Bate-papo com os Craques: Albérico, o goleiro do Fortaleza que parou Rogério Ceni no Morumbi

Em ano de turbulência no Pici, o arqueiro foi fundamental para segurar o São Paulo no Morumbi, em 2006

Escrito por
Dênis Medeiros e Tom Alexandrino jogada@svm.com.br
(Atualizado às 13:32)
Foto: Thiago Gaspar/Agência Diário

"Goleiro é cargo de confiança". Nunca uma expressão do futebol se encaixou tanto em atletas da posição. O Fortaleza tem, ao longo de sua história, a capacidade de produzir bons goleiros que, naturalmente, pelas conquistas, conquistam espaço de carinho entre os torcedores. Albérico fez parte da história do Tricolor de Aço e é considerado um xodó do clube, com contribuições em momentos importantes do time.

Foram três temporadas no Fortaleza e, entre conquistas de acesso e títulos estaduais, se identificou com o clube e com os companheiros, especialmente o goleiro Bosco, ídolo à época. A chegada ao clube, aliás, foi bem curiosa, como o próprio Albérico explica.

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"É uma história engraçada. O professor Givanildo Oliveira tinha me indicado do Ríver do Piauí, em 2003. Ele ligou e perguntou onde eu estava. Disse que o treinador Mirandinha precisava de um goleiro lá. Acabei indo jogar no Piauí. No final do ano, o Givanildo me ligou novamente e me chamou para o Fortaleza. Fiquei muito feliz. Oportunidade de jogar em um grande clube, de cenário nacional. Fiquei pensando... imagina se eu não aceitasse ir para o River naquele momento? Ele jamais teria me chamado para jogar no Fortaleza", relembrou Albérico.

Mundo do crime ao lado

Natural de Pernambuco, de origem humilde, o ex-goleiro entra nas estatística de atletas que tiveram a vida mudada pelo futebol. Eram dois caminhos que flertavam entre a infância e a adolescência. O correto e, infelizmente, o mundo do crime.

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Legenda: Goleiro Albérico defendendo as cores do Tricolor em 2005
Foto: Agência Diário

"Confesso a você que eu não queria nada com os estudos e dava muito trabalho aos meus pais. Sendo sincero, eu era cercado por pessoas que eram marginais, matadores, traficantes. Eu me lembro certa vez... Tinha uma praça chamada 'Boco Moco', que ficou conhecida por ser uma praça onde a gente dançava quadrilha e nessa praça a gente jogava futebol. Muitas vezes os matadores de aluguel chegavam nessa praça para jogar. Pegavam as armas, enrolavam na camisa e colocavam de lado na quadra. Os meninos que jogavam na hora, saíam e subiam na arquibancada, tudo quietinho. Eles sempre pediam um menino pra jogar no gol. Quando eles perguntavam quem jogava, todo mundo apontava pra mim e eles chamavam. Como eu ia negar? E meu pai observando essa ligação se formar, me incentivou a ficar dentro de um clube. A chegada ao Sport transformou, mudou a minha vida"

Pênalti de Rogério Ceni

O grande momento na carreira do goleiro Albérico, na passagem pelo Fortaleza, foi o pênalti defendido em cobrança de Ceni, em pleno Morumbi e o que garantiria a vitória do tricolor paulista naquele momento. O tricolor vivia uma turbulência em campo no ano de 2006. Com a saída de Bosco, o Fortaleza teve no elenco o ex-goleiro Márcio, Edson Bastos e Maizena. Mas no momento em que mais um goleiro foi exigido, Albérico foi o titular, depois de alguns anos sendo reposição, e correspondeu em campo.

"Eu passei a me concentrar ainda mais sendo titular e tentar premeditar as jogadas, de maneira segura e correta. É inegável dizer que esse jogo contra o São Paulo foi o mais inesquecível. No momento de concentração, sozinho, eu ficava no quarto pensando, analisando tudo que poderia acontecer. Qualquer atleta que pense no jogo, ele tenta premeditar situações de jogo que poderiam acontecer, é uma maneira de se preparar da melhor forma, comentou.

Após a partida, Rogério Ceni disse que bateu mal o pênalti, mas Albérico teve méritos para evitar o gol. "O que eu vou falar é algo para quem acredita. No momento de concentração, lá no quarto do hotel, sei que algumas pessoas não acreditam, mas eu ouvi Deus falar ao meu coração que teria um pênalti e seria batido no lado direito. Então fiquei pensativo: 'Caramba! A situação já não tá boa para o Fortaleza e ainda vai ter pênalti?' No momento que aconteceu, eu ouvi de novo do meu coração que seria no lado direito. Quando Rogério foi pra bola, é algo inacreditável. E antes, ele bateu quatro faltas em direção à forquilha e eu fui buscar todas. Então, na hora do pênalti, esperei ao máximo para sair rápido para o canto direito. Fui, peguei o pênalti e exaltei a Deus. Foi muito bom, o jogo marcou minha história. William Bonner até falou: Albérico! Você pode até esquecer esse nome, mas a torcida do São Paulo provavelmente não", recordou com nostalgia Albérico.

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