145 anos do telefone: saiba sobre a chegada do aparelho ao Ceará ao trabalho das telefonistas

No Estado, a popularização do uso se concentrou principalmente em Fortaleza devido às questões financeiras de custo, detalha especialista em telecomunicações

Escrito por Redação ,
Fortaleza recebeu o
Legenda: Fortaleza recebeu o "direito de possuir telefone" no ano de 1882, segundo os arquivos do memorialista Nirez.
Foto: Arquivos Nirez

Há exatos 145 anos, em 10 de março de 1876, a comunicação passou por uma revolução, quando o cientista escocês Alexander Graham Bell (1847-1922) realizou a primeira transmissão elétrica de voz nos Estados Unidos, ou seja, um telefonema. Cerca de seis anos depois, as movimentações para trazer o telefone para o Ceará foram iniciadas, em março de 1882, segundo arquivos do jornalista, pesquisador e memorialista Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez.

Nesse período, foi publicado o decreto imperial que deu a Fortaleza o direito de possuir telefones. Direito este cedido especificamente à firma Morris N. Kohn. Em 28 de janeiro de 1883, a Capital tem sua primeira experiência com o telefone a manivela. 

Conforme o doutor em telecomunicações e integrante do Departamento de Engenharia de Teleinformática da Universidade Federal do Ceará (UFC), professor João César Moura Mota, o impacto da chegada dessa nova ferramenta de comunicação ressoou no Ceará de maneira similar ao resto do mundo, por conseguir "romper distâncias e encurtá-las”, afirma.

Legenda: Equipamentos de telefonia da Teleceará, em 07 de julho de 1983
Foto: Stenio Saraiva/ Arquivo Diário do Nordeste

No Estado, a popularização do uso se concentrou principalmente em Fortaleza, assim discorre o diretor da Escola Integrada de Desenvolvimento e Inovação Acadêmica da UFC, explicando que "essas novidades começam sempre em um público mais seleto, por questões financeiras, econômicas”.

“Inicialmente com fio, o telefone começou a ganhar aspectos de valorização da mesma forma que a telegrafia ganhou e com a chegada de outros meios de comunicação, começou a perder a sua importância. Houve sua ‘vulgarização’, no bom sentido, aumentando o acesso ao público em geral”, acrescenta João César.

A adesão ao uso do telefone refletiu também no aspecto das atividades profissionais, principalmente por conseguir criar redes de contato apesar da distância e garantir maior rapidez e agilidade na resolução de problemas. “Houve o aumento da potencialidade para o crescimento da produção através da telefonia e de seus derivados”, finaliza.

Ampliação do uso

Em janeiro de 1891, o aracatiense Arnulfo Pamplona, ex-presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, recebeu concessão de 15 anos para explorar os serviços de telefonia e assim o fez. Tanto que ficou conhecido como o “introdutor do telefone” na Capital.

A possibilidade de se comunicar à distância por transmissão de voz causou tanto alvoroço na Cidade que, no início, as pessoas usavam o serviço até para saber “a hora certa” do dia. Informação que era dada pela relojoaria e ótica A Hora Certa, no Centro. 

Também havia quem quisesse ligar para saber informações das mais diversas. E, para esse público, ainda de acordo com os arquivos de Nirez, havia o Informador Popular de Fortaleza, que oferecia até serviço funerário.

Telefone público

Legenda: Para realizar ligações por telefones públicos, era necessário inserir fichas e posteriormente cartões nos aparelhos. Fotografia tirada em setembro de 2011.
Foto: Arquivo Diário do Nordeste

O primeiro telefone público — o chamado “orelhão” — de Fortaleza foi inaugurado no bairro Alto da Balança, em 1948, por Acrísio Moreira da Rocha, prefeito à época. O segundo foi instalado em Messejana poucos meses depois. Somente em dezembro de 1992, 29 anos atrás, é que chegaram os orelhões que funcionavam a cartão, equipamentos que, atualmente, devido à popularização dos telefones fixos e, depois, celulares, estão cada vez mais em desuso.

