como o uso de máscara", explica a secretária-executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida.

Atualmente, a rede privada tem maior número de leitos de UTI ativos e pacientes internados. Em 10 hospitais públicos, são 60 leitos ativos e 49 ocupados. Ainda assim, houve incremento em comparação a outubro, quando eram 35 leitos e havia 31 pacientes internados. No Hospital Leonardo Da Vinci, referência da rede estadual para atendimento à Covid-19, por exemplo, a disponibilidade de UTIs aumentou de 10 para 25. Já o número de assistidos dobrou de 10 para 20.

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Para mais

Aramicy Pinto, presidente da Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (Ahece), que agrega 10 estabelecimentos de saúde, percebe que os leitos privados "tiveram movimentação para mais nos últimos 10 dias". "Temos que ficar atentos e nos preocupar porque hoje temos 92 pacientes internados, sendo 50 em apartamentos ou enfermarias e 42 em UTIs, alguns deles entubados. Não é um número alarmante, mas precisamos ficar atentos porque vem apresentando uma oscilação para cima", explica.

Segundo o gestor, a mesma rede chegou a receber 300 pacientes com Covid-19 no período do pico da doença na cidade, em maio, e garante que tem capacidade de atender a um possível aumento da demanda. "Temos UTIs prontas. Elas estão desativadas, os equipamentos estão todos lá, mas não queremos reabrir o que já foi fechado. A população tem que contribuir e muito para não termos uma segunda onda no Ceará", reforça.

A média de ocupação no Hospital Regional Unimed, nesta semana, foi de 80 pacientes, de acordo com a diretora geral Fernanda Colares. O número mais que triplicou desde o início de outubro, quando a média era de 25 pacientes acolhidos. "A partir de 27 de outubro, a gente começou a notar um aumento, e ele veio crescendo de forma consistente, tanto nas internações como na procura pela emergência, que é dividida entre a comum e a respiratória. A mais acentuada é nessa segunda", afirma a médica.

Segunda onda

Para ela, há indícios de que o crescimento vai seguir e pode representar uma 2ª onda da doença na cidade. Entre as principais hipóteses, destaca a possibilidade de a imunidade contra a Covid-19 ser menos duradoura do que se suspeitava e o descuido da população nos contatos diários quando "a vida foi voltando ao normal".

A opinião é corroborada pelo infectologista Keny Colares, professor da Universidade de Fortaleza (Unifor). Segundo ele, a sociedade tende "a querer fugir" de más notícias. "Passar por alguns meses de tranquilidade não significa que a doença não possa voltar em dezembro, janeiro ou fevereiro. É importante não se descuidar e não se expor a situações de risco", destaca.

Keny observa que, desde a segunda quinzena de outubro, Fortaleza vem sistematicamente tendo mais casos notificados, mais leitos ocupados e uma proporção maior de testes dando positivo. "Tem se dado mais nessa parte da cidade de bairros mais favorecidos, onde as pessoas viajam, e depois se espalha para o resto da população", alerta.

No fim de outubro, o próprio titular da Sesa, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, veio a público informar que Fortaleza pode estar passando por "microssurtos" da doença, especialmente em áreas vizinhas ao bairro Meireles, o de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade. No entanto, ele descartou uma 2ª onda no Estado.

Conforme Keny Colares, a Sesa "está tentando se organizar dentro da ideia de que não estamos numa explosão de casos", mas estamos com um aumento. "Precisamos nos preparar para não deixar acontecer uma onda do jeito que aconteceu em abril e maio, com situações tão complexas. Não há motivo para pânico, mas as pessoas precisam ficar atentas", recomenda.

Estudo do panorama

Ele destaca que há uma equipe observando os números atuais para avaliar a necessidade de ampliação de leitos para Covid-19, já que parte deles foi realocado para atender outras especialidades médicas. Até a quinta-feira (19), a Sesa tinha um concurso aberto para receber propostas de tecnologias e ferramentas que ajudem a entender o comportamento do coronavírus no Estado e possam prever o número de novas infecções.

A rede particular também tenta se antecipar. "Não parece ser o mesmo ritmo de crescimento do primeiro pico, mas estamos nos mobilizando para o caso de precisar aumentar nossas estruturas", destaca a médica Fernanda Colares, do Hospital Regional Unimed. "O número de leitos é variável porque abrimos e remodelamos de acordo com a necessidade. Quando a situação epidemiológica vai mudando, vamos nos readaptando".

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