Tinga exalta campanha da CBF contra racismo: 'se for para perder pontos, que seja!'

Capitão do Fortaleza voltou a atuar pela equipe após quase três meses

Escrito por
Crisneive Silveira crisneive.silveira@svm.com.br
(Atualizado às 10:32)
Legenda: Emocionado, Tinga voltou a atuar pelo Fortaleza no jogo contra o Corinthians.
Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC

Tinga voltou a vestir a camisa do Fortaleza no último domingo, quando o time derrotou o Corinthians, no Brasileirão. O lateral é um dos que mais defende a causa antirracista. Em entrevista coletiva realizada nesta quarta-feira (24), mesmo dia em que a CBF lançou a campanha contra o racismo no futebol brasileiro, o capitão da equipe tricolor se manifestou sobre o tema e citou a importância de ser exemplo dentro e fora de campo. 

Uma das propostas de Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, é aplicar punições esportivas. Entre elas, a perda de pontos para times envolvidos em comportamentos racistas. A entidade brasileira e a Conmebol foram criticadas pelas punições brandas dadas aos clubes e demais envolvidos nos atos preconceituosos. Tinga comentou a iniciativa.

A gente teve que chegar nesse ponto para as coisas acontecerem, infelizmente. Mas, se for para ser assim, é bom. Muito bom. Acho que os clubes, o torcedor que presenciar um ato, se tiver do lado, com certeza vai chamar atenção antes de ser punido. Então, acho que isso vai ser muito bom. Mas a gente tem que começar desde a escola, aprender, mostrar para as crianças que isso é errado. Os pais mostrarem... Sei que a cabeça quente, o torcedor quando perde, o pessoal bebe... E quando vai para o campo lá, quer xingar o adversário, e isso ocorre demais. Acho muito errado. 
Tinga
lateral do Fortaleza

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Imagem mostra jogador de futebol
Legenda: Tinga voltou a atuar pelo Fortaleza após quase três meses afastado por lesão.
Foto: Marta Negreiros/SVM

O Observatório da Discriminação Racial do Futebol, parceiro da CBF na campanha antirracista, lançou o Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2021 durante o evento. O documento mostra um aumento de 160% nos casos de racismo nos estádios brasileiros se comparado a 2020. Até agosto de 2022, 64 já foram registrados. O número se iguala a todo o ano de 2021. 

"Esse número de casos é, também, fruto de uma maior conscientização dos torcedores, dos jogadores e da imprensa. Nós estamos vendo uma maior conscientização da população em geral", explicou Marcelo Carvalho, diretor do Observatório.

Em abril, torcedores do Fortaleza foram vítimas de racismo vindos da torcida do River Plate. Gustavo Sebastián Gómez jogou banana na direção dos tricolores. O caso ocorreu na Libertadores. Adeptos do Ceará também foram vítimas em duelo contra o Independiente, na Sul-Americana.

Outros muitos foram registrados no futebol brasileiro e com times daqui em demais competições internacionais. Mais uma vez, Tinga cobra punições e fala em dar exemplo como atleta.

Tem que policiar mais, ficar mais atento, ligado. Se for para perder os pontos, que seja! Acho que isso tudo vai ser bom, não só para os clubes, mas acho que para a sociedade toda entender de vez que todo mundo é igual. Para a gente não ter preconceito nenhum. Não falo nem só de cor, mas de tudo, né? De sexo, de idade, de outras coisas. Todo mundo é igual, todo mundo tem sangue, quer viver bem, quer viver feliz. Então acho que esse é nosso maior objetivo. Espero que aconteça, que a CBF faça isso. Acho que nós, jogadores, também temos que mostrar isso não só pela tv, mas mostrar no jogo, e fora também. Não só dentro de campo.  Tem mostrar fora o que é o errado e o que é o certo, para todo mundo melhorar, a nossa sociedade toda.
Tinga
jogador do Fortaleza

Além do seminário, a CBF também começou a fazer publicidade nos jogos da Copa do Brasil e do Brasileirão. As camisas dos jogadores dos times terão patches em alusão ao tema.

O Fortaleza volta a campo no domingo (28), quando enfrenta o São Paulo, no Morumbi. O duelo terá início às 16h (de Brasília) e é válido pela 24ª rodada do Brasileirão.

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