Trabalho de telefonistas

A aposentada Libânia Girão, 77 anos, acompanhou as mudanças das empresas de telefonia de Fortaleza desde 1969 até 1996, tendo atuado como telefonista e, posteriormente, assistente administrativa de empresas como a Companhia Telefônica do Ceará (Cotelce), Companhia de Telecomunicações do Ceará (Citelc), Teleceará e Telemar. 

“No começo, a gente fazia mais trabalhos de serviços. As pessoas ligavam para perguntar informações, esse tipo de coisa. Depois a gente começou a fazer as transferências das ligações de pessoas que queriam falar com conhecidos de outras cidades do Ceará ou de outros estados”, relembra Libânia. 

Conforme explica, o procedimento para localizar o remetente de uma ligação não era simples como nos dias atuais. Antigamente, ao ligar para uma cidade do interior, a telefonista precisava entrar em contato com o posto de serviço e esperar a responsável pelo atendimento avisar à pessoa buscada.

“Por exemplo, se alguém ligasse para Morada Nova e dissesse que queria conversar com Valquíria. A telefonista me dizia para retornar depois de 20 minutos, que era o tempo para chamar a Valquíria. Então, eu fazia o intercâmbio entre a pessoa que estava em Morada Nova e a de Fortaleza”, detalha. 

Por isso, a maior dificuldade enfrentada costumava ser o tempo de espera e, também, a necessidade de conseguir contato com a linha de alguma cidade do interior, uma vez que ficava no aguardo de uma telefonista do posto atender sua ligação.

Os primeiros aparelhos de telefone foram trazidos ao Brasil pelo imperador Dom Pedro II.
Legenda: Os primeiros aparelhos de telefone foram trazidos ao Brasil pelo imperador Dom Pedro II.
Foto: Arquivos Nirez

Chegada do telefone no Brasil

No Brasil, o telefone chegou em 1877, trazido pelo imperador Dom Pedro II, que conheceu e testou a engenhoca numa exposição na qual Bell participava, na Filadélfia. “Meu Deus! Isto fala!”, teria dito o imperador, o primeiro brasileiro a interagir numa ligação. Segundo o especialista João César, o imperador já tinha proximidade com a ciência.

"Estava presente como avaliador do congresso mundial. Quando ele viu aquela mostra do telefone, no formato bem diferente do que era hoje, tomou a decisão de trazer para o Brasil", explica.

Como ainda hoje acontece com as inovações tecnológicas, o telefone, no início, era acessado somente pelos mais ricos do País. Além disso, a intenção inicial de Dom Pedro II era instalar uma linha apenas entre o Palácio da Quinta da Boa Vista e as casas ministeriais, no Rio de Janeiro.

Confira outros eventos

  • 1955: Telefones de Fortaleza, que até então tinham apenas 4 dígitos, passam a acrescentar mais um algarismo, ficando com 5 números
  • 1976: Fortaleza tem a inauguração do sistema de telefone DDI (Discagem Direta Internacional). Com isso, o Ceará passa a poder entrar em contato com países da Europa Ocidental, assim como com o Canadá e os Estados Unidos
  • 1992: Os primeiros telefones públicos a cartão começam a funcionar de modo experimental em locais como no North Shopping, na Avenida Bezerra de Menezes; no Terminal Rodoviário Engenheiro João Tomé, na Avenida Deputedo Oswaldo Studart e no Center Um, na Avenida Santos Dumont.
  • 2004: Os números de telefone fixo de Fortaleza e dos outros municípios cearenses, que antes estavam com 7 dígitos, tem acréscimo de mais um, ficando com um total de oito algarismos. É adicionado o algarismo ‘‘3’’ à frente do número pré-existente. Segundo arquivos do Nirez, a mudança atinge 800 mil linhas da Telemar no Estado.
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