Em dia de recorde de casos no Ceará, periferia tem maior letalidade

Em apenas 24 horas, Estado contabilizou 216 confirmações, o maior número da série histórica; no mesmo dia, Prefeitura divulgou bairros que concentram as maiores letalidades: Barra do Ceará e Jangurussu preocupam autoridades

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Moradores da Barra do Ceará mantêm rotina social, bairro com seis óbitos registrados
Foto: Foto: Camila Lima

No dia em que o Ceará registrou o maior número de casos confirmados da série histórica (216 em apenas 24 horas), a Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS) divulgou o primeiro boletim sobre o avanço do coronavírus na Capital. De acordo com a Pasta, a Barra do Ceará já apresentou seis óbitos das 21 confirmações da Covid-19 atestadas pelas autoridades sanitárias; só nessa localidade, segundo o documento, a taxa de letalidade da doença é de quase 30%.

Conforme o boletim, a disseminação viral pela cidade parece se estender cada vez mais, com óbitos pela infecção sendo registrados em, pelo menos, 51 localidades de Fortaleza, mas presentes em todas as regionais. O avanço se dá em um contexto no qual, em menos de 24 horas, o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, pintou um cenário de elevada preocupação para a Capital no mês de maio.

"Nós estamos estimando que vamos ter algo em torno de 250 mortos em Fortaleza, por dia, a partir do início de maio", disse o secretário durante uma reunião remota e privada com diretores do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), na noite dessa terça-feira (14). O áudio foi vazado para a imprensa no mesmo dia. Durante toda a quarta-feira (15), nem o governador Camilo Santana, nem o secretário da Saúde se manifestaram sobre a estimativa.

Contudo, no fim da noite, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) divulgou um documento que analisa modelos da evolução da infecção no Ceará que atesta a fala do gestor.

Até domingo

Na mesma gravação, Cabeto afirma que o estoque de equipamentos de proteção individual (EPIs) para profissionais da saúde só deve durar até o domingo (19), e não há perspectiva da compra de leitos privados de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), nem da chegada de 200 novos respiradores importados da China. "Soube que não vou receber nenhum", frisou.

"Estou escrevendo ao ministro (da Saúde) que o sistema de saúde do Ceará colapsou", resumiu o secretário durante a reunião. Ele ainda afirmou que o sistema público não possui mais UTIs disponíveis para novas hospitalizações e que já estão ocorrendo mortes de "pessoas não entubadas". A previsão do gestor é de que a taxa de letalidade da Covid - hoje em 5,4% - suba para 10% já na próxima semana. "Não dá pra eu fingir que não existe esse panorama. As pessoas vão viver momentos muito difíceis", alertou Dr. Cabeto, durante a reunião.

Os bairros

Além da Barra do Ceará, que possui alta taxa de letalidade, se comparada à do Estado como um todo, o boletim da Secretaria Municipal alerta para o Grande Jangurussu, no qual já foram contabilizados três óbitos dos 14 casos confirmados. De acordo com a Célula da Vigilância Epidemiológica de Fortaleza, a morte pela doença é um demarcador importante de circulação viral, que pode indicar um número superior de confirmações na região em questão.

No informe da Prefeitura, também aparecem com destaque (no quesito óbitos) bairros como Aldeota, Fátima, Vicente Pinzón, Cristo Redentor e Prefeito José Walter, de acordo com o mapa ao lado. Conforme o documento, há casos confirmados em 117 dos 121 bairros de Fortaleza. Só não houve registro ainda em cinco: Moura Brasil, Conjunto Esperança, São Bento, Ancuri e Sabiaguaba.

Leitos municipais

A Secretaria da Saúde do Município tem corrido contra o tempo para ampliar a quantidade de leitos para atender a pacientes com a Covid-19. Desde o início de abril, foram abertos 100 leitos de observação em quatro das seis Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) municipais, localizadas, principalmente, em bairros da periferia. Ainda nesta semana, devem ser inaugurados mais 40 novos leitos na UPA do Itaperi, conforme anunciou a Prefeitura.

"Os novos leitos irão atender especificamente pacientes com quadro gripal de baixa e média complexidade, com sintomas e quadros virais sugestivos do novo coronavírus. A ideia é diminuir o risco de contaminação hospitalar no ambiente das UPAs, já que os leitos de observação ficam em anexos, separados", destaca a SMS, reforçando que serão atendidas pessoas com procura espontânea ou encaminhadas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Trinta novos leitos também foram abertos no Instituto Dr. José Frota 2 (IJF2) e já estão em funcionamento. A previsão é expandir para 175 até o fim de maio. Nos planos de suporte aos pacientes, estão os 204 novos leitos em construção do hospital emergencial no Estádio Presidente Vargas, no Benfica, que devem ser entregues no dia 20 de abril. Segundo a Prefeitura, lá serão acolhidos pacientes de baixa e média complexidade diagnosticados com a infecção.

Leitos estaduais

O governador Camilo Santana informou, ontem, em transmissão ao vivo pelas redes sociais que o Estado já adquiriu 169 leitos de UTI novos nas últimas três semanas.A meta é atingir 609. "Um dos principais equipamentos que precisamos para atender aos pacientes graves com coronavírus é a UTI, é respirador, e estamos tentando comprar em todos os cantos e estamos fazendo de tudo para ampliar o número de UTIs, mas temos uma grande dificuldade", explicou.

Na mesma transmissão, o governador anunciou que o Estado irá reabrir e assumir o gerenciamento das atividades do antigo Hospital Batista, no bairro Aldeota. A unidade hospitalar será mais um local dedicado ao atendimento de casos da Covid-19 na Capital. A unidade, que passará a atender pelo Sistema Único de Saúde (SUS), deverá ter 131 leitos, incluindo 7 UTIs.

Até 373 leitos de UTI seriam necessários na próxima semana

Documento divulgado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), que estuda os modelos das curvas de evolução da Covid-19 nos Estados Unidos e na Itália, aponta que, até o dia 23 de abril, 373 leitos de UTI seriam necessários no Estado. A projeção considera que 10% dos pacientes com a doença sejam internados em Unidades de Terapia Intensiva, dentro da previsão de 3.734 casos. Em um cenário mais otimista, com 5%, seriam 186 leitos de UTI demandados.

Segundo a estimativa, ainda para o dia 23, 746 pessoas estariam ocupando leitos de enfermaria, correspondente a 20% do total de confirmações.

Em relação aos óbitos, a pesquisa utilizou uma metodologia chamada Filtro de Kalman, valendo-se de dados dos óbitos do Ceará, do Brasil e dos países em questão. As nações foram escolhidas de acordo com o número de dias no enfrentamento da epidemia e, segundo a Sesa, o mesmo tipo de abordagem foi utilizado em outros contextos epidêmicos, como os de Sars e da Influenza.No gráfico utilizado para projeção do modelo dos Estados Unidos, entre os dias 4 e 5 de maio, poderão ocorrer, apenas no Ceará, 279 óbitos em razão da Covid-19. A previsão é de que neste dia, o Estado já contabilize 1.865 falecimentos pela infecção.

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