Capital deve abrir dois restaurantes populares
Atualmente, a única unidade fica no bairro Parangaba, atendendo à superlotação de quase 1.300 pessoas por dia
O cenário já é rotina: por volta das 7h de toda manhã, a fila começa a se formar, aos poucos. Palavras-cruzadas nas mãos de alguns, terços nas de outros, e em todas a paciência da espera: às 10h, já são mais de dois quarteirões de gente para comprar almoço, suco e sobremesa a R$ 1 no Restaurante Popular de Fortaleza (RP), localizado no bairro Parangaba. Diariamente, são servidas mais de 1.300 refeições - cerca de 80% delas a idosos de baixa renda e pessoas em situação de vulnerabilidade. Mais dois equipamentos devem ser abertos em até seis meses, conforme a Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS).
O equipamento, único que atende à Política de Segurança Alimentar e Nutricional na Capital e gerido pela SDHDS, concentra a demanda das seis Secretarias Regionais, recebendo usuários de todos os bairros - atraídos pelo preço e pela "comida boa". "De manhã não faço nada em casa, não vou fazer comida, né? Venho pra cá todo dia, desde que abriu. A comida é boa, bem feita e barata, e a gente ainda faz amizade", empolga-se a aposentada Liliane Barbosa, 81, que percorre cinco quarteirões a pé, para matar a fome e a solidão.
Sob as duas rodas da cadeira que o locomove, o professor aposentado Roberto Praciano, 58, dribla a imobilidade das pernas também em busca do alimento além do prato. "Aqui é um lugar de carinho, amor, respeito, acolhimento e ainda tem uma comida muito gostosa, vem de gente sofisticada a gente simples. Eu moro sozinho, raramente me alimentava. Um amigo me chamou e aqui eu ganhei uma família", emociona-se Praciano, que se mudou para uma casa no mesmo bairro para ficar mais próximo ao restaurante.
Se para alguns as mais de 35 mil refeições oferecidas mensalmente pelos R$ 270 mil pagos por Governo Federal e Prefeitura de Fortaleza caem bem, mesmo sem serem prioridade; para outros, são a única oportunidade de comer no dia inteiro. O prato de arroz, macarrão, feijoada e salada, o copo de suco e a fruta de sobremesa, aliás, passam sequer dez minutos diante da ex-gari Márcia Cristina Araújo, 51, e dos netos de 8 e 9 anos de idade - que caminham de segunda a sexta-feira, do bairro Pan Americano, para comer na Parangaba.
"Se não fosse esse restaurante, eu nem sei como seria pra gente, rezo a Deus que nunca acabe. Um real eu peço no sinal e consigo num instante. As outras refeições, se não conseguir comprar um pão ou um ki-suco? Já almocemo (sic), né? Então nós dorme (sic)", e sorri conformada mesmo tendo perdido o emprego e a visão do olho esquerdo após um acidente, e o filho vítima de um homicídio.
De ganho mesmo, só o sorriso farto dos netos às 10h e poucos, depois do almoço. E a fé farta o resto do dia.
Ampliação
Assim como os elogios à comida e ao preço, a crítica à desorganização do espaço é uníssona. Segundo o titular da SDHDS, Elpídio Nogueira, a demanda do restaurante é crescente, "porque aumenta todos os dias o número de pessoas em vulnerabilidade". Para descentralizar a demanda, está prevista a construção de mais dois restaurantes populares, um em Messejana e o outro no Centro - bairro prioritário para a política pública voltada à população de rua, como reforça Nogueira.
"O da Parangaba não temos como ampliar. Mas, em seis meses, pelo menos dois estarão prontos. No Centro, o foco serão os moradores de rua. Se eu receber a documentação de aluguel do prédio ainda nesta semana, com 30 dias iniciamos o cadastro dos usuários e em duas semanas iniciamos a servir", afirma, informando que cada um dos três equipamentos passará a ofertar cerca de 500 refeições por dia. Atualmente, podem usufruir do RP da Parangaba, aberto desde 2008, pessoas inscritas no Cadastro Único para Programas Federais e todas aquelas de baixa renda. "Infelizmente alguns comerciários do entorno aproveitam". O restaurante também oferece orientação nutricional.
Fique por dentro
Sesc tem seis equipamentos
Iniciativa privada, mas também a preços acessíveis, o Sesc conta com seis restaurantes populares em Fortaleza: dois no Centro, dois em Iparana (para hóspedes dos hotéis da rede) e um nos bairros Aldeota, Presidente Kennedy e Papicu (estes últimos nos shoppings RioMar, para trabalhadores). Em média, de acordo com a instituição, são servidas 6 mil refeições nos três turnos, com valores de R$ 1,47 (100g) para comerciários; R$ 1,60 (100g) para empresários; R$ 2,17 (100g) para conveniados; e R$ 2,48 (100g) para o público em geral. Para ter acesso, é preciso possuir o Cartão Sesc, em uma das quatro categorias acima, no site.
Mais Informações
Restaurante Popular de Fortaleza
Rua Carlos Amora, Nº 7, Bairro Parangaba
Atendimento de segunda a sexta-feira, 10h às 14h
Valor: R$ 1 (almoço, suco e sobremesa)