Com 1,8 milhão de cadastros, CE tem o maior número de famílias na pobreza desde o final de 2014

Dados do Cadastro Único, mecanismo do Governo Federal, evidenciam que, na pandemia, a condição de vida da população cearenses pobre piorou. No aspecto mais crítico, 1,06 milhão de famílias no Estado sobrevivem com apenas R$ 89,00 por mês.

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com.br
Legenda: Fortaleza enfrenta problema comuns das grandes cidades
Foto: Diário do Nordeste

Faltas. De estrutura, de dinheiro, de emprego. Para milhares de cearenses, ter o básico é uma permanente dificuldade. No ano da pandemia, os gargalos se acentuaram e as condições de vida pioraram. Sobreviver ficou ainda mais difícil.

No Estado, em outubro de 2020 - dados mais atualizados disponíveis pelo Ministério da Cidadania - havia 1.891.694 famílias pobres e extremamente pobres inscritas no Cadastro Único, mecanismo do Governo Federal de acesso a programas sociais para a população vulnerável.

O total de famílias é o maior número desde dezembro de 2014, quando 1.882.907 grupos familiares estavam em condição de baixa renda e miséria. Na situação mais crítica, 1.064.578 de famílias cearenses, o equivalente a 3.068.443 de pessoas, sobrevivem com até R$ 89,00 por mês.  

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Números que no dia a dia se refletem em dilemas, dores, limitações. No Bom Jardim, periferia de Fortaleza, a dona de casa Gleiciane da Silva Albuquerque, bem sabe os efeitos de tantas lacunas. Na casa onde mora junto à filha de 4 anos, nos fundos da residência da mãe, tem dias que só não falta o alimento, por há solidariedade de associações e entidade na redondeza. Ela, que não concluiu o Ensino Médio, conta que antes da pandemia, atuava de maneira informal em uma confecção em uma pequena fábrica próximo de sua residência. 

“Eu trabalhava por diária. Era avulsa. Fazia acabamento de confecção e chegava a receber uns 200 reais por mês. Eu não ia todos os dias pra lá. Mas na pandemia, ele (empregador) me dispensou. Porque eu trabalhava nas peças que eram feitas a mais e na pandemia só estão fabricando aquele tantinho”, explica. Durante a crise sanitária, o auxílio emergencial garantiu a sobrevivência, com o encerramento do benefício, Gleiciane afirma que não sabe exatamente como projetar o futuro. 

A busca por trabalho, relata, continua incessante. “Eu vou lá e fico perguntando quando vão precisar novamente, mas até agora nada”. Gleiciane diz que sustenta a filha sozinha, o pai morreu durante a gravidez. A família ajuda. “Quando não tem nada, eu mando ela pra almoçar lá. Já eu, me sujeito a ficar trancada em casa e receber o que os outros dão. Tem gente que dá cesta básica. Quando a gente é adulto, passa, mas o pior é ver a criança com necessidade”. A filha de Gleiciane, afirma ela, está matriculada na pré-escola pública perto de casa. Em 2020, na pandemia, as aulas na creche foram suspensas e não mais retomadas. A esperança é de retorno esse ano. 

Para a pesquisadora Leila Passos, professora do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece), é justamente a pandemia que evidencia a elevação da pobreza, que se reflete no aumento de inscrições no Cadastro Único. Contudo, não é possível atribuir a situação atual somente à crise sanitária. 

“Isso tem atingido, sobretudo, pessoas em situação de pobreza residentes das periferias de Fortaleza. Essa análise tem que levar em consideração a própria condição de precarização da existência em que grande parte dos residentes das margens urbanas já se encontrava antes da pandemia”, afirma.

“É uma situação de pobreza multidimensional. Além de uma condição de renda extremamente baixa para garantir suas condições de sobrevivência, inclui, por vezes, a negação do direito ao trabalho protegido, e cada vez mais perspectivas de trabalho informal e precarizado”. 

Em Fortaleza, 420 mil famílias, segundo dados do Ministério da Cidadania, estavam inscritas no Cadastro Único em outubro. Destas, 224.302 sobrevivendo com renda de até R$ 89,00 por mês. No Brasil, o número pessoas em situação de extrema pobreza chegou em outubro de 2020, a 14 milhões. 

O Cadastro Único é um conjunto de informações sobre os brasileiros em situação de pobreza e extrema pobreza e abrange as famílias de baixa renda que ganham até meio salário mínimo por pessoa ou até 3 salários mínimos de renda mensal total.

O cadastro único garante a acesso a programas como: 

  • Bolsa Família;
  • Bolsa Verde;
  • ID Jovem;
  • Telefone Popular;
  • Isenção de Taxas em Concursos Públicos;
  • Minha Casa Minha Vida;
  • Tarifa Social de Energia e
  • Auxílio Emergencial do governo;

 

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