Qualquer mudança de isolamento contra o coronavírus requer prudência, explica infectologista

Em meio à pressão para reabertura do comércio, governo estadual prorroga em sete dias o decreto que fecha estabelecimentos e mantém apenas serviços essenciais. A indicação a ser seguida no período é continuar em casa

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Legenda: Com 4 mortes e 322 casos até sábado (29), Ceará aposta no isolamento social
Foto: Thiago Gadelha

O decreto estadual que fecha estabelecimentos e mantém apenas os serviços essenciais funcionando no Ceará foi prorrogado por mais uma semana. O Estado registrou mais uma morte decorrente do novo coronavirus, no sábado (28). Com isso, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) aponta 322 casos confirmados e o total de quatro óbitos.

Após anunciar a prorrogação via “live” nas redes sociais, o governador Camilo Santana reafirmou a urgência do isolamento social no combate à Covid-19. Estender a quarentena visa amenizar a curva de contaminação no Ceará, considerada muito alta e com série de registros confirmados em um curto intervalo de tempo.

A decisão acontece em meio a pressão de setores da sociedade pela reabertura do comércio. Ao longo da última semana, o Governo Federal criticou a decisão de governadores e prefeitos de fechar o comércio. Em choque, estão diferentes forma de lidar com a pandemia. O presidente Jair Bolsonaro defende a prática do “isolamento vertical”.

Essa medida abrange somente as pessoas que se encontram no grupo de risco, como idosos e portadores de doenças crônicas. O resto da população poderia retomar o cotidiano e voltar ao trabalho. Esse processo contraria o protocolo de atuação do Ministério da Saúde, responsável pela política pública federal relação à enfermidade.

Em coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (25), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, citou o Ceará como exemplo de combate à disseminação. Após 14 dias da confirmação do primeiro caso, o Estado se mantém no terceiro lugar do País em número de diagnósticos da Covid-19. Dados do Ministério apontam São Paulo com maior número de casos (1.406 pessoas infectadas) e Rio de Janeiro (558) em segundo lugar.

Para o infectologista Anastácio Queiroz, é preciso ter total atenção à movimentação da doença na próxima semana. O especialista reforça o caráter único da infecção e alerta para a rapidez que o vírus ataca. A situação é complexa, afirma. “Parte da população pode não ter sintoma nenhum, porém, essas pessoas podem transmitir a doença”, detalha.

Cuidado

Anastácio Queiroz atenta para o cuidado em qualquer mudança no tocante à condução da quarentena. “Se existir alguma flexibilização, ela tem que ser muito criteriosa e tem que ser devagar. Não é abrir de qualquer jeito. É preciso conversar com as lideranças do comércio. Eles precisam fazer os trabalhadores agirem de uma maneira que eles não se contaminem e nem contaminem outras pessoas. Requer a prudência, organização, planejamento e muita responsabilização de todos”, argumenta.

Alerta

O último levantamento por faixas etárias da população, disponibilizado pelo Ministério da Saúde, aponta que a mortes de menores de 60 anos representa 10% do total no Brasil. Dos 391 casos graves, 188 (ou 48%) eram de jovens e adultos. Anastácio Queiroz observa que flexibilizar o isolamento exige um eficiente número de testes disponíveis na rede de saúde.

“Não temos condição de testar muita gente. Temos uma população que mora na periferia e não sabemos o que vai acontecer. Moram seis pessoas, pai, mãe, avô, criança, todos em uma casa só. É muito complexo. Não tem como se isolar”, defende o médico.

Considerado um dos institutos de pesquisa mais respeitados do mundo, o Imperial College, de Londres, divulgou, esta semana, estudo assinado por cerca de 50 cientistas. A análise aponta que a rápida adoção de medidas podem conter a pandemia.

A instituição britânica projeta possíveis cenários de evolução da pandemia de Covid-19 no Brasil. Isolar só idosos, como sugere Bolsonaro, poderia acarretar o óbito superior a 529 mil pessoas. Ficar em casa, segundo o infectologista cearense, segue primordial.

Qualquer mudança de isolamento requer prudência. “É preciso ver o pior cenário antes de ver o melhor cenário. Abrindo ou fechando, todo mundo vai sofrer muito. A doença é muito grave”, finaliza o médico.

Legenda: Estudo compara possíveis cenários de evolução do novo coronavírus

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