Chikungunya tem relação com infecções no sistema nervoso, aponta estudo da UFC

Pesquisadores da UFC publicam artigo em revista internacional sobre relação entre o vírus causador da doença e o impacto em órgãos como cérebro, pulmão e coração; Ceará teve pico em 2017, período escolhido para a análise

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Foto mostra pesquisadora
Legenda: Trabalho foi feito em parceria com cientistas internacionais
Foto: Acervo Pessoal

Há três anos, com o pico da chikungunya, análises científicas foram iniciadas e agora mostram a relação da doença com infecções do sistema nervoso central. Este detalhamento foi publicado neste mês no artigo "Resultado fatal da infecção pelo vírus chikungunya no Brasil", produzido pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com espaço na revista Clinical Infectious Diseases, editada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra.

“No nosso estudo, analisamos 100 óbitos que resultaram em 68 casos fatais por chikungunya em alguma das metodologias utilizadas. Desses 68 óbitos, foi detectado o vírus da doença em 36 amostras de líquor (fluído que protege o sistema nervoso central) e quatro em tecidos cerebrais, reforçando a correlação do vírus chikungunya com sinais e sintomas neurológicos em pacientes”, explica Shirlene Temos, responsável pelo projeto de pesquisa. Outra descoberta evidencia o genótipo do vírus circulante no Ceará sendo do tipo do Centro Leste Sul Africano (ECSA).

A pesquisa também se destaca pela abrangência da mostra, como explica o orientador Luciano Pamplona, professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFC. “Em mais da metade, nós conseguimos isolar o vírus da mostra do líquor dos pacientes. Isso quer dizer que tinha vírus circulando no sistema neurológico dos pacientes e, por isso, eles tinham tantas manifestações neurológicas como, por exemplo, convulsão”, detalha.

Foram notificados 2.426 casos suspeitos de Chikungunya no Estado e 410 pacientes com a confirmação da doença de janeiro até o fim de julho deste ano, como contabiliza o boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), lançado no último dia 10. São considerados como casos suspeitos da infecção os pacientes com febre de início súbito e maior que 38,5º C, além de dores nas articulações.

Fortaleza concentra os casos confirmados (189) da doença e na sequência aparecem as regiões do Cariri (96), Litoral Leste (48), Sertão Central (27) e Norte (50). Do grupo total, 72,2% (296) possuem idades entre 20 e 59 anos, sendo a maioria do sexo feminino com 61,5% (252) dos casos. Neste ano, houve um óbito por Chikungunya de um homem de 35 anos, em Fortaleza. Cenário bem diferente do percebido em 2017, quando 105.229 casos suspeitos foram registrados no Ceará, como detalha a pesquisa. Com isso, o Estado foi o mais afetado, com 65,7% das suspeitas do país.

Ajuda médica

Luciano Pamplona explica que a busca ao médico deve ser feita logo nos primeiros sinais da doença, como febre alta e dores fortes nas articulações. “A principal forma de prevenção ainda é o controle do Aedes aegypti e nesse momento de Covid, que as pessoas estão mais em casa, é fundamental que a gente tenha cuidado com os depósitos que possam acumular água nos domicílios”, acrescenta. Idade avançada e pacientes diabéticos, historicamente mais propensos aos quadros graves da doença, devem ter maior cuidado, como explica.

Desde 2017, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) funciona como unidade sentinela dos casos de arbovírus com impacto neurológicos pelo Ministério da Saúde, como explica a chefe do departamento, Fernanda Maia. “As manifestações que causam mais preocupação são as encefalites por chikungunya, que é mal funcionamento do cérebro. O paciente pode apresentar quadro de sonolência, crises convulsivas, déficit focais como fraqueza nos braços e nas pernas”, detalha. Outros impactos como na medula e na visão também são observadas na unidade.

Com isso, a professora da Universidade de Fortaleza destaca relevância de evitar o contato com a doença, já que ainda não há como evitar os quadros mais graves.

"O mais importante é que as pessoas mantenham vigilância aos sintomas de alerta. É interessante que se saiba que no serviço de saúde tem essa vigilância epidemiológica e tem como avaliar esses pacientes precocemente”

Na pesquisa também contribuíram o professor Fábio Miyajima, da Ciências Médicas da UFC, William Marciel de Souza, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e Darlan da Silva Cândido, ex aluno da UFC e doutorando em Oxford. Além deles, integraram a equipe outros 33 pesquisadores de instituições como o Laboratório de Saúde Pública do Ceará (Lacen), USP, Ministério da Saúde, Imperial College London e a Universidade de Oxford.

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