75% das transferências de pacientes de UPAs para hospitais em Fortaleza até abril foram por Covid-19

As transferências são realizadas quando os pacientes precisam de atenção mais especializada

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Movimentação de ambulâncias na UPA do bairro Itaperi, em Fortaleza.
Foto: Kid Júnior

Centros de cuidados intermediários para pacientes com quadros moderados ou graves de Covid-19, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza registram indicadores preocupantes, em 2021. De janeiro a abril, a cada quatro pacientes transferidos para outras unidades de saúde a partir delas, três tinham diagnóstico positivo para coronavírus. 

As transferências se referem à mudança de pacientes de um hospital para outro, já que a resolução nº 2.079/2014 do Conselho Federal de Medicina (CFM) veda a internação de pacientes em UPAs. Nesse locais, eles podem apenas aguardar a regulação.

O levantamento do Diário do Nordeste foi realizado a partir da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), com base em dados de nove das 12 UPAs da Capital, atualizados até as 10h desta sexta-feira (7).

De 1º de janeiro a 30 de abril, foram efetuadas 3.849 transferências, das quais 2.913 foram classificadas como infecção por Covid-19. Percentualmente, o índice foi de 75,68%. 

Em termos comparativos, os quatro primeiros meses da pandemia - março a junho de 2020 - foram 56,68% os registros de transferências por Covid nas UPAs: 1.082 remanejamentos dos 1.909 totais. No consolidado de todo o ano passado, a proporção é ainda menor: 51,47%.

Em março, diante do aumento alarmante de pacientes em atendimento, a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) informou que eles são transferidos para leitos de UTI e enfermaria “conforme perfil assistencial e disponibilidade de vagas” em outras unidades.

Na tarde de hoje, a Capital tem 33 pacientes aguardando transferência nas UPAs; sete para leitos de enfermaria e, outros 26, para UTIs. Em hospitais municipais, há mais 34 pessoas na fila de espera, totalizando 67 requisições.

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Crescimento da demanda

O aumento de transferências em 2021 também acompanhou o número de atendimentos relacionados à Covid-19 nas UPAs. De março a dezembro de 2020, em 10 meses, foram 27,8 mil assistências do tipo. De janeiro a abril deste ano, em apenas quatro meses, já foram quase 50 mil.

Segundo o epidemiologista e gerente de Vigilância Epidemiológica da SMS, Antonio Lima, a segunda onda da pandemia trouxe “epidemias simultâneas” em todas as áreas de Fortaleza, do Ceará e do Brasil, gerando impactos significativos nos números de casos, internações e óbitos. 

Em entrevista ao Sistema Verdes Mares no fim de abril, ele estimou que, comparativamente, a cidade revive junho de 2020, “quando estávamos saindo do pico” da primeira onda. “Você tem um declínio de casos mas sobretudo menor pressão assistencial, com menos pessoas chegando às UPAs e unidades básicas de saúde”, analisa.

Às 15h de hoje, de acordo com o IntegraSUS, a ocupação em Fortaleza era de 89,95% nas UTIs adultas geridas pela administração pública, incluindo hospitais municipais e estaduais. Em enfermarias, o índice está em 80%.

Dificuldade em conseguir leitos

Apesar de as transferências representarem uma esperança de melhora, pela atenção mais especializada, nem todas levam a um desfecho favorável. Ricardo Augusto Severiano Dutra, de 44 anos, por exemplo, faleceu no último dia 23 de abril, dois dias depois de ser transferido da UPA do bairro Vila Velha para o Instituto Dr. José Frota (IJF 2).

O trabalhador da construção civil foi acolhido na UPA no dia 10 de abril. Com os sintomas se agravando e a indisponibilidade de vagas, a família dele recorreu à Justiça estadual para tentar conseguir um leito de UTI. Uma decisão favorável saiu no dia 20.

Legenda: UPA Vila Velha, onde Ricardo ficou em observação por 11 dias antes de ser transferido.
Foto: Fabiane de Paula

No relatório médico, Ricardo era considerado “nível de prioridade 1”, por ser “paciente criticamente enfermo e instável que necessita de cuidados de terapia intensiva e monitoração que não pode ser provida fora de ambiente de UTI”.

A esposa dele, Ivaneide dos Santos, lembra que a falta de informações sobre o real estado de saúde do marido, bem como a longa espera por um retorno sobre a possibilidade de internação, trouxeram muita angústia para a família. 

Ricardo deixa quatro filhos.

Segundo a Prefeitura, o IJF2 dispõe atualmente de 170 leitos de UTI e de enfermaria exclusivos para atendimentos graves de alta complexidade, sendo operados por equipes multiprofissionais. No último dia 1º de maio, o hospital chegou à marca de mil altas da doença.

Busca por atendimento

Ainda conforme a Secretaria, as UPAs devem ser procuradas em caso de sintomas moderados e graves, associados à falta de ar ou à febre alta e persistente. Há 12 Unidades na Capital, seis geridas pelo Município e seis pelo Estado. Elas ficam abertas de domingo a domingo, 24 horas por dia.

A Pasta ressalta ainda que, devido ao avanço dos casos da Covid-19 na Capital, houve uma ampliação de 177% no número de leitos de observação nas UPAs municipais.

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