Bate-papo com os Craques: a trajetória do zagueiro Valdo, da roça à elite do futebol brasileiro
Em 2019 formou uma das melhores duplas de zaga do Ceará ao lado de Luiz Otávio

Do interior de Sergipe, se destacando pelo Confiança, vivendo momentos de dúvida na carreira, à chegada ao Ceará, até a consolidação como um das principais peças do clube, passando pelo acesso à Série A em 2017 e pelas duas campanhas de permanência do clube na elite do futebol brasileiro. O zagueiro Valdo enfrentou questionamentos, mas atingiu alto nível no Alvinegro e titularidade absoluta em 2019 ao lado de Luiz Otávio. Valdo foi entrevistado pelo podcast Bate-papo com os Craques.
Nordestino, se classifica como um "matutão", mas de voz calma, educada e guardando a mesma simplicidade das origens de quando trabalhava na roça. Jogava no subúrbio até o momento de escolher o futebol como carreira profissional.
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"Com cinco anos eu já ia pra roça com meu pai. Estudava de manhã, saía da escola às 11h30, ia pra casa, almoçava e já ia pra roça. Ficava até 17h. Foram grandes ensinamentos, escola da vida, valorizar o pouco que a gente tem. Quando a gente tem muito e nunca desmerecer o outro. Eu fui criado na roça, trabalhava com meu pai tirando laranja, carregando caminhão, cavando cisterna. Meu pai sempre jogou futebol amador e lá na região era tido como um dos melhores atacantes. Era minha inspiração. Lá no amador, comecei de atacante, fui baixando até me transformar em zagueiro".
Chegada ao Ceará
O alvinegro observou o mercado nordestino, contratou o goleiro Everson e o volante Richardson, atletas que se destacaram no Confiança. Logo depois chegou o zagueiro Valdo, para fechar o ciclo de destaques, e que se consolidaram com a camisa do clube. Como Valdo chegou para Série B de 2016, vindo do Confiança, que jogava Série C, naturalmente havia dúvidas sobre o atleta.

"O Éverson indo já abriu porta para o Richardson. O Richardson indo, abriu a porta pra mim. A gente veio do Confiança, então havia muitas dúvidas sobre o nosso trabalho. Everson se destacou em 2015, com aquelas defesas contra Macaé, respaldou a chegada do Richa, que se destacou e eu acabei chegando. Tive bons momentos no início, uma falta de sequência depois, mas feliz por nós três termos saído do Confiança e fazer um trabalho juntos muito bem feito",destacou.
O ex-zagueiro alvinegro viveu as fases de consolidação e crescimento do Ceará. Já havia participado da campanha da Série B em 2016, veio em 2017, além das campanhas mais sofridas, porém, de alívio na Série A, que garantiram a permanência no clube.
"Quando eu cheguei no clube, ganhava pouco, nem tão preocupado com isso, com dinheiro. Claro que é importante, a gente quer ganhar, é necessário, mas eu tava muito mais feliz por estar ganhando oportunidade e jogando no Ceará", completou Valdo.
Em 2016, quando o Ceará não conquistou o acesso, houve um atraso salarial e Valdo se surpreendeu com uma atitude do presidente Robinson de Castro.
"Te contar aqui uma história... Em 2016, quando acabou a temporada, ficamos tristes por não ter conquistado o acesso, mais por erro nosso, onde passamos acho que onze jogos sem vencer. Fomos embora com dois meses de salário atrasado, só que antes do Natal, o Robinson... eu nunca vi isso na minha carreira. Ele ligou para os jogadores, pedindo desculpas pelo atraso dos salários e disse que pagaria no outro dia, como aconteceu. Isso representa demais a hombridade das pessoas que estão no clube, não à toa subimos em 2017".

Além da dupla com um dos ídolos e melhores zagueiros da história do Ceará, Valdo cativou grande amizade e parceria fora de campo com o capitão alvinegro.
"Chegou o Luiz Otávio em 2017, que tinha sido rebaixado pelo Sampaio Corrêa, muita gente não acreditava. E eu tiro o chapéu para o Luiz, a gente passa a conhecer as pessoas. Não é à toa que ele construiu tudo dentro do clube, um ídolo. Com pouco de dificuldade conseguimos o acesso. O Chamusca é muito trabalhador, ama o que faz e nos ajudou demais no acesso, tanto coletivo quanto individualmente", comentou.
Série A e 'trabalho' do Jorginho
Um dos momentos mais polêmicos que o Ceará passou no primeiro ano de Série A foi com o treinador Jorginho, que passou três jogos, declarava conhecer o clube e jogadores profundamente, mas que pouco tempo depois pediu para sair, alegando problemas pessoais.
"É difícil explicar... nem posso falar que foi um trabalho porque não acrescentou em nada para nós jogadores, o clube. Um cara que se diz motivado, feliz e da noite para o dia praticamente pega as coisas e vai embora, não consigo entender. Tínhamos o respeito pelo atleta que foi e estávamos ansiosos por tudo, mas foi tão rápido que nem esperávamos nada. Foi algo anormal e nunca mais acho que vou ver dentro do futebol", revelou Valdo.