Casarão guarda história de luxo e espera restauro

Localizada no Centro de Fortaleza, a residência mantém seu valor cultural, mas espera por investimentos

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br

Quem passa no cruzamento das ruas Meton de Alencar e General Sampaio, no Centro de Fortaleza, encontra um casarão amarelo de janelas quebradas, raízes no concreto, infiltrações, paredes pichadas e lixo. Atualmente, a Casa Barão de Camocim, propriedade da Prefeitura, encontra-se fechada e hoje abriga peças do Teatro São José, que recebe restaurações. Não chega a ser um depósito, mas sua função principal de moradia se perdeu.

>Memórias de valor e saudades

Apesar das dificuldades, a Prefeitura ocupa o espaço. A Escola Vila das Artes tenta manter viva a memória da Casa Barão de Camocim, uma das obras arquitetônicas mais antigas da cidade, construída no fim do século XIX. Lá foram servidos banquetes a personalidades ilustres da sociedade, a políticos e ao clero local, do Brasil e do mundo, além de ser abrigo de quatro gerações de uma família.

As instalações da casa tinham o requinte das mais luxuosas habitações da Europa. De Paris e de vários países europeus vieram os móveis e adornos: os tapetes, o piano alemão Sttutgart, a prataria, as joias, os cristais, lustres espanhóis, candelabros de cristal trazidos da França, obras de arte produzidas do século XVIII, estofados em estilo Luís XV, espelhos e consoles. Outros detalhes estão hoje perdidos, deteriorados ou esquecidos sob a poeira.

Assista ao vídeo

A diretora da Vila das Artes, Claudia Pires, trabalha desde 2007 na instituição e assumiu a direção da Casa em 2013. Segundo ela, aulas da Vila ocupam parte do Casarão. Sobre a relação com o Centro, a gestora destaca que, mesmo sem muitas atividades, a casa chama a atenção de quem passa. "O espaço tem uma força enorme. Procuramos dialogar com os jovens a importância de patrimônios como o prédio e a sua preservação".

No andar superior funciona uma Biblioteca Pública com acervo especifico para área de Artes. Já a Casa das Escolas, que fica na esquina da 24 de Maio, hoje é ocupada por escolas de danças, audiovisual e de Teatro. A expectativa do Município é de construir no prédio do casarão um Centro de Artes Visuais. "Estamos buscando recursos, e também junto a Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), manter o Casarão tentando aprovar recursos para iniciar futuras obras, garantindo a continuidade desse prédio", diz a gestora.

Por meio de nota, a Secultfor explica que estão sendo feitos estudos para o projeto de restauro da Casa do Barão de Camocim, juntamente com a Coordenadoria de Patrimônio Histórico Cultural do órgão.

História

O cearense Germiniano Maia, de Aracati, recebeu o título de Barão de Camocim da família imperial por volta de 1880, único título de barão outorgado pela Coroa portuguesa. Veio a Fortaleza com 17 anos e se estabeleceu no ramo da exportação de tecidos, montando a Maison Louvre de Tecidos Finos, na R. Da Palma, hoje R. Major Facundo.

Em Paris o Barão conheceu Rose Nini Liabastre, moça de Lyon. Casaram-se e tiveram uma filha, Cecília de Camocim Leite Barbosa. Depois, o Barão mudou-se com a família para Fortaleza e mandou construir sua mansão, nos moldes do Renascimento europeu. A casa passou a ocupar quase um quarteirão na parte oeste da Praça de Pelotas, atual Praça Clóvis Beviláqua. (Colaborou João Neto)