Xerife do Ceará em 2009, Fabrício relembra glórias no Vovô; ouça o Bate-Papo com os Craques

Capitão foi titular em anos vitoriosos de 2009 e 2010. Mas em 2011, o zagueiro atribui como principal fator da queda o treinador Vagner Mancini

Legenda: Zagueiro Fabrício, autor de um dos gols, comemora com os companheiros o acesso que estava próximo.
Foto: Foto: Kiko Silva

A história de um clube se confunde com a consolidação da imagem de um ou mais ídolos marcantes.  Em 2008, chegou um cara que se tornaria capitão do Ceará, fundamental nas campanhas de 2009 no acesso para Série A e a consolidação em 2010. Fabrício era sinônimo de raça, entrega e dedicação ao alvinegro, desde o pior momento até o crescimento do clube.

"Eu estava no América de Natal em 2008, joguei o estadual, mas como o time era formado por um grupo de empresários, onde cada um queria colocar seu jogador, acabei saindo. E o Ceará me fez o convite, conversei com Cleisson, com quem joguei no Gama e o goleiro Marcelo Bonan, que a gente tinha o mesmo empresário. Curioso é que lá na tv de Natal passava direto os tumultos de greves do Ceará, salários atrasados, pressão na diretoria, torcida invadindo. Liguei logo pro Cleisson que me falou de um novo projeto que o Evandro Leitão era um cara sério, então rescindi com América e fui para o Ceará."
Fabrício
Ex-zagueiro do Ceará

Fabrício chegou para Série B de 2008 com o Ceará e, na época, o Alvinegro carregava alguns problemas defensivos e a chegada do capitão foi fundamental. Desde que conquistou a titularidade, não saiu mais.

"Cheguei ao Ceará com a Série B em andamento, treinei uma semana e o Lula já me levou no banco contra o Corinthians, foi um jogaço, um dois a dois. No jogo seguinte, contra o São Caetano, já fui titular e ganhamos de um a zero. Desde então nunca mais saí da titularidade. Em 2008 cumprimos o objetivo do Evandro que era não cair."

Legenda: Jorge Henrique, Wellington Amorim e Mota celebram o primeiro gol do time alvinegro, em pleno Maracanã, durante a campanha de 2009
Foto: Foto: Futura Press

Acesso e gol na Ponte Preta

Fundamental e essencial na campanha do acesso em 2009 pelo Ceará, Fabrício ficou marcado pelo gol diante da Ponte Preta, na penúltima rodada da Série B, que consolidou a trajetória do alvinegro para primeira divisão, escrevendo o nome do capitão e xerife na história do clube.

"Eu joguei futebol profissional durante 18 anos e nunca participei de um grupo tão espetacular como esse de 2009. Até hoje a gente tem um grupo no whatsapp, onde brincamos e trocamos aquela resenha entre a gente. Perdemos para o maior rival e começamos mal a Série B. Jogávamos bem, mas não conseguia ganhar. O PC chegou e foi quem mudou a mentalidade da diretoria, esquecer do passado e buscar coisas grandes no futebol. Esse jogo da Ponte Preta marcou não apenas a minha passagem, mas todo o elenco, que se entregou de coração ao clube e teve aquela recepção no aeroporto inesquecível".

Primeiro ano na Série A

Após o primeiro turno do estadual abaixo, o Ceará montou a base vitoriosa da campanha na Série B e pelo primeiro ano em alto nível, vários jogadores daquele elenco disputavam a Série A pela primeira vez, inclusive Fabrício.

"Muda tudo, cara! A Série A é que nem fala o Bruno Henrique 'ôto patamar'. O nível técnico é elevado demais em relação a Série B, a preparação é outra, você vai enfrentar os melhores do Brasil. Nós enfrentamos Ronaldinho Gaúcho, Neymar, o Kleber Gladiador, que pra mim, foi o mais difícil de marcar. 

Série A de 2011 e a culpa de Mancini

Financeiramente, após a grande Série A de 2010, o Ceará entrava mais forte no mercado para buscar a consolidação na Série A, mantendo a base de 2009 e 2010, além de elevar o nível das contratações. Foi campeão estadual, semifinalista na Copa do Brasil, mas acabou rebaixado. E há um grande culpado nisso: Vagner Mancini.

"Alguns me consideram polêmico por eu ser verdadeiro demais. O principal fator para nossa queda com certeza foi o Mancini. Ele desestruturou nosso time e tirou a base do nosso time para colocar jogadores que ele e o empresário dele trouxeram para o clube. E jogadores que não tinham comprometimento, prefiro nem citar nomes porque tem alguns que ainda estão em atividade. Chegou ao ponto de o jogador chegar um dia antes da viagem de uma semifinal de Copa do Brasil, o jogador chegar embriagado para treinar e ainda ser relacionado para partida. Ele sempre levava um a mais, porque teria que cortar um da relação. Ele me coloca o jogador no banco e corta o Geraldo que era o nosso maior ídolo".

Fabrício sempre teve a característica de liderança dentro do grupo ao lado do Geraldo. Chegando a declarar em público que era contra a saída do ídolo Geraldo, o que gerou um desgaste interno e consequentemente a saída do ídolo e capitão.

"Foi um dos fatores que culminaram na minha saída do Ceará. Chega a um ponto que a gente fica sobrecarregado, principalmente por ser uma liderança. E a gente ali, que estava há muito tempo no clube e viveu todo processo de crescimento. Então a cobrança era muito grande e desde que cheguei ao clube em 2008 eu só fazia contrato de um ano. Fiz o primeiro mais longo em 2010 de dois anos e acabei não cumprindo".

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