Ceará registra 2.384 casamentos civis durante quarentena; número é três vezes menor do que 2019
Maio foi o mês com maior redução. Em 2020, foram 548 cerimônias realizadas neste mês contra 2.158 do ano anterior
Durante o isolamento social, o Ceará registrou 2.384 casamentos civis. A quantidade é três vezes menor do que o acumulado no mesmo período de 2019. Naquele ano, 7.666 casais realizaram cerimônias, entre março e junho. Os dados foram retirados nesta quinta-feira (18) da plataforma de Transparência do Registro Civil, mantida pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN).
Quando se considera os números acumulados em ambos os anos, a queda no índice de casamentos é de aproximadamente 69%. Março, mês em que o distanciamento social iniciou no Ceará, apresentou a menor redução. Em 2020 foram 1123 cerimônias, contra 1796 consagradas no ano passado.
Já em abril, período em que o Estado articulou medidas mais rígidas no isolamento social, a redução foi mais percetível. Neste ano, a quantidade de casamentos 403 casais foram registrados em cartório — quase três vezes menor do que em 2019, quando 1.773 casamentos foram realizados.
Foi maio, tradicionalmente conhecido como o mês das noivas no Brasil, que apresentou a maior redução. Neste ano, apenas 548 cerimônias foram realizadas, bem diferente da quantia de 2019, quando 2.158 casais assinaram a certidão de casamento civil.
O diretor de tecnologias da Associação Cearense de Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN-CE), Guilherme Araripe, explica que uma das causas da redução é o horário de funcionamento dos cartórios. “Com a pandemia, o Tribunal de Justiça determinou que os atendimentos presenciais fossem interrompidos, salvo em casos urgentes. Funcionamos em regime de plantão, atendendo em horários reduzidos”, conta.
Para os casamentos, aqueles com urgência tiveram prioridade. “São diversos fatores que podem fazer com que alguém precise casar logo. Alguns têm urgência de casar para acrescentar o marido ou a mulher no plano de saúde. Outros, estão com o filho prestes a nascer e querem casar antes do nascimento”, aponta Guilherme.
Outro ponto para queda seria a resistência dos noivos em oficializar a união durante a pandemia. “Percebemos isso, na nossa rotina. Muitos casais estavam com medo de ir ao cartório, com medo de se infectar. Muitos estavam com recepção marcada, com bufê pronto após o civil, e aí, resolveram adiar tudo”, explica o diretor.
Correria
No caso dos professores Saulo Edieno, 27, e Morgana Duarte, 29, a urgência esteve na documentação. “Na sexta passada a gente recebeu a ligação do cartório informando que nossa documentação tava perto de vencer e que tinha que casar logo. Aí, foi tudo nas pressas. Ligamos para o pessoal, nos organizamos. Foi todo mundo daquele jeito, de máscara”, recorda o professor.
Saulo e Morgana começaram a planejar as cerimônias de casamento em 2018. O isolamento social atravessou os planos do casal. “Como já tava tudo acordado — casa para receber, casamento civil e religioso — a Morgana chegou a compartilhar nas redes sociais que 2020 seria o nosso ano”, brinca Saulo, ao relembrar os preparativos do casal. Mesmo com previsão para subir ao altar naquele mês, acabaram casando somente na última quarta-feira (17), no Cartório Jereissati, no Centro da capital. “Nas carreiras”, aponta Saulo.
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A partir da ligação, a cerimônia improvisada ganhou contorno. Por causa das recomendações sanitárias, a família não pode estar presente para ajudar o casal nos preparativos. “A gente resolveu fazer um almoço aqui, né? Não dava para fazer quase nada que a gente tinha pensado, não dava para juntar as famílias. Mas aí nós fomos com as testemunhas para o cartório, com muito álcool gel”
Até o registro do “sim” teve que ser improvisado. Devido às recomendações do cartório, o fotógrafo contratado precisou ficar de fora. Para que a data não passasse sem foto, o casal contou com ajuda de familiares e com um reforço especial. “Só podia entrar as testemunhas, né? Foram eles que bateram nossas fotos. Aí, quando precisou bater uma foto nossa, quem tirou foi a própria juíza”, relembra Saulo.
A chegada em casa também teve suas particularidades durante o isolamento social. Além das máscaras e do álcool gel, companheiros durante a cerimônia, Saulo e Morgana tomaram outros cuidados. “Moramos aqui com a minha mãe por enquanto. Assim que chegamos em casa, fomos correndo para o chuveiro tomar banho e colocamos todas roupas para lavar”, conta.
Tempo certo
Apesar da cerimônia não ter acontecido do jeito que o casal planejou, o professor acredita que o acontecimento se assemelha a história de desencontro dos dois. O casal só se conheceu em 2016, mesmo convivendo com o mesmo grupo de amigos. “A gente cresceu com os mesmos amigos, tínhamos conhecidos em comum, mas nunca tínhamos saído juntos. Passamos a vida toda se desencontrando para no fim se perceber. A mesma coisa no nosso casamento. Foi no tempo certo, no dia que tinha de ser”, brinca.
Agora, Saulo e Morgana se preparam para retomar a cerimônia religiosa, prevista para janeiro do próximo ano. “Nós já tivemos a benção dos homens, é hora agora da benção de Deus”, acredita. De lição, ambos tiram que era para ser assim. Apesar das adaptações, pouco se modificou no sentimento de união. “Não importa se em quarentena, ou antes, agora ela é minha esposa. E essa é a minha maior felicidade. Estamos juntos e posso olhar para ela e dizer que a gente tá junto e casado”, avalia o professor.