Após um ano, 25 famílias do Moura Brasil ainda aguardam fim de reforma das casas interditadas

A nova previsão de entrega das residências foi remarcada para fevereiro de 2021, segundo a Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra)

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Com interdição, moradores precisaram modificar a rotina para se adaptar aos locais temporários
Foto: Camila Lima

Por questões de segurança, 21 casas no bairro Moura Brasil foram interditadas pela Defesa Civil de Fortaleza no dia 31 de janeiro de 2020. Ao todo, 26 famílias foram retiradas de suas residências devido aos impactos das obras realizadas na Linha Leste do Metrô de Fortaleza, recebendo benefício mensal de R$ 1.000 enquanto aguardavam pela finalização do projeto. Porém, após um ano de espera, 25 famílias ainda não puderam retornar para casa, enquanto somente uma voltou ao local. 

Em meio ao cenário de pandemia da Covid-19, o cronograma da obra sofreu atraso com a redução da equipe para garantir a segurança dos operários ativos, explica a Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra). Agora, o órgão aponta a nova previsão de término para o mês de fevereiro.

"Enquanto isso, as 26 famílias retiradas de casa por questões de segurança continuam recebendo assistência do consórcio responsável pelas obras. Dessas, 25 famílias estão recebendo auxílio financeiro do consórcio para pagamento de aluguel de imóveis na região. Apenas uma delas optou por continuar em uma pousada", aponta o órgão.

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À época da interdição, a Seinfra informou que, desde o início da obra da Linha Leste, o consórcio responsável pela execução dos trabalhos realizou o monitoramento do trecho no entorno do canteiro, diariamente, através de sensores que acompanham a estabilidade do terreno e que ao identificar a necessidade de intervenção em parte dos imóveis, para segurança dos moradores, acionou a Defesa Civil.

Reconstruindo a vida

Sendo a única a retornar para casa até o momento, o regresso da moradora Antônia Viana da Silva, conhecida como Dona Fátima, 56 anos, se deu na última quarta-feira (27), após quase um ano hospedada em pousada. “Estou segura, minha casa foi reforçada e fizeram o serviço correto”, avalia. 

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Porém, apesar da felicidade em retornar, a camelô, hoje desempregada por causa da pandemia, relata a dificuldade em reconstruir a vida. “Estou tendo que recomeçar sem nenhuma renda. Acabei perdendo meu meio de vida, foi um ano parado, não vai ser fácil”, relata. 

Para ela, o fato de estar longe de casa durante a pandemia acabou influenciando no aumento das dificuldades.

“Teria sido bem melhor [estar em casa], mesmo com a doença. Teria me preparado. Talvez não tivesse pegado os problemas de saúde. Não tem como fazer renda em um hotel”, relata. 

Receios ao retornar

A trabalhadora de serviços gerais Fabiana de Souza, 39 anos, precisou se mudar para o bairro Carlito Pamplona após a interdição de sua casa, que teve rachaduras na parede e no chão. Muito do que tinha permaneceu em seu lar. “Eu mesmo não trouxe todas as coisas, porque eles mandaram trazer só o que a gente ia precisar, o básico”, diz. 

Ela não está acompanhando o andamento da reforma. Contudo, teme pela rapidez com que o serviço está sendo realizado. Ela entende que a obra ocorre em um curto prazo e receia que o solo ainda não esteja estável. Por isso, nem mesmo a expectativa de retorno para casa e para sua antiga rotina conseguem amenizar o temor.

"Eu me sinto amedrontada, porque a gente só escuta o lado deles, mas quem garante que esse solo se estabeleceu mesmo? As paredes podem estar bonitas, mas quem garante a questão do solo? Queria ter uma palavra de alguém que entenda em relação a isso”, compartilha. 

Legenda: Por conta da pandemia da Covid-19, o cronograma da obra sofreu atraso com a redução da equipe para garantir a segurança dos operários ativos
Foto: Camila Lima

Saudade de casa

“Tenho saudade de casa. Eu creio em Deus que eles fizeram um serviço muito bem feito, bem seguro. Ainda assim, dá um medo, ficamos com a pulga atrás da orelha”, compartilha a vendedora Maria Daniela Souza, 44 anos. Desde a saída de sua residência, ela mora em um apartamento alugado, esperando com ansiedade o retorno para seu lar, o que pode ocorrer em duas semanas. 

No início, a casa de Daniela seria demolida, por ter sido uma das mais afetadas pela construção da Linha Leste do Metrô de Fortaleza, mas a ideia não seguiu adiante. “Danificou a estrutura da casa, rachou toda, mas está ficando muito boa”, afirma. 

A mudança de casa interferiu diretamente em seu cotidiano, passando desde a nova distância para o trabalho e o colégio dos filhos, até a necessidade de deixar sua cachorra de estimação na casa da sogra. Além disso, durante a mudança, alguns móveis foram danificados e outros ficaram no imóvel que está sendo reformado.

“Como eu tinha muita coisa, os móveis vieram em uma viagem e algumas coisas nunca trouxeram. Perdi móveis, quebraram meu sofá, danificou tudo. Lá tem dois armários, uma estante e uma mesa, e disseram que vão me dar de volta. Queimaram minha televisão, mas me deram outra”, detalha.

Retomar a rotina

Da mesma forma, o empresário Adriano do Vale Costa, 34 anos, também espera ansioso pelo retorno. Conforme explica, a mudança para o bairro vizinho, Carlito Pamplona, transformou a sua rotina, já que precisou utilizar carro para o trabalho, quando antes ia caminhando, assim como sofreu com a perda de alguns móveis. 

“Só quero que eles cumpram o prazo deles e arquem com os prejuízos que a gente teve. Eles fizeram um inventário das perdas, e é um prejuízo mesmo. Teve gente que perdeu televisão, geladeira”, detalha. A expectativa dele é estar em casa até o fim de fevereiro para poder retornar ao Moura Brasil e poder ir ao trabalho e realizar suas outras atividades diárias sem grandes dificuldades. 

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