20 bebês têm síndrome da zika, mas nasceram sem microcefalia

Médicos irão publicar artigo em revista científica internacional com detalhes da pesquisa no CE e PE

Escrito por Karine Zaranza - Repórter ,
Legenda: O Diário do Nordeste adiantou, na edição do dia 16 de julho, que crianças nascidas com o crânio normal estavam voltando aos hospitais com sintomas da síndrome

Nesta sexta-feira (11), faz um ano que o Ministério da Saúde decretou a epidemia da Síndrome Congênita do Vírus Zika como Situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional. Desde então, muita coisa mudou, e o País teve que abrir os olhos para uma leva de crianças que nasceram com a malformação, popularmente conhecida como microcefalia associada ao Vírus Zika.

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Para o neurologista e neurogeneticista do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), André Luiz Santos Pessoa, o novo desafio que se apresenta está relacionado ao descobrimento de crianças com o perímetro cefálico considerado normal que foram diagnosticadas com Zika Congênita.

O médico, junto com a neuropediatra Vanessa Van Der Linden, de Pernambuco, irão publicar, ainda neste mês, um trabalho em uma revista científica internacional sobre dois casos confirmados sorologicamente no Ceará e 11 em Pernambuco. Ele conta que, apenas no Estado do Ceará, são, pelo menos, 20 crianças com essa situação.

A descoberta acarreta mudança de como a infecção pode se apresentar e também exigir ainda mais atenção nesse diagnóstico já que a característica principal de microcefalia não se apresenta em todos os casos. Outro ponto é que há a possibilidade de  o número de crianças com zika congênita ser ainda maior do que o notificado, uma vez que pode não ter havido um diagnóstico fechado por conta da não alteração no tamanho da cabeça. "Há uma preocupação do Governo de não deixar passar sem o diagnóstico. Outro problema é que 80% da zika é assintomática. Então, pode ser que uma mulher possa não ter sintoma da zika na gravidez e tenha tido um filho que nasça com a cabeça normal e, depois de um tempo, possa ser notado uma alteração neurológica e essa criança possa receber um diagnóstico retrospectivo de uma zika congênita", explica o médico e pesquisador.

Entretanto, atualmente, os números da malformação -não necessariamente associada ao zika - não estão em crescente. Conforme o boletim da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), entre outubro de 2015 e 4 de novembro de 2016, foram contabilizadas 601 notificações, sendo 150 confirmações, 229 casos descartados e 122 em investigação. De outubro a dezembro do ano passado, 56 casos foram confirmados, 231 notificados e 40 aguardam diagnóstico. Neste ano, 94 são positivos, 370 foram notificados e 82 estão em investigação.

Imunidade

"O número de casos novos caíram, provavelmente, porque as mulheres adquiririam imunidade. Quem trabalha com imunologia acredita que terá uma nova onda. Mas não sabemos quando isso será nem como isso vai se comportar ainda", diz André Luiz, que não acredita que em aumento em decorrência do aumento do vetor em período de chuva. "Não dá para baixar a guarda, mas não vimos o aumento agora, que seria o resultado da última quadra chuvosa".

Outra característica forte no Ceará foi o grande número de mortes associadas à zika congênita. O Estado permanece na liderança em óbitos, com 26, segundo o boletim da semana 40 do Ministério da Saúde. Em segundo lugar está o Rio Grande do Norte, com 23 e, em terceiro está a Paraiba, com 18.

"Não sabemos porque o Ceará registrou mais mortes do que Pernambuco, por exemplo, que teve o maior número de casos. Estamos estudando para saber se a mortalidade está relacionada à diferença da infecção ou de uma estrutura deficitária de saúde", levanta o médico.

Ele admite que a resposta epidemiológica dada no Estado foi boa. A partir de fevereiro, os atendimentos passaram a ser descentralizados e, apesar da realização de exames clínicos e laboratoriais, ainda há um desafio grande a se vencer: a defasagem em centros de estimulação precoce e reabilitação de crianças. 

FIQUE POR DENTRO

Butantã inicia pesquisa de medicação

O Instituto Butantan iniciou a pesquisa de um medicamento para tratar pessoas infectadas com o vírus zika. O estudo vai adotar como métodos o reposicionamento de fármacos e a triagem de alto conteúdo. Essas tecnologias permitem que coleções de compostos químicos sejam triadas contra o vírus em células humanas infectadas. Segundo o instituto, esse processo é mais rápido porque dispensa a necessidade de validar previamente o alvo molecular, que pode levar anos.

Os pesquisadores fizeram trabalho semelhante no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, em Campinas, com 725 medicamentos aprovados nos Estados Unidos, e encontraram 29 substâncias com ação sobre o vírus. Entre os compostos descobertos nesse estudo, o mais promissor foi palonosetron, usado no tratamento de náusea induzida por quimioterapia de câncer. O composto apresentou alta eficácia contra a infecção pelo vírus zika. (Com informações da Agência Brasil)

dsa