Placas solares são utilizadas como alternativa na produção familiar

O projeto de implantação da energia limpa é financiado pelo Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar, da SDA. Neste ano, 40 produtores já foram contemplados com a instalação de Unidades de Geração

Escrito por Redação , regiao@svm.com.br
Legenda: Os projetos são financiados pelo Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar, da SDA
Foto: FOTO: AÉCIO SANTIAGO

O ano de 2019 pode terminar como um dos mais quentes da história do planeta. As altas temperaturas castigam, também, o Ceará. Porém, do Sol que maltrata o agricultor, é possível desenvolver ideias inovadoras para o consumo sustentável. Transformando os desafios impostos pela convivência com o semiárido em oportunidades de fomentar métodos sustentáveis de captação de energia limpa, produtores familiares estão utilizando tecnologia para aproveitar o potencial solar.

Em uma pequena propriedade no Sítio Coruja, no Crato, foram instalados, no início deste ano, 12 painéis solares. O produtor Francisco Eufrásio, utiliza energia produzida a partir do Sol, considerada limpa, para abastecer dois tanques de criação de tilápia, além de fornecer a energia que alimenta sua residência. "Nossa conta está vindo até com saldo positivo, já que a gente não utiliza toda a energia aqui no sítio", conta.

Os painéis conseguem captar cerca de 600 Kw por mês, capacidade mais que suficiente para atender à demanda da família do produtor. "A gente usa nos tanques, no congelador, na casa toda. Como nós não temos como gastar tudo, eu ainda tenho a opção de botar essa energia em uma outra casa", explica Eufrásio, que arrecada a principal parte da renda mensal da venda de hortaliças orgânicas na Feira de Produtos da Agricultura Familiar (Fepaf), no Crato.

A mentalidade sustentável vai além da fonte de energia. Ela se estende para o resto da produção, já que a água que rega as hortaliças é reutilizada dos tanques de tilápia.

Problemas

Em Quixeré, município da região do Jaguaribe, que registrou a maior temperatura do País em pelo menos quatro ocasiões neste ano, mora Francisco José de Sousa Lima, conhecido popularmente como Zé de Diquinha. O agricultor foi um dos pioneiros a trabalhar com energia renovável no âmbito da agricultura familiar no Ceará. Ele teve a ideia de instalar 20 painéis fotovoltaicos em sua propriedade, no Sítio Lagoa da Casca.

A ideia surgiu há cerca de quatro anos, após a apresentação do projeto por técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce).

A ideia, que chegou a possibilitar uma economia de R$ 300, porém, acabou se transformando em "dor de cabeça", segundo ele. "Eu tenho o medidor, que faz a leitura do que eu gero, e mando essa energia para a Enel, que teria que me pagar em créditos. Porém, de uns anos para cá, eu não estou tendo esse retorno. No começo eles estavam me repassando, mas aí parou", lamenta Zé de Diquinha.

Com isso, ele conta que não consegue suprir o valor das parcelas do projeto. "Investi R$ 50 mil, para ser pago em oito anos. Algumas parcelas já venceram e eu não consigo pagar, não tenho de onde tirar. Para mim, não está mais compensando por causa desse problema", lamentou, embora reconheça a importância de utilizar energias limpas. "A nossa região tem Sol o tempo todo. É uma boa iniciativa, o problema está nesse repasse".

A reportagem entrou em contato com a Enel Distribuidora, empresa responsável por fazer o repasse dos valores, mas até o fechamento desta edição, os questionamentos não foram respondidos.

Incentivo

Marco Aurelio, secretário executivo do Fundo, aponta que o Ceará tem "grande potencial" para geração de energia solar. "O Estado possui maior incidência de luminosidade, propícia para geração dessa energia. Nos últimos anos, a agricultura familiar vem buscando cada vez mais essa possibilidade, que hoje é viabilizada pelo Fedaf", aponta o representante. Ao todo, 40 projetos destinados à instalação de Unidades para Geração de Energia Solar foram aprovados no Ceará em 2019.

O dinheiro aplicado até novembro deste ano chega a quase R$ 3 milhões, usado para o financiamento de atividades como agricultura irrigada, geração de Energia Solar, piscicultura, apicultura, dentre outras. Para os próximos anos, o setor deve receber um incremento de 240 milhões.