Artilheiro do Fortaleza nos anos 90, Sandro Gaúcho revela amor pelo Tricolor; ouça entrevista

Maior artilheiro de uma edição do Cearense, ele coleciona saudades, bons momentos pelo tricolor e se declara ao clube. Confira o Bate-Papo com os Craques

Legenda: Sandro Gaúcho exibe tatuagem de Leão
Foto: Acervo Pessoal/Verminosos por Futebol

Em épocas que o futebol moderno prefere valorizar um camisa nove "tático" ao invés de valorizar o nove, de fato, goleador e com faro de gol, o saudosismo bate forte em um passado recente na construção de alguns ídolos, que mesmo em épocas tão difíceis do clube, conseguiram destaque e respaldo. Sandro Gaúcho é um daqueles centroavantes "raiz", em que uma oportunidade é o suficiente para colocar a bola na rede. 

O típico camisa nove goleador, Campeonato Cearense de 1997, Sandro foi o artilheiro com 39 gols em 44 jogos. Marca distante de ser alcançada no cenário atual.

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"Estar no Fortaleza em 97 até os anos 2000, eu posso dizer que realizei o sonho de ser jogador de futebol. A minha referência no Futebol é o Fortaleza. Eu respeito todos que passaram pelo clube, mas até o momento, não existe uma média de gols igual a minha marca no clube. Tem muitos atletas que têm mais gols que eu, mas não em média. Todos que honraram a camisa do Fortaleza não são diferentes de mim, pois são grandes ídolos. É uma alegria imensa observar onde hoje ele chegou e o respeito que adquiriu a nível nacional", conta Sandro.

Ouça a entrevista completa

Como muitas histórias de jogadores, Sandro passou por dificuldade, natural de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, o artilheiro começou a trabalhar aos dez anos e inclusive ganhou o apelido na época de "cabeça de porco".

"Vou te falar uma coisa que muita gente dá risada. Meu apelido quando eu era pequeno, era cabeça de porco. Meu tio tinha um matadouro de porco, ali a gente trabalhava, matava ali de cinco a dez porcos por dia, naquele jeito bem rústico. Foi dos meus dez até os 15 anos fazendo isso, não foi numa vida muito fácil, já a gente vinha de um berço simples e família de oito irmãos e aprendi desde cedo que trabalhar honrava a pessoa e também para sustentar a família junto", revela Sandro.

Contratação feita por um "orelhão"

No final da década de 90, a comunicação não era tão fácil como hoje tem whatsapp e outras redes sociais disponíveis e fácil acesso. Até o uso de celular era algo sofisticado para época, não havia telefone residencial. E através de amigos, conseguiram o telefone do "orelhão" próximo a casa do Sandro.

"Em dezembro de 96, tinha acabado a temporada e a gente ainda estava estudando como iria fazer e decidir o futuro e onde jogar. Naquela época, jogador de terceira era jogador de terceira, de segunda era de segunda, não tinha esse olhar mais atento para divisões inferiores. Um jogador da Série C dificilmente jogava uma primeira divisão. Nós não tínhamos telefone celular e residencial, então através de amigos, conseguiram o número de um orelhão perto da minha casa, ligaram, não foi comigo. E depois de quatro ou cinco ligações, um atendia, vizinho que passava na rua e assim chegou informação até mim. Falei na época com Osvaldo Azim, conversa bem curta e grossa já perguntando 'tu faz gol né? Quer vir jogar Fortaleza? Aqui é time grande e tu vai ganhar projeção nacional'. Aceitei na hora." 

Artilharia máxima do estadual

Nenhum outro jogador do futebol cearense, por clube, na história do nosso estadual fez tantos gols quanto Sandro pelo Fortaleza em uma única edição. Sandro fazia dupla com Frank, o principal garçom do artilheiro que terminou o estadual de 97 com 39 gols, mas perdeu o título para o Ceará.

"O entrosamento comigo e o Frank foi tão grande, que a gente nunca tinha se batido no Rio Grande do Sul, a gente nem se conhecia e viajamos no mesmo voo, poltrona, um do lado do outro e deu certo essa dupla de sucesso. Lembro que teve um comentário de um colega jornalista de vocês, após um amistoso contra o América de Natal no PV, eu que fiz o gol. E esse cara falou assim: 'que o ataque do Fortaleza colocasse no liquidificador não dava um jogador'. Foi torturante, cara! Mas conseguimos mostrar o contrário, o Ceará com Nildo no ataque, consagrado e o Fortaleza com um ataque desconhecido. A camisa do Fortaleza cai em mim como uma luvas. Só não foi um glamour total porque não teve o título onde perdemos na prorrogação e no último minuto". 

Leão tatuado em homenagem ao clube

Sandro é tão grato ao Fortaleza, torce tanto à distância, que tatuou um leão no braço com demonstração máxima de amor ao clube.

"Tu sair de um clube, depois de quatro anos, abrir mão de tudo como eu abri e nunca nem pensei e especulei, mesmo com pessoas de dentro do próprio Fortaleza me dando sugestões para entrar na justiça contra o clube. Nunca nem pensei em fazer isso, sei que perdi muitos dos meus direitos... todos, na verdade. Pelo amor que eu tinha pelo Fortaleza e achando que sempre ia mudar nos anos seguintes e as pessoas que iriam chegar, dariam valor merecido a gente merecido na época, mas não aconteceu. A prova tá nisso, eu carrego um leão no meu corpo e o principal de todos é no meu coração. Uso camisas do Fortaleza, falo do Fortaleza bem. O Fortaleza é representado por mim no Rio Grande do Sul." 

